Turismo

Janelas de prospecção revelam a história oculta da Estação Ferroviária de Moeda

Entre memória e futuro, o restauro resgata a identidade das cidades mineiras. Processo de restauração da estação ferroviária de 1919 traz à luz vestígios das cores originais da edificação.

Janelas de prospecção revelam a história oculta da Estação Ferroviária de Moeda -  (crédito: Uai Turismo)
Janelas de prospecção revelam a história oculta da Estação Ferroviária de Moeda - (crédito: Uai Turismo)
Janelas de prospecção revelam a história oculta da Estação Ferroviária de Moeda (Foto: Ane Souz)

És um senhor tão bonito, quanto a cara do meu filho,Tempo Tempo Tempo Tempo,vou te fazer um pedido, Tempo Tempo Tempo Tempo”! Em Oração ao Tempo, Caetano Veloso já evocava a importância e a função do tempo, que passa lentamente e por ele vamos vivendo, construindo nossas vidas, conhecendo e desvendando memórias de famílias, de monumentos, de lugares e sempre com muitas emoções.

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Nossa reflexão de hoje, trata de uma intervenção de restauro de um bem edificado de uso coletivo no município de Moeda em Minas Gerais, uma Estação Ferroviária.  

Moeda é um município de Mineiro, localizado em aproximadamente 60 km de Belo Horizonte e se destaca por sua paisagem de montanhas, seus atributos naturais, que proporciona o desenvolvimento de suas vocações também para o turismo. 

Para além das atividades do turismo, a economia da cidade é baseada na pecuária e no agronegócio, no entanto, a proximidade com a capital mineira, contribui para que o município tenha um pensamento moderno e desenvolvimentista, mas que reconhece a importância da trajetória histórica do seu desenvolvimento social e econômico e faz disso um atrativo para o aumento de fluxo.

O sugestivo nome de “Moeda”, segundo a história, nos remete ao período colonial, com uma fazenda chamada “Boa Memória”! Neste lugar, reza a lenda, falsificavam-se moedas e daí a origem ao nome da cidade. 

Como a maioria das cidades mineiras, a ferrovia teve um papel fundamental no processo de desenvolvimento. Em Moeda, a construção da ferrovia se deu em 1919, fato que impulsionou o desenvolvimento da região, com trabalhadores que se estabeleceram na área, criando o povoado de “São Caetano da Moeda Velha” e rapidamente se denominou Moeda. 

Valor histórico

Em Minas Gerais, leva-se muito em conta os aspectos histórico sociais e por isso, é natural que as comunidades percebam a importância das obras de restauração, do ímpeto de conservação e preservação do patrimônio histórico e a função social das edificações centenárias das cidades mineiras, que ajudam a contar a história local e o desenvolvimento urbano e social do próprio estado.

O restauro de um prédio antigo, muitas vezes visto apenas como uma obra de tijolos e cal, é, na verdade, um ato de respeito ao tempo e às memórias que moldaram a vida de uma comunidade.

Em Minas, cada parede de adobe, cada janela em madeira entalhada, cada telhado em telha canal guarda as marcas do desenvolvimento urbano e social que influenciam até hoje o comportamento dos mineiros. Restaurar um bem assim não significa apenas consertar rachaduras ou substituir peças danificadas, é, sobretudo, reatar laços com o passado, permitir que as novas gerações possam compreender a caminhada que trouxe a cidade até o presente.

Essas edificações centenárias cumprem um papel social essencial. Foram, ao longo do tempo, palcos de encontros, celebrações, decisões comunitárias e até mesmo silêncios coletivos.   

A preservação dos bens edificados, cumpre a função de preservar também, a materialidade do patrimônio, dar função de espaço vivo, que continua a servir à população e a nutrir a identidade cultural de um lugar.

As obras de restauração exigem mais que técnica; requer sensibilidade e formação especializada. Nesse sentido, as escolas de restauro ainda existentes no Brasil carregam um mérito imenso. São verdadeiras guardiãs do saber-fazer tradicional, formando profissionais capazes de compreender que conservar é equilibrar a autenticidade com a necessidade de uso, garantindo que o patrimônio histórico se mantenha útil e significativo.

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A intervenção em Moeda, portanto, simboliza mais que uma obra arquitetônica. É a expressão de um compromisso coletivo com a memória e com o futuro. Afinal, sem essas referências, as cidades perderiam parte de sua alma, e o cotidiano se tornaria mais pobre, desprovido das marcas que nos lembram quem fomos e quem ainda podemos ser.

Preservando a memória ferroviária de Moeda

A centenária Estação Ferroviária de Moeda, em Minas Gerais, está passando por um minucioso processo de restauração e revitalização. Construída em 1919, a edificação guarda em suas paredes fragmentos de mais de um século de história e parte desse passado está sendo revelado por meio de uma técnica especial: as janelas de prospecção.

Foto: Ane Souz

Esses pequenos recortes nas paredes permitem enxergar as diferentes camadas de pintura, revelando as transformações que o prédio sofreu ao longo das décadas. Cada tom e textura ajuda a contar um pedaço da trajetória da estação e das intervenções realizadas em diferentes períodos.

Segundo Gilson Martins, coordenador do projeto de restauração, o trabalho vai muito além da recuperação física do edifício. “Essas janelas funcionam como verdadeiras cápsulas do tempo. O mais bonito é que elas permanecerão abertas, protegidas por vidros, para que todos os visitantes possam observar de perto essas marcas do tempo”, explica.

No contexto do restauro, as janelas de prospecção têm função essencial: permitem identificar cores utilizadas ao longo da vida do edifício. Além de servir como guia para os profissionais, elas cumprem também um papel educativo, oferecendo ao público uma visão concreta da história material e artística do patrimônio.

A técnica foi decisiva no caso da Estação de Moeda. A equipe de conservação e restauro, coordenada pela especialista Maria da Conceição Coelho, formada pela Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), se deparou com um desafio: diversas camadas de repintura cobriam uma pintura antiga de grande valor histórico. “Abrimos várias janelas de prospecção e verificamos muitas perdas e lacunas irrecuperáveis”, relata Maria da Conceição. “Por isso, decidimos manter abertas algumas dessas janelas, uma em cada parede, para deixar à mostra a pintura que existia originalmente.”

Foto: Ane Souz

O processo inclui a remoção cuidadosa das repinturas, a refixação da pintura original e a reintegração pictórica das áreas preservadas. Cada janela receberá uma moldura, vidro de proteção e um texto explicativo, permitindo que o público compreenda a importância desse testemunho visual. “É uma forma de o visitante entender o que era antes”, completa Maria da Conceição. “Ao verem as janelas, todos saberão que aquelas pinturas pertencem a uma época talvez tão antiga quanto a própria construção da estação.”

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Para o prefeito de Moeda, Décio Lapa, as janelas de prospecção representam o elo entre o passado e o futuro do município. “A restauração da Estação de Moeda não é apenas uma obra física. É uma ação simbólica de preservação da nossa memória. Cada camada de tinta conta uma parte da história da cidade. Preservar essa herança é garantir que as próximas gerações tenham orgulho de suas raízes”, destaca o prefeito.

A restauração da Estação Ferroviária de Moeda é viabilizada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio da MRS Logística, gestão da Holofote Cultural, apoio da Prefeitura de Moeda e Invest Minas, com realização do Ministério da Cultura, do Governo Federal.

Sobre as intervenções

Foto: Ane Souz

O projeto contempla a restauração completa do complexo da Estação Ferroviária de Moeda, incluindo a revitalização de seu entorno. Estão sendo construídas uma lanchonete e um sanitário público seguindo o mesmo padrão arquitetônico da estação, garantindo acessibilidade plena, com rampas e infraestrutura adequada para pessoas com deficiência (PNE).

O espaço também contará com bancos e mesas para jogos de tabuleiro, criando áreas de convivência e lazer para a comunidade. Serão criados espaços destinados à realização de feiras de artesanato e agricultura familiar, incentivando o empreendedorismo local e a economia criativa.

Além disso, o projeto prevê o plantio de árvores frutíferas, como pitangueiras, aceroleiras e goiabeiras, além de espécies nativas da região, reforçando o compromisso com o paisagismo e a sustentabilidade.

Outro destaque é a restauração da Maria da Fonte e do antigo chafariz, elementos que preservam a memória e o patrimônio histórico do município. A história da estação faz parte da memória coletiva de Moeda, integrando o patrimônio ferroviário nacional e contribuindo para a identidade cultural de Minas Gerais e do Brasil.

No dia 12 de dezembro, data em que Moeda celebra 71 anos de emancipação, será realizada a reinauguração da Estação Ferroviária, um marco na história e na valorização do patrimônio da cidade.

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Pois é, Minas Gerais é assim! Olhamos e trabalhamos por um futuro sustentável, tecnológico, humanizado e promissor. Nosso cuidado com o passado é que nos diferencia. Sem nossas bases históricas, ficaria impossível construirmos uma identidade cultural potente e valorosa.

Fica aí o convite, venha para Minas Gerais e descubra os segredos que a história ainda não te contou! Venha viver essa emoção de perto!

E hoje, o agradecimento vai para o empreendedor cultural Gilson Martins, que tem uma atuação abrangente e cuidadosa junto a produção cultural em Minas Gerais. Agradecemos a sugestão da pauta!

Até a próxima!

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Uai Turismo
Ubiraney Silva - Uai Turismo
postado em 25/10/2025 06:16
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