
O mundo não para, as populações se movimentam dia e noite, fatos relevantes acontecendo pelo mundo, mas por aqui, a atenção está dedicada à COP 30, um evento, realmente significativo para todo o planeta.
Por isso, me interessei em fazer uma prospecção nos principais canais da imprensa nacional e internacional para tentar acompanhar, ainda que a distância, quais foram os principais avanços consolidados nestes longos dias de trabalho em Belém.
Vamos a eles, no que tange os interesses do Brasil, é notório, que a criação do fundo “Florestas Tropicais para Sempre” é um dos destaques. Esta é uma iniciativa brasileira, que visa a remuneração dos países, que preservam suas florestas, com apoio inicial da Alemanha, que já anunciou sua primeira volumosa doação.
Da mesma forma, os acordos em torno da meta Global de adaptação, com a lista dos indicadores que orientarão a medição dos avanços na resiliência climática. A proposta é que este cenário seja triplicado ao decorrer da próxima década.
O combate às “fake News” aparece no bojo das rodas de discussão e a declaração sobre integridade da informação climática tenha corpo e o compromisso de que as decisões serão baseadas na ciência e não em meras opiniões.
Como é de se esperar, nos eventos desta natureza, os impasses estão sempre presentes e na discussão sobre o financiamento trilionário e na transição energética, a COP 30 avança como um passo decisivo para a transformação das promessas em ações concretas.
Outro ponto, a declaração de Belém para a Industrialização Verde, propõe o alinhamento entre metas ambientais e geração de “empregos verdes”. Como não estive por lá, torço para que estas nomenclaturas sejam traduzidas posteriormente.
O Plano de Ação em Saúde, coloca sistemas de saúde, como o SUS, no centro da adaptação climática e isso é bastante relevante e deveria acontecer com outros segmentos também.
Já o debate sobre minerais críticos, recebeu pela primeira vez, um espaço que discutiu a origem dos minerais que sustentam a transição energética. A região Amazônica foi o melhor cenário para este contexto, já que, simboliza que a floresta, os povos e a biodiversidade da Amazônia são parte central da crise e da solução!
Amazônia no centro da discussão
No evento, a voz política do Brasil, enfatizou a necessidade de que sejam cumpridos os compromissos climáticos já assumidos, que seja fortalecida a governança global e as pessoas, sejam devidamente colocadas no centro das decisões relacionadas ao clima.
Tantos temas e tantas decisões e isto é apenas uma parte simbólica tamanha a extensão das pautas a serem tratadas. Que evento importante para o mundo, realmente admirável.
Em outra oportunidade, escrevi por aqui nesta coluna, sobre o histórico das últimas conferências globais e constatava, que apesar dos acordos firmados aos longos dos anos, as soluções concretas não eram rigorosamente alcançadas. Na maioria das vezes focava-se em novos acordos e sempre “abstratos”. Na COP 30, a ação agenda, com uma média de 30 metas, sugere a aceleração de soluções eficientes e concretas.
Uma COP é um evento tão intenso, que o mundo se organiza para discussão de pautas de interesse comum, com abrangências globais e as decisões do evento, balizam comportamentos e ajustes de rotas em toda a terra.
LEIA TAMBÉM: O amanhã que nos espreita, estamos prontos para sustentar?
Por exemplo, um ponto importante discutido em Belém, mas com um tom de polêmica segredada e ainda contestado, é o reconhecimento do papel dos povos indígenas, das comunidades locais e das periferias urbanas da Amazônia. Entendeu-se que é importante dar voz e protagonismo a esta camada social, mas por hora, figuram apenas como tema de discussão.
Outra questão aflitiva e de solução difícil para o mundo, é a constatação de que o ritmo atual da meta de limitar o aquecimento global a +1,5° C, não acompanha a evolução dos desafios percebidos. O que se comenta, é que acharam o caminho para isso, mas a velocidade empregada, segue equivocada.
No “frigir dos ovos”, a COP30 mostra, entre outras coisas, que o Brasil conseguiu colocar a Amazônia no centro da agenda climática mundial, não apenas como território a ser protegido, mas como espaço de inovação e liderança, no entanto, o desafio continua sendo transformar compromissos em recursos efetivos e garantir que a transição energética não repita desigualdades históricas.
O evento mundial, representa uma virada simbólica importante. Sediar a COP 30 em Belém e focar na Amazônia marca um avanço em termos de visibilidade e de realinhamento da agenda climática global para incluir justiça, natureza e povos diretamente afetados. Contudo, sabemos que o sucesso, na prática e à exemplo das COP’s passadas, ainda é incerto.
A sorte é que nem tudo está perdido, há quem diga que “ainda dá tempo”, mas será fundamental que todos os líderes e potências, tenham coragem, principalmente política, de financiar e implementar o que vem sendo acordado! Segundo os especialistas, o balanço do todo, é positivo, mas ainda aquém. Temos uma janela de oportunidades, se forem usadas com coragem, transparência e participação real!
Sustentabilidade e cultura
Diante de todo este cenário e com tanta informação na cabeça, como falo de cultura neste portal, julguei importante avaliar como a sustentabilidade pode conviver com a produção cultural e como o Brasil e o mundo, podem produzir manifestações culturais diversas, mais sustentáveis, politicamente corretas e isentas de tendências político partidárias, de intenções capciosas e oportunistas, principalmente considerando Belém e a região amazônica como sede do evento em 2025 e o significativo volume de manifestações culturais, que foram apresentadas por ali em diversas oportunidades nas duas últimas semanas.
Belém esteve ativa culturalmente como nunca! Entre plenárias e negociações, o que mais chamou a atenção não foram apenas os discursos técnicos, mas os sons, cores e ritmos que estiveram presentes em todos os cantos. O evento levou ao coração da Amazônia não só chefes de Estado e especialistas, mas mostrou espaço para artistas, para as comunidades tradicionais e para uma juventude, que pelo visto, transformaram o evento em uma celebração cultural.
Como geógrafo e como produtor e militante cultural, é muito bom perceber como a sustentabilidade encontra na cultura uma parceira natural. O carimbó, os hábitos indígenas, as performances urbanas, todas as manifestações carregam mensagens de permanência e de futuro.
A arte, quando livre de amarras e oportunismos, se apresenta como linguagem universal capaz de provocar uma sensibilização profunda. Ela traduz em emoção aquilo que entender, temos urgência em cuidar da Terra. É nela que vivemos.
O Brasil, com sua diversidade cultural, tem a chance de liderar este caminho, não apenas pela floresta que abriga, mas pela forma como transforma essa riqueza cultural em manifestações sustentáveis.
Pensem em um cenário, onde os festivais possam utilizar energia limpa, onde os cenários sejam construídos com materiais reciclados. Em muitos casos, isto já é realidade! Imaginem que ricos os figurinos que valorizem artesanato local sem agredir o meio ambiente. O mundo pode aprender muito com essa experiência! Cultura e sustentabilidade não são esferas separadas.
Fico imaginando que na região Amazônica, o palco da COP30, essa convivência se torna ainda mais simbólica. De longe fica a sensação de que cada manifestação cultural mostrada nas últimas semanas, tenha sido um lembrete de que proteger o planeta não é apenas uma questão técnica, mas estética, ética e espiritual.
Talvez seja justamente aí que reside a força da COP 30, mostrar que o futuro sustentável precisa ser também culturalmente vibrante, plural e livre de manipulações tendenciosas.
Se o evento em Belém conseguir inspirar políticas que unam sustentabilidade e cultura, o Brasil terá dado ao mundo não apenas um roteiro climático, mas uma narrativa viva de preservação da alma de uma nação inteira!
Produzir cultura em forma de teatro, música, dança, artes visuais, cinema, manifestações populares, em um contexto de sustentabilidade significa, respeitar os territórios, os povos e as histórias e isto é agir de maneira sustentável. A produção cultural deve ser fonte de reflexão, crítica, pertencimento e experimentação.
Acredito, que para que sejam produzidas manifestações culturais mais sustentáveis, mais inclusivas, equitativas, e livres de manipulações oportunistas, alguns pilares são bastante importantes.
A realidade nas propostas de inclusão, como dito acima, a materialidade consciente e sustentável, narrativas mais abrangentes e plurais com a sustentabilidade bem contextualizada, devem prezar pelos legados e pela continuidade dos processos em cada manifestação, fortalecendo as cadeias produtivas.
LEIA TAMBÉM: ‘Volunturismo consciente’: quando viajar é também transformar!
Para tanto, é fundamental, que o mercado funcione com transparência e compromisso, seja em termos de financiamento e de discursos, que a sustentabilidade se alie à cultura, mostrando caminhos concretos, indicadores, metas, tudo certinho, como se exige, por exemplo, em relação ao clima!
Para que a sustentabilidade conviva com a produção cultural e não fique à margem dela, precisamos entender que cultura é processo, e sustentabilidade também. Ambos exigem tempo, cuidado, participação, adaptação.
Pessoalmente, sempre vi o fazer cultural, como um elemento compatível com a natureza. Por meio da cultura, podemos sensibilizar, mobilizar, provocar mudanças, sem falar, que a sustentabilidade pode oferecer à cultura uma nova matéria-prima simbólica, novos públicos e novos modelos de economia criativa.
A COP30 deixa marcas que vão além das negociações formais, a conferência insinua novos caminhos, reacende a urgência e neste texto eu quis destacar o papel da cultura como ponte entre ciência e sociedade.
Se a produção cultural no Brasil souber transformar essa potência em eficiência, em breve seremos protagonistas de uma virada civilizatória. Fico na torcida para que possamos caminhar adiante com a coragem de fazer valer cada compromisso, cada acordo e doravante, cada manifestação cultural, como semente de um futuro verdadeiramente possível.
Até a próxima.
Siga o @portaluaiturismo no Instagram e no TikTok @uai.turismo

