Literatura

As casas de Pablo Neruda em Valparaíso, Santiago e Isla Negra

Embora tenham se tornado importantes pontos turísticos do Chile, turistas passam trabalho para visitá-las – e precisam de sorte para acessar o interior.

As casas de Pablo Neruda em Valparaíso, Santiago e Isla Negra -  (crédito: Uai Turismo)
As casas de Pablo Neruda em Valparaíso, Santiago e Isla Negra - (crédito: Uai Turismo)
As casas de Pablo Neruda em Valparaíso, Santiago e Isla Negra (Foto: Marcelo Spalding)

Pablo Neruda é sem dúvidas o escritor mais popular do Chile. Prêmio Nobel de Literatura em 1971 e protagonista indireto do oscarizado filme “O carteiro e o poeta”, há em seu nome hotéis, escolas, bibliotecas, centros culturais, ruas, e três das casas em que o autor viveu são hoje museus concorridos no país.

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La Sebastiana fica em Valparaíso e era a casa de lazer do poeta, uma casa colorida em um dos pontos mais altos da cidade, com uma vista impressionante para as casas, o porto, o mar, o sol. La Chascona é uma casa em Santiago construída por Neruda para sua então amante Matilde, que depois se tornou sua esposa – e mais tarde se tornaria, ela e a casa, símbolos da resistência à violenta, sangrenta e covarde ditadura chilena. Isla Negra é a casa-museu mais visitada, onde Neruda escreveu alguns dos seus livros mais importantes e onde ele e Matilde estão enterrados. A casa se tornou o principal ponto turístico da região, gerando uma pequena comunidade ao seu redor.

Apenas na casa de Valparaíso foi permitido fotografar o interior, uma medida antipática que talvez se justifique pelos exageros dos fazedores de selfie em todos os ângulos possíveis. Mas também não havia ninguém para inibir os que desrespeitam a regra – o que acaba dando mais raiva em quem segue a orientação.

Quarto do poeta na La Sebastiana, em Valparaíso (Foto: Marcelo Spalding)

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Conseguimos visitar duas das três casas, La Sebastiana e La Chascona. A terceira só conseguimos ver por fora. Tentamos ingressar duas vezes, mas depois de dirigir por quase duas horas de Santiago a Isla Negra, passando por estradas estreitas e de pista simples, nos deparamos com uma enorme quantidade de estudantes em uma interminável fila. Isso por volta das 11h. Fomos então almoçar e retornamos às 14h, mas enfrentamos o mesmo problema. Ainda uma fila desorganizada, informal, não se consegue sequer falar com alguém ou ter uma previsão.

Pátio da La Chascona, em Santiago (Foto: Marcelo Spalding)

É inadmissível que as casas não façam reservas, não agendem horário, não tenham dias especiais para grandes grupos (já que comportam poucas pessoas por vez). Isso que fomos em novembro, época de pouco turismo no Chile. Fico imaginando como seria no inverno, quando brasileiros lotam a capital em busca das neves de Farellones e Valle Nevado. Em tempos digitais, poderiam aprender só um pouquinho com o Musei Vaticano ou mesmo a pequena Casa di Giulietta, em Verona.

Também senti falta nas casas de mais poesia e, especialmente, de menção à sua  filha abandonada, Malva Marina Trinidad, uma omissão talvez proposital para evitar este lamentável episódio da vida do poeta.

Então talvez eu recomende, mais do que visitar as casas, ler Neruda. Sua história, suas memórias, sua poesia. Ainda assim, se estiver em Santiago, vale passar na La Chascona quando descer do funicular do Cerro San Cristóbal (não deixe de visitar também o Parque MET, reserve algumas horas para ele). E se estiver em Valparaíso e com muita disposição para subir grandes lombas, vá até a La Sebastiana porque pelo menos você vai acessar o pátio, a livraria e conferir a bela Praça dos Poetas.

Aí, se tiver sorte, até conseguirá comprar ingresso e visitar a casa. Que os responsáveis pela Fundação Pablo Neruda se modernizem e tratem os turistas, leitores e admiradores do poeta de forma mais respeitosa.

Pablo Neruda

Pablo Neruda nasceu em 1904 e foi um dos maiores poetas da língua espanhola e uma das figuras culturais mais influentes do século XX. Publicou seu primeiro livro aos 19 anos e alcançou fama internacional com Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada.  Além de escritor, Neruda teve uma carreira ativa como diplomata e senador, o que o levou a viver em diversos países.

Filiado ao Partido Comunista, tornou-se uma voz importante da esquerda latino-americana, chegando a ser perseguido e forçado ao exílio após criticar o governo de González Videla, vivendo forçadamente fora do país de 1948 a 1952. Depois voltou ao Chile, onde continuou escrevendo e se envolvendo na vida pública, especialmente como aliado de Salvador Allende.

Neruda recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971, tendo sido o segundo chileno a receber tal honraria – a também poeta Gabriela Mistral recebeu o prêmio em 1945, tendo sido a primeira pessoa latino-americana a receber a distinção.

Sua morte é envolta de mistério e controvérsia. Morreu em Santiago em setembro de 1973, poucos dias após o golpe militar, acusando estar sendo envenenado. Matilde Urrutia, sua esposa, e pessoas próximas relataram contradições no atendimento médico e comportamentos suspeitos no hospital, o que alimentou a hipótese de que Neruda poderia ter sido envenenado pelo regime militar de Pinochet. Em 2011, o motorista e assistente de Neruda, Manuel Araya, reforçou publicamente essa suspeita, alegando que o poeta teria recebido uma injeção não autorizada horas antes de morrer.

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A partir dessas denúncias, o corpo de Neruda foi exumado em 2013 para investigação. Embora os exames iniciais não tenham encontrado veneno evidente, análises posteriores identificaram uma bactéria potencialmente tóxica (Clostridium botulinum) em seus restos mortais — mas sem confirmação conclusiva de que ela tenha sido administrada com intenção de assassinato. Em 2023, um painel internacional de peritos afirmou que a bactéria presente não deveria estar no corpo, mas ainda assim não foi possível estabelecer com 100% de certeza que ela foi a causa da morte.

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Marcelo Spalding - Uai Turismo
postado em 05/12/2025 06:10
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