Ele ficou internado desde o dia 28 de julho no hospital Sírio Libânes, um dos mais importantes do país, para tratar de pneumonia. Vamos relembrar sua trajetória.
José Eugênio Soares descendia de uma família rica da Paraíba, mas nasceu no Rio de Janeiro. Seu pai foi um empresário bem sucedido, enquanto sua mãe era dona de casa. Jô era filho único e bisneto de Filipe José Pereira Leal, ex-governador do Espírito Santo.
Jô também foi sobrinho-bisneto de Francisco Camilo de Holanda, ex-governador da Paraíba (foto). O menino estudou em alguns dos mais renomados colégios e, sempre aplicado, ele se tornaria referência de homem culto.
Aos 12 anos, Jô mudou-se para a Suíça, onde ficou por alguns anos. Ele chegou à Europa querendo ser diplomata. Aprendeu cinco idiomas: inglês, espanhol, alemão, francês e italiano. Mas o interesse pelas artes falou mais alto.
Entre 1954 e 1955, ainda antes da maioridade, Jô participou de musicais no cinema. No ano seguinte, em 1956, ele estreou na televisão, no programa "Praça da Alegria", um humorístico na Record.
Jô atuou na emissora paulista até 1967. Ficou por três anos na TV Tupi, TV Continental e TV Rio. Jô tornou-se grande amigo de Carlos Alberto de Nóbrega, humorista e filho de Manoel de Nóbrega, um dos pioneiros da Praça da Alegria.
Em 1970, Jô chegou à Rede Globo, a maior emissora do país. Nos primeiros anos, comandou o "Faça Humor, Não Faça Guerra" e depois passou para o "Satiricom".
De 1981 a 1987, comandou o "Viva o Gordo", com esquetes e personagens feitos por ele mesmo. Entre eles, o hilário Capitão Gay, ao lado de Carlos Sueli (vivido pelo ator Eliezer Motta).
Um dos personagens mais divertidos era Bô Francineide, que fazia shows eróticos, sempre acompanhada da mãe, também assanhada (interpretada por Henriqueta Brieba). O bordão era: "E pensar que eu saí dela"(referência à baixa estatura da atriz).
Muitas gargalhadas também com o Reizinho, que tinha o bordão "Sois Rei? Sois Rei?". Seus personagens também eternizaram outros bordões como "É o meu jeitinho"; "Não quero meu nome em bocas de Matildes", "Cala a boca, Batista" e "Me Devolve pro Tubo".
Jô também foi comentarista no "Jornal da Globo e participou de especiais na emissora, antes de seguir para o SBT. Ele ficou na empresa de Silvio Santos entre 1988 e 1999, apresentando o "Onze e Meia". Com isso, realizou o objetivo de comandar um programa de entrevistas.
Uma das entrevistas mais importantes feitas por Jô no SBT foi com o cantor Tim Maia, que quase não falava com a mídia (foto).
Com o sucesso, a Globo convidou Jô para retornar à emissora. De 2000 a 2016, ele comandou "Programa do Jô", no mesmo modelo. Uma das entrevistas mais divertidas foi com Hebe Camargo, Lolita Rodrigues e Nair Bello (foto)
As famosas canecas do Jô faziam sucesso na mesa. Muitos convidados pediam para experimentar. O garçom Alex, que trabalhou durante anos com Jô, disse que o conteúdo variava: água, refrigerante, guaraná ou até sopa. Geralmente, água mesmo.
Ao sair do programa, anunciou a aposentadoria, mas ainda teve uma rápida participação como comentarista de futebol na Copa do Mundo de 2018, no canal por assinatura Fox Sports. Jô era notório torcedor do Fluminense.
Aliás, apaixonado por futebol, ele criou, durante a Copa do Mundo de 1982, o Zé da Galera, personagem que ligava para o técnico Telê Santana para dar pitacos. O bordão "Bota Ponta, Telê" ficou muito famoso.
Jô Soares também se dedicou à literatura. Escreveu seis livros. Na foto, "As Esganadas", sobre um assassino que só matava mulheres gordas.
Jô também lançou CDs de piadas e fez vários filmes no cinema, como ator ou diretor. Também se aventurou na música. Um de seus gêneros preferidos era o Jazz.
Jô Soares era um dos apresentadores de TV mais ricos e carismáticos do Brasil. Ele casou-se três vezes (Teresa Austregésilo, Silvia Bandeira e Flávia Junqueira). E teve só um filho, Rafael, que morreu de câncer em 2014.
No fim do programa, Jô sempre mandava "Um beijo do gordo". Essa tornou-se mais uma de suas marcas registradas.
Lázaro Ramos declarou que Jô era especial na bancada: "Um entrevistador raro. Eu falei de coisas que eu achava que minha timidez não permitiria. E isso era mérito dele".
Uma curiosidade: A carreira de Fábio Porchat começou após uma apresentação no Jô. Fábio, na plateia, pediu para fazer uma cena de humor, Jô permitiu e o elogiou. "Ele mudou a vida de muita gente não só com seu humor, mas por abrir portas", disse Porchat.
No programa, músicos acompanhavam o apresentador não só tocando, mas interagindo em momentos de humor. O saxofonista Derico (o quarto atrás de Jô na imagem) disse que ele foi "um pai".
Um momento triste foi a perda da mãe, Mercedes Leal Soares, aos 70 anos, atropelada por um taxista num dia chuvoso. Dez anos depois, o motorista encontrou Jô por acaso e confessou que não dormia bem desde o acidente, sentindo-se culpado. Ele pediu perdão e Jô concedeu, dizendo que o taxista não teve culpa.
O último programa de Jô foi exibido em 16/12/2016. Uma entrevista com o cartunista Ziraldo.
Devoto de Santa Rita, o apresentador, que não tinha herdeiros e possuía um grande patrimônio, deixou a maior parte de sua herança para a ex-mulher Flávia Pedras. Mas também contemplou os seus funcionários. Cada um recebeu um percentual como reconhecimento pelo companheirismo.