Educação

A evolução das enciclopédias: da era impressa à revolução digital


Ao longo da história, as enciclopédias representaram uma das mais ambiciosas tentativas humanas de reunir e organizar o conhecimento disponível.

Por Flipar
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Seu surgimento remonta à Antiguidade, quando pensadores gregos e romanos começaram a compilar tratados com saberes das mais diversas áreas, do direito à medicina, da filosofia às ciências naturais.

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O modelo de enciclopédia como hoje se conhece ganhou corpo no século 18. Denis Diderot e Jean le Rond d’Alembert organizaram a monumental Encyclopédie, publicada na França entre 1751 e 1772. A obra não apenas reuniu os saberes científico, técnico e cultural de maneira sistemática, como também simbolizou o espírito iluminista de valorização da razão e da disseminação do conhecimento. A iniciativa marcou a história editorial e estabeleceu um padrão para futuras coleções enciclopédicas.

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Nos séculos seguintes, diversas enciclopédias surgiram em diferentes países, acompanhando o avanço das ciências e das artes.

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A Encyclopaedia Britannica, lançada em 1768 na Escócia, tornou-se uma das mais prestigiadas e duradouras, atravessando mais de dois séculos como referência mundial.

A Encyclopaedia Britannica, lançada em 1768 - A história das enciclopédias - Imagem de Julia Schwab por Pixabay

Publicações semelhantes prosperaram em outras línguas e contextos, como a Enciclopedia Treccani na Itália e a Brockhaus na Alemanha.

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No Brasil, o fenômeno das enciclopédias se consolidou sobretudo a partir da segunda metade do século 20, quando possuir uma coleção em casa era sinal de status cultural e de investimento em educação.

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Entre as mais conhecidas está a Enciclopédia Barsa, lançada em 1964 e rapidamente difundida no país.

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O projeto da Enciclopédia Barsa tinha como diferencial a adaptação ao contexto latino-americano. Além de traduzir verbetes internacionais, incluía conteúdos específicos sobre história, geografia, literatura e cultura da região, algo pouco presente nas enciclopédias europeias e norte-americanas.

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A Barsa foi concebida com apoio da Encyclopaedia Britannica e de intelectuais brasileiros, marcando gerações de estudantes. Nos anos 1970 e 1980, tornou-se comum ver colecionadores de fascículos que, mais tarde encadernados, formavam volumes enciclopédicos.

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Além da Barsa, outras coleções marcaram época no Brasil, como a Enciclopédia Delta Larousse, publicada pela Editora Delta, e a Mirador Internacional, traduzida e adaptada para o público brasileiro a partir de uma versão espanhola.

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Essas obras, com seus múltiplos volumes, ilustrados e de linguagem acessível, se tornaram ferramentas de consulta para trabalhos escolares e fonte de aprendizado em um tempo em que a internet ainda era distante.

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Até o final do século 20, elas mantiveram um lugar central nas estantes de escolas, bibliotecas e residências.

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A virada ocorreu com a chegada da era digital e da internet. Nos anos 1990, as primeiras versões eletrônicas das grandes enciclopédias começaram a circular em CD-ROM. A Britannica, por exemplo, lançou sua versão digital em 1994, permitindo buscas mais rápidas e acesso a conteúdos multimídia.

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No Brasil, a própria Barsa ganhou versão digital em CD-ROM e, posteriormente, online, mas não conseguiu competir em escala global com as plataformas emergentes.

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O verdadeiro divisor de águas veio com a popularização da internet e o surgimento da Wikipédia, em 2001. Criada por Jimmy Wales e Larry Sanger, a plataforma colaborativa aberta permitiu que qualquer pessoa pudesse contribuir com artigos, transformando radicalmente a forma como o conhecimento era produzido, distribuído e consumido.

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A Wikipédia rapidamente se tornou a enciclopédia mais consultada do mundo, com milhões de verbetes em centenas de idiomas. Seu modelo descentralizado, dinâmico e gratuito desafiou a lógica das enciclopédias tradicionais, que se baseavam em equipes restritas de especialistas e na venda de volumes impressos.

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A Britannica, símbolo máximo da era clássica das enciclopédias, deixou de ser publicada em papel em 2012, apostando apenas em sua versão digital. No Brasil, a Barsa e outras enciclopédias físicas perderam força, permanecendo como relíquias de uma época em que o saber encadernado tinha peso literal e simbólico.

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A transição para o digital ampliou exponencialmente o acesso à informação. Nunca antes tantas pessoas, em diferentes partes do planeta, puderam consultar tão rapidamente conteúdos tão diversos.

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Ao mesmo tempo,isso trouxe novos desafios: a confiabilidade das informações, a curadoria dos conteúdos e a necessidade de desenvolver habilidades de leitura crítica diante de um oceano de dados disponíveis.

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Hoje, as enciclopédias impressas são lembradas com certa nostalgia, como símbolos de uma época em que o conhecimento estava concentrado em volumes físicos cuidadosamente organizados.

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Na era digital, sua essência sobrevive na forma de plataformas abertas, dinâmicas e em constante atualização, que refletem tanto as virtudes quanto as contradições do nosso tempo. A história das enciclopédias, portanto, é também a história da própria transformação da maneira como a humanidade organiza e compartilha o saber.

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