Sua origem remonta ao início do século 19, período em que as opções de leitura para cegos eram extremamente limitadas. Na época, a aprendizagem se restringia a livros com letras em relevo, volumosos, caros e difíceis de produzir.
Além disso, o método permitia que o leitor apenas reconhecesse palavras já impressas, mas não permitia a escrita independente, algo que inquietava profundamente o jovem Louis.
Louis Braille nasceu em 1809, na pequena cidade de Coupvray, perto de Paris. Aos três anos, sofreu um acidente na oficina de seu pai, um artesão de couro, perfurando o olho com uma ferramenta pontiaguda. A infecção se espalhou para o outro olho, e Louis ficou totalmente cego ainda na infância.
Determinado a estudar, ele foi aceito, aos dez anos, no Instituto Nacional de Jovens Cegos, em Paris, uma das primeiras instituições no mundo dedicadas à educação de crianças com deficiência visual.
Foi ali que ele teve os primeiros contatos com métodos de escrita tátil, embora rudimentares, e também onde descobriu a necessidade de um sistema mais eficiente.
A grande virada aconteceu quando Louis, já adolescente, conheceu o 'escrito noturno', um código criado por Charles Barbier. O militar havia desenvolvido um sistema em relevo composto por doze pontos, utilizado para transmitir mensagens silenciosas durante operações militares noturnas.
Louis Braille, então com apenas 15 anos, viu potencial naquele código e começou a estudá-lo profundamente. Convencido de que poderia aperfeiçoá-lo, passou a trabalhar em uma versão simplificada, ajustada à sensibilidade dos dedos e capaz de representar letras, números, música e símbolos diversos.
Em 1824, Louis apresentou sua primeira versão do sistema que levaria seu nome. Ele reduziu as células táteis para seis pontos organizados em duas colunas de três, o que permitia uma leitura muito mais rápida e uma escrita mais intuitiva. Cada combinação desses pontos poderia representar letras, acentos, pontuação e sinais matemáticos.
Com o tempo, Braille expandiu o sistema para incluir notação musical, tornando possível que músicos cegos tivessem acesso à formação teórica da mesma forma que leitores comuns.
Em 1829, ele publicou o primeiro manual oficial com as regras do braille. Apesar de sua eficiência, o novo sistema não foi imediatamente aceito. Muitos educadores achavam o braille complicado ou temiam que a escrita em relevo tradicional fosse abandonada.
Louis Braille, entretanto, continuou ensinando o método aos alunos do instituto, que rapidamente perceberam suas vantagens. As crianças liam mais rápido, escreviam com autonomia e conseguiam acessar conteúdos que antes eram impossíveis.
Aos poucos, o sistema ganhou força dentro da comunidade de alunos, mesmo sem reconhecimento institucional.
Louis Braille morreu jovem, em 1852, aos 43 anos, sem testemunhar a plena aceitação de sua invenção.
Apenas dois anos após sua morte, o sistema braille foi oficialmente adotado pelo Instituto Nacional de Jovens Cegos e, a partir daí, começou a se espalhar pelo mundo.
No final do século 19, já havia sido traduzido para diversos idiomas e adaptado às especificidades linguísticas de cada país. O Brasil adotou oficialmente o braille em 1854, sendo a primeira nação da América Latina a reconhecer o sistema.
Hoje, o braille é uma das conquistas mais importantes na história da acessibilidade. Presente em livros, elevadores, embalagens, placas de sinalização e equipamentos públicos, ele representa não apenas um método de leitura e escrita, mas um símbolo de inclusão e autonomia.
A criação de Louis Braille transformou a educação de pessoas cegas e possibilitou que milhões de indivíduos tivessem acesso ao conhecimento, à cultura e ao mundo letrado.