Apesar da aparência incomum e da fama equivocada de animal agressivo ou perigoso, o saruê cumpre um papel ecológico importante, especialmente nas cidades, onde atua como aliado no equilíbrio ambiental.
Sua presença, que se intensificou à medida que os centros urbanos avançaram sobre áreas naturais, fez do animal um símbolo da adaptação da fauna brasileira às transformações impostas pelo homem.
Do ponto de vista biológico, o saruê pertence ao grupo dos marsupiais, o mesmo das cuícas e dos cangurus, caracterizados pela bolsa abdominal das fêmeas, onde os filhotes completam parte do desenvolvimento.
Ele possui pelagem acinzentada, focinho alongado, olhos escuros e cauda preênsil, semelhante a um fio grosso e sem pelos, usada para auxiliar na locomoção entre galhos e superfícies estreitas. O saruê mede, em geral, entre 35 e 50 centímetros,
Onívoro por natureza, o saruê come praticamente de tudo: frutas, insetos, pequenos vertebrados, ovos e restos de comida deixados pelos humanos. Essa dieta variada explica em parte sua capacidade de ocupar ambientes tão distintos, da mata fechada aos quintais domésticos.
A expansão do saruê nas cidades brasileiras está ligada tanto à perda de habitat quanto à abundância de recursos oferecidos involuntariamente pelos humanos.
O animal se beneficia do calor das construções, da oferta constante de alimentos nos lixos, hortas e fruteiras domésticas e da ausência de predadores naturais.
Embora muitas vezes seja visto como um incômodo, o saruê costuma ser discreto, noturno e pouco agressivo, atacando apenas quando acuado, situação que ele tenta evitar.
Na maior parte das vezes, diante de uma ameaça, o animal prefere se afastar ou até fingir-se de morto, comportamento conhecido como tanatose, típico de alguns marsupiais.
A importância do saruê para o equilíbrio ecológico nas cidades é frequentemente subestimada.
Ele atua como controlador natural de pragas urbanas, consumindo baratas, escorpiões, carrapatos, ratos e até animais peçonhentos que representam risco direto à saúde humana.
Essa função faz dele um aliado involuntário dos moradores, ajudando a reduzir populações que se proliferariam rapidamente sem predadores naturais.
Além disso, ao se alimentar de frutas, o saruê contribui para a dispersão de sementes, beneficiando a vegetação urbana e áreas verdes remanescentes.
A convivência entre humanos e saruês, no entanto, exige informação e cautela. Embora traga benefícios, ele ainda é um animal silvestre e não deve ser alimentado ou encurralado.
Em caso de entrada acidental em residências, a orientação de biólogos e órgãos ambientais é não tentar capturá-lo e, sempre que possível, abrir caminhos para que ele saia sozinho.
Quando necessário, o resgate deve ser feito por equipes especializadas, pois o manejo inadequado pode causar estresse ao animal ou acidentes.
A ciência e ações educativas têm mostrado que, apesar do semblante peculiar e do cheiro característico que exalam quando estressados, os saruês são pacíficos e fundamentais para as dinâmicas ambientais tanto nas cidades quanto nas áreas rurais.