Tecnologia

Ataques contra o Siafi colocam segurança digital do governo em xeque

Invasores do Siafi conseguiram mascarar desvios, enganar gestores do sistema e roubar credenciais de acesso que foram usadas para desviar milhões de reais, evidenciando falhas nos mecanismos de proteção das redes governamentais

Ao longo deste mês, criminosos que agem na internet fizeram pelo menos três investidas contra o Sistema Integrado de Administração Financeiro (Siafi) -  (crédito: charlesdeluvio/Unsplash)
Ao longo deste mês, criminosos que agem na internet fizeram pelo menos três investidas contra o Sistema Integrado de Administração Financeiro (Siafi) - (crédito: charlesdeluvio/Unsplash)

Ao longo deste mês, criminosos que agem na internet fizeram pelo menos três investidas contra o Sistema Integrado de Administração Financeiro (Siafi), usado pelo governo federal para executar ordens de pagamento. As tentativas realizadas pelos invasores não foram bloqueadas e, pelo menos, R$ 14 milhões foram desviados para contas particulares em várias partes do país. O ataque, exitoso em subtrair recursos públicos, coloca em dúvida a segurança cibernética do Executivo e dos sistemas usados pelo poder público — que envolvem também os poderes Legislativo e Judiciário.

De acordo com as investigações feitas até agora, o ataque contra o Siafi se deu por um método conhecido como "fishing", palavra em inglês que, na tradução literal, significa "pescaria". Nesse tipo de cibercrime, pessoas mal-intencionadas enviam iscas, como links de páginas falsas, para coletar os dados dos alvos. Acreditando estar em uma página oficial — do governo ou de bancos, por exemplo —, a vítima insere informações que são usadas em golpes e fraudes. Além disso, segundo fontes da Polícia Federal (PF) consultadas pelo Correio, os criminosos também usaram de engenharia social. Um inquérito foi aberto para investigar o caso.

O sistema foi invadido por crackers, como são conhecidas as pessoas com amplo conhecimento de informática para gerar danos e prejudicar pessoas, empresas e instituições. É comum que as pessoas usem o termo hacker para se referir a autores de crimes cibernéticos. Porém, tecnicamente, os hackers são profissionais de tecnologia da informação que atuam para proteger sistemas, encontrando vulnerabilidades para resolver as falhas. Estão nesse grupo investigadores e agentes da Polícia Federal que atuam na área de defesa cibernética, militares do Exército especializados e integrantes de equipes de segurança da informação de empresas privadas e profissionais independentes que atuam com soluções de TI.

A engenharia social ocorre quando funcionários de empresas ou entes públicos são convencidos, por meio de técnicas de enganação, a repassar informações sensíveis, como senhas de sistemas, números de matrícula e de login ou, ainda, liberar acesso físico a salas de segurança ou a redes internas. Esse tipo de situação pode ser amenizada com uma "boa cultura corporativa", ou seja, com cursos, metodologias, orientações e criação de normas internas para evitar que os atacantes tenham sucesso em seus objetivos.

sistema pagamentos hackers governo
sistema pagamentos hackers governo (foto: Pacífico)

Fragilidade

O Siafi é utilizado para realizar a gestão financeira e executar ordens de pagamento do governo, do Legislativo (Câmara e Senado) e do Judiciário, que inclui o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A invasão, que se deu de maneira silenciosa por semanas, demonstra fragilidades nas camadas de segurança do sistema responsável pelo gerenciamento de bilhões de reais do Orçamento, destinados ao pagamento de servidores públicos e de serviços.

Bruno Fraga, especialista em segurança da informação e investigador digital, explica que o ataque ao Siafi pode ser explicado, em parte, pela educação dos usuários que têm acesso ao sistema. "O suposto ataque ao Siafi demonstrou uma combinação de vulnerabilidades que podem ser entendidas sob vários aspectos técnicos e operacionais relevantes na área de segurança cibernética. O incidente foi caracterizado pelo uso de técnicas de phishing para coletar credenciais de administradores financeiros do sistema. Isso sugere uma falha significativa na segurança das informações e na educação dos usuários quanto a ameaças cibernéticas, permitindo que atacantes obtivessem acesso não autorizado a operações financeiras críticas. Uma vez que os atacantes conseguiram acesso mediante credenciais válidas, exploraram deficiências no sistema de autenticação do Siafi", afirmou.

O especialista destaca que os invasores conseguiram "mascarar" suas ações ilegais como se fossem lícitas e corriqueiras. "A autenticação insuficientemente robusta permitiu que eles mascarassem suas atividades ilícitas como se fossem transações legítimas, dificultando a detecção imediata. Após a detecção do suposto ataque, foram implementadas medidas adicionais de segurança. No entanto, a reação pós-ataque sugere que o sistema não estava adequadamente preparado para responder a uma intrusão dessa magnitude", completa.

Prevenção

Lucas Bonfim, especialista em engenharia e gestão de infraestruturas tecnológicas complexas, ressalta que é fundamental prevenir esse tipo de invasão, mas, agora que o problema já aconteceu, faz-se necessário rever os procedimentos, promover treinamentos dos usuários e fechar as portas do sistema para acessos não autorizados. "O ataque ao Siafi revelou várias vulnerabilidades no sistema, tanto em termos de segurança da informação quanto na educação dos usuários sobre ameaças cibernéticas. A invasão bem-sucedida destacou falhas na autenticação dos usuários, permitindo que os invasores utilizassem credenciais legítimas para realizar atividades maliciosas. Isso evidencia a necessidade de melhorar as medidas de segurança e implementar processos de conscientização e treinamento mais eficazes para os usuários do sistema", afirma.

 

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postado em 29/04/2024 06:00