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Investigação sobre vazamento cria novo atrito entre Barroso e Temer

Roberto Barroso, do STF, pediu a investigação da Polícia Federal sobre o vazamento dos números dos processos que levaram ao pedido da quebra de sigilo bancário do presidente Temer

Paulo de Tarso Lyra, Rodolfo Costa
postado em 07/03/2018 08:16
Barroso: ministro quer investigação sobre como defesa de Temer teve conhecimento de fatos
Enquanto tenta reverter os danos da decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a quebra do sigilo bancário de Michel Temer, a defesa do presidente entrou na Suprema Corte, na terça-feira (6/3), com pedido para obter acesso aos procedimentos referentes à derrubada das informações confidenciais, a fim de avaliar melhor as estratégias e reverter o estrago político. A solicitação, entretanto, gerou um novo conflito com o ministro, que pediu a investigação da Polícia Federal sobre o vazamento dos números dos processos.

O pedido da defesa para acesso aos procedimentos será apreciado ;oportunamente; por Barroso. No momento, ele cobrou que seja incluída na investigação a ;apuração das responsabilidades cabíveis;, uma vez que as informações são sigilosas. ;Verifico que a petição apresentada pela ilustre defesa do Excelentíssimo Senhor Presidente da República revela conhecimento até mesmo dos números de autuação que teriam recebido procedimentos de investigação absolutamente sigilosos;, destacou Barroso.

A decisão do magistrado deve engrossar ainda mais o atrito político criado com o governo federal após a quebra do sigilo bancário. No Palácio do Planalto, a abertura do acesso às informações bancárias de Temer foi repudiada pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun, que qualificou ontem a medida como injustificável. ;Não há nada que justifique sem que fosse adotado o mínimo espírito de cautela de uma decisão como essa em relação ao presidente;, criticou.

Marun ainda avaliou a quebra de sigilo como abusiva e absurda. ;É sabido que as questões que envolvem o tal decreto dos portos são de 2017. E a decisão rompe o sigilo bancário do presidente desde 2013. No nosso entender, a atitude evidencia um caráter abusivo;, sustentou. Ainda assim, Marun reafirmou que Temer tornará públicos os extratos bancários. ;Ele não tem nada a esconder;, explicou.

Aliados veem perseguição


Sem que a defesa de Temer tenha acesso aos procedimentos instaurados por Barroso, a estratégia atual do presidente é não recorrer da decisão da quebra do sigilo, diz Marun. O objetivo é evitar passar uma imagem de que tenha algo a esconder da população e, assim, sobressair diante de eventuais ataques da oposição. ;O presidente decidiu não recorrer para que não forneça munição à hipocrisia dos nossos adversários. Não queremos isso;, afirmou.

Embora o Planalto demonstre tranquilidade em relação ao que a Polícia Federal venha a tomar conhecimento diante da quebra do sigilo, os impactos políticos preocupam aliados. A avaliação de alguns é de que não arranha a imagem do governo, que lançará candidato às eleições, e do próprio presidente, potencial pré-candidato pelo MDB, mas a decisão de Barroso deixará Temer exposto. ;Isso vai expor o quanto ele ganha, entre outras informações. E vão querer usar isso como munição para contra-atacar de alguma forma;, ponderou um líder da base.

Outro aliado, entretanto, mostra confiança e avalia que não atrapalha em nada uma eventual candidatura do presidente. ;Pelo contrário, verão que não há nada contra ele e isso dará argumentos para cobrar a mesma transparência de outros presidenciáveis;, analisou. As decisões de Barroso, no entanto, evidenciam para o aliado uma perseguição não apenas do magistrado, mas de todo o Judiciário contra um governo que queira tocar uma reforma da Previdência.

A decisão da quebra do sigilo é avaliada por outro aliado como uma medida desesperada da Polícia Federal, a autora do pedido ao ministro, de ;provar o improvável;. ;Não há nada contra o presidente sequer no inquérito, que investiga um suposto favorecimento em 2013, fora do início de mandato. A suspensão do sigilo apenas dará mais argumentos para que a procuradora-geral (Raquel Doge) peça o arquivamento do inquérito;, ponderou.

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