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Caso Natália: advogada diz que laudo não esclarece se houve homicídio

Para a defensora da família da vítima, o assassinato por afogamento não precisa causar marcas no corpo. Ela também destaca que estrangulamento nunca foi cogitado

Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 11/04/2019 20:41

Natália Ribeiro dos Santos Costa se afogou no Lago Paranoá ao fim da tarde de 31 de março

Para a defesa da família de Natália Ribeiro dos Santos Costa, 19 anos, o laudo cadavérico do Instituto de Medicina Legal (IML) não traz todas as informações necessárias para elucidar se houve ou não homicídio. A autópsia foi finalizada na terça-feira (9/4) e confirma que as marcas no corpo da universitária aconteceram após a morte dela, o que vai contra a versão da família, que acredita que ela foi agredida. Anteriormente, a advogada responsável pelo caso, Juliana Porcaro, chegou a cogitar a possibilidade de feminicídio ; o que não foi confirmado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

Um jovem de 19 anos, morador da Asa Norte, foi cogitado como suspeito de um possível crime, quando Natália foi encontrada morta, em 1; de abril, uma segunda-feira. Eles ficaram juntos durante churrasco no Clube Almirante Alexandrino (Caalex), na tarde de 31 de março. Um vídeo de câmeras de vigilância do Grupamento de Fuzileiros Navais, vizinho ao local da festa, flagrou o casal descendo um barranco junto, até o Lago Paranoá. O Correio divulgou o minuto a minuto das imagens, que . Depois, ele vai embora.

O laudo indica que Natália morreu vítima de asfixia por afogamento. O corpo da mulher também passou por tomografia, que confirmou que ela não foi ferida enquanto viva. A família da universitária chegou a dizer que Natália teve o nariz quebrado, o que foi negado pela PCDF. Contudo, em nota divulgada pela advogada Juliana Porcaro, a profissional questiona o resultado.

O Corpo de bombeiros resgataram o corpo de Natália às 14h33 do dia 1º de abril

"Ainda que as escoriações e os arranhões tenham sido post mortem (do latim, após a morte), não significa que não tenha havido homicídio, uma vez que, para o homicídio por afogamento não se exige, obrigatoriamente, ;marcas; no corpo. Basta, por exemplo, que se ;segure; a vítima até que se asfixie e se afogue. (...) Quanto ao nariz, precisaria de uma análise mais técnica para descartar que esteja quebrado ou não, pois, não se sabe se foi objeto de tomografia. Isso não está claro no laudo", destaca o texto.

A autópsia do IML também advertiu que Natália não foi estrangulada. Juliana Porcaro esclarece que "a hipótese de estrangulamento nunca foi sequer cogitada, nem pela família. O estrangulamento é, na hipótese mais comum, o corte do ar, e não necessita a pessoa estar em contato ou dentro da água."

A advogada salienta que a morte por afogamento nunca foi questionada, mas que a moradora do Paranoá sabia nadar, como ela mesma chegou a indicar à polícia, mostrando provas. Porcaro analisa que um exame toxicológico para outras drogas além do álcool poderia ostentar a versão. "Basta essa ação para se caracterizar um crime doloso (sem intenção), ou culposo (com intenção), ou até mesmo uma omissão de socorro (quando se nega ajuda alguém em perigo ou não se chama as autoridades competentes)", expõe.

"Se a afirmação do investigado é de que a vítima teria se afogado sozinha, tal exame poderia esclarecer. Dessa forma, divirjo da afirmação de seu defensor (público Carlos André Praxedes) que sua realização era ;desnecessária;", sustenta Juliana no texto divulgado.

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Por fim, o texto alerta para os depoimentos contraditórios do morador da Asa Norte, tido como suspeito de assassinato pela família de Natália. "O investigado mentiu, se desmentiu, não esclarece os fatos, sua versão se contrapõe à das testemunhas. E, no segundo depoimento, nada explica quanto à mordida no antebraço e ao machucado na mão, alegando a falta de memória por causa da embriaguez. Para finalizar: o investigado diz que conheceu a vítima naquele dia. Todavia, após o ;sumiço;, publica um anúncio de desaparecimento e pede para ligarem para ele e para Milena".

A imagem à qual a defesa se refere não será publicada pelo Correio para preservar a identidade do jovem, uma vez que ele não tem antecedentes criminais e não foi indiciado por qualquer crime relacionado à morte de Natália.

Os depoimentos

Quando o jovem de 19 anos se apresentou expontâneamente na 6; Delegacia de Polícia (Paranoá), onde se fazia boletim por desaparecimento, ele alegou não conhecer Natália. Quando o corpo foi descoberto e o vídeo dos dois juntos ficou sob responsabilidade da 5; Delegacia de Polícia (Área Central), o estudante mudou a versão. No segundo depoimento, disse ter conhecido a moradora do Paranoá no churrasco e que, durante brincadeira no parque do Caleex, Natália mordeu seu braço para causar "ciúmes" na namorada dele, que estava na confraternização.

A defesa do homem é de que ele teve amnésia alcóolica, pois teria bebido demais no churrasco, a ponto de ter a memória afetada, o que foi confirmado por Carlos André Praxedes ; que é responsável pelo caso e se pronuncia à imprensa pelo suspeito. O defensor também negou que o cliente dele e a universitária se conheceram antes do evento, como foi dito pela família e advogada Juliana Porcaro.

A namorada do jovem prestou esclarecimentos na 5; DP e confirmou que estava no churrasco. Ela disse que o homem "não é ;muito forte para bebidas; e que, em 31 de março, o jovem ingeriu vodca, o que o deixou ;muito doido;", afirmou. A mulher ainda relatou que se estressou com o namorado, pois ele não conseguia ficar de pé e foi comprar cerveja com uma amiga. Ao retornar ao parque, o estudante havia sumido. Ela só o encontrou depois, encostado em uma grade, repetindo que "a menina (Natália) sumiu no lago." Contudo, um amigo dele chegou a dizer que não havia ninguém sumido e que deveriam ir embora.

As jovens que foram com Natália para o churrasco também falaram com a polícia. Milena Cristinne Barbosa de Almeida, 20, contou aos investigadores que nem ela ou a universitária usaram drogas. Contudo, afirmou que Natália tomou três copos de suco gummy ; vodka com água e suco em pó; cerveja e uma dose de velho barreiro.

Após se separarem, Milena viu a universitária novamente no parque do Caleex, acompanhada do morador da Asa Norte. Ali, escutou Natália falado: "Ah, então é para morder?", antes de correr com o jovem em direção ao barranco que dá acesso ao espelho d;água do Lago Paranoá.

A colega Amanda Pereira da Costa, 19, falou em depoimento que Natália teria mencionado que estava sem dormir desde quinta-feira (28/3). Ainda, ela também chegou a ver a universitária no parque, jogando um copo de bebida no rosto do suspeito. Em seguida, a mulher teria dito: "Acorda que você está muito louco e está passando vergonha". O jovem então acordou e assediou a mulher. "Você é muito linda. Você é muito gostosa, quero ficar com você", momento em que a universitária pediu para que ela a respeitasse.

Na visão de Amanda, toda a conversa pareceu uma brincadeira, porque o suspeito sentou no balanço e a vítima ficou no colo dele. Depois, o casal caiu no chão e, pouco depois, correram para o lago. Ainda na versão dela, o casal estaria "ficando" no churrasco.

Milena disse ainda que teria visto o estudante voltar sozinho do lago. Ao questioná-lo sobre onde Natália estava, "ele disse que não sabia (...) e ainda estava muito bêbado e mal conseguia falar". A colega da universitária e as demais que jovens a acompanharam teriam acionado os seguranças do Caleex para irem atrás de Natália, mas que, como não a viram, decidiram ir embora, pois achavam que a colega havia ido embora com algum rapaz. Amanda não confirmou essa busca em depoimento.

À época, a advogada Juliana Porcaro questionou os depoimentos das amigas de Natália. Ela destacou que era estranho uma das jovens ter ido embora com os pertences da vítima, como o celular e a chave da casa dela. A profissional garantiu que pediria aos investigadores da 5; DP para que as mulheres fossem chamadas mais uma vez para darem depoimento e fechar as "brechas".

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