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Criatividade e ferramentas on-line são saída para ensinar na quarentena

Confira estratégias adotadas por professores para continuar as aulas durante a pandemia. WhatsApp, Microsoft Teams e outras plataformas são de grande ajuda

Devido à pandemia de Covid-19 e o fechamento de diversas instituições de ensino, educadores encontraram outros caminhos para continuar ensinando e manter os alunos motivados e se desenvolvendo. Muitas organizações, especialmente da rede particular, recorrem à educação a distância (EAD) por meio de plataformas, aplicativos ou sites. 
 
 
 
Para driblar as limitações, docentes precisam fazer uso da criatividade e da internet para poderem continuar seu trabalho. Com isso, acabam surgindo soluções inovadoras e práticas que se tornam a solução para que a educação não pare. Conheça iniciativas interessantes:

Laboratório virtual

No Colégio Marista da Asa Sul, a equipe de química desenvolveu um laboratório virtual para as aulas da disciplina. Como as atividades presenciais estão suspensas, os alunos não conseguiam ter sessões práticas, o que seria bastante prejudicial para o entendimento da matéria.

Pensando nisso, as professoras Daniela Trovão e Letícia Sousa de Moura criaram um laboratório on-line para que estudantes do ensino médio ainda possam ter acesso, mesmo que limitado, à parte prática do conteúdo. O objetivo é fornecer os conceitos laboratoriais de química por meio de ferramentas tecnológicas. 

O estudante presencia o ambiente de um laboratório a partir de vídeos e softwares de simulação de experimentos. Depois disso, os conhecimentos adquiridos são testados por meio de questionários aplicados por Daniela. O recurso tem tornado as aulas mais interessantes, tanto que Daniela percebeu melhora na motivação dos alunos.

Letícia, 27 anos, fez licenciatura e bacharelado em química na Universidade de Brasília (UnB) e trabalha como professora e auxiliar de laboratório no Colégio Marista. “No laboratório é quando os alunos mais interagem e se envolvem. Já que os estudantes não podem estar nesse espaço presencialmente, pensamos em levá-lo até a casa dos alunos por meio de vídeos", explica sobre a ideia. 

As professoras gravam as experiências, mas não dão respostas, apenas mostram os resultados, para que os adolescentes possam tirar conclusões e chegar à solução dos desafios por conta própria. A docente trabalha na instituição há quatro anos e nota maior dificuldade em prender a atenção dos alunos por meio da EAD. “É mais complicado do que presencialmente. Nossas turmas têm em média 45 alunos", diz. 

"Por isso, vejo a equipe trabalhando para tentar chamar a atenção deles e tornar as aulas mais interessantes para que o grupo possa absorver o material que é disponibilizado”, aponta. Tanto alunos quanto professores precisam se adaptar a esta nova fase da educação mundial. Para alguns, pode estar sendo mais fácil do que para outros.

No caso da aluna do 3º ano do ensino médio Maria Luíza Asfora, 17 anos, entender os conteúdos com aulas a distância é um desafio maior, no entanto, o laboratório virtual é um fator motivador. “Confesso que acho um pouco mais complicado e, às vezes, preciso assistir à aula mais de uma vez para entender determinado tópico, mas não acredito que isso me prejudique. Na verdade, sinto como se estivesse fixando mais a matéria”, conta.

Ela acredita que a EAD foi a melhor solução possível para o momento de pandemia. “Precisávamos manter um ritmo de estudo e, em nenhum momento deixamos de aprender ou de fazer exercícios, o que é ótimo”, declara.

Ajuda pela internet

Na Escola Estadual Complexo 3, em Planaltina (GO), o WhatsApp foi a solução encontrada para manter o aprendizado em dia. Os alunos têm acesso a números de telefone para esclarecerem dúvidas com professores de todas as disciplinas.

George André Pacheco Casanova, 30 anos, é licenciado em física pela Universidade de Brasília (UnB) e dá aulas na Secretária de Educação do Goiás. Sem acesso a outros recursos mais tecnológicos para permitir a EAD, usa o aplicativo de conversas WhatsApp para melhor atender os estudantes.

No entanto, por conta própria, procurou outras ferramentas com mais opções de recursos adaptados ao ensino. Foi assim que passou a utilizar, além do app de conversas, o Google Sala de Aula . Assim, ele tem maior proximidade com os jovens e compartilha conteúdo e atividades. 

A aprovação entre os estudantes é alta, pois acham o sistema prático. “Assim, consigo disponibilizar o material e atividades e cobrar como se estivéssemos em uma sala presencial. Mesmo a distância, consigo tirar dúvidas a qualquer hora”, relata o docente. 

Apesar de o aumento do uso de tecnologias para o ensino ter sido forçado por algo negativo — a pandemia —, George acredita que isso pode render frutos positivos duradouros, elevando o nível da educação no país. “Acredito que tendo uma harmonização entre o que é pretendido pelo professor e aquilo que ele pode exigir dos alunos, o ensino poderá melhorar, a qualidade poderá aumentar. Claro que isso também depender de outros fatores, como disciplina, maturidade e necessidade dos alunos”, avalia.
 

Saiba Mais

 

“Nós agora temos mais liberdade para alcançar um nível maior e mais aprofundado do currículo base que temos para passar aos alunos e que são exigidos em provas como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), por exemplo. Assim, aqueles que se esforçarem conseguirão ter um nível de aprendizado maior, além de amadurecerem como estudantes”, observa o professor de física.

Educação física a distância

Alunos de todos os níveis da educação básica dos colégios Marista Champagnat, em Taguatinga, e Marista Águas Claras continuam com as aulas práticas de educação física mesmo durante o período de quarentena. Ao menos uma vez por semana, os estudantes recebem aulas em tempo real a partir da plataforma Microsoft Teams. Disciplinas teóricas também estão sendo aplicadas a distância.

Dentro da grade horária da escola, os alunos têm aulas de educação física em que podem interagir uns com os outros. Os estudantes do ensino médio contam ainda com vídeos produzidos pelos próprios professores para seguirem com os treinos em horários livres do dia, além do período de aula.

A educadora física Tassiana Radi Ferreira, 32 anos, trabalha no Colégio Marista Champagnat há 12 anos e conta como foi o processo de migração para a EAD. “Todos fomos pegos de surpresa pela pandemia. A ideia surgiu para adaptarmos nosso planejamento para que as aulas pudessem acontecer com os materiais e espaços que os estudantes tivessem disponíveis em suas casas”, relata a docente. 

Em média, as turmas têm cerca de 28 alunos, e os professores trabalharam juntos para pensar soluções adequadas. “No projeto, nós fazemos os exercícios em aulas on-line, ao vivo, para que os estudantes possam replicar dentro de suas casas as aulas são disponibilizadas na plataforma Google Classroom”, diz. “Além de atividades mais simples, como alongamento, estamos fazendo jogos adaptados e também trabalhando a interdisciplinaridade, com jogos matemáticos a partir da ludicidade.”

Jullya Cristina de Araujo Cavalcante, 16 anos, cursa o 3º ano do ensino médio no Marista Champagnat. “O ensino a distância é necessário por causa do momento que estamos vivendo. Dessa forma, conseguimos manter nossa rotina de estudo, algo muito importante, principalmente para nós que estamos no último ano e nos preparando para as provas finais e vestibulares”, relata a moradora de Ceilândia. 

“Precisamos inovar em uma situação como esta, para não perdermos o ritmo e continuarmos estudando. O fato de a aula não ser gravada, mas acontecer por videochamada facilita muito esse processo, podemos tirar dúvidas facilmente, por exemplo”, conta Jullya.

Aprendendo inglês pelo YouTube

Por todo o Brasil e mundo afora, destacam-se iniciativas de educadores para continuar ensinando a partir de ferramentas on-line. No canal I am Teacher Paul, no YouTube, um professor de inglês disponibiliza músicas que grava para ajudar os alunos a memorizarem regras do idioma estrangeiro.

"Sei que, nesta quarentena, é difícil manter o ritmo e a motivação em aprender inglês. E pensando nisso, criei "A melhor aula de inglês" on-line, um vídeo superdescontraído para meus alunos aprenderem inglês cantando", explica Paul. "Essa música ou aula ensina uma regra básica para nunca mais esquecer. E o melhor, de uma forma totalmente descontraída", diz ele que mora na Inglaterra.

Confira:

Educação pública do DF

A plataforma Google Sala de Aula vem sendo bastante utilizada por escolas, faculdades e outras instituições de ensino para permitir a interação entre professores e alunos que não podem mais se ver pessoalmente. Recentemente, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) aderiu ao sistema para alunos de ensino médio. 

O órgão também oferece teleaulas para todos os níveis da educação básica por meio de programa transmitido pela TV Justiça, pela TV Gênesis, pela TV União e pela internetApesar de não contarem como dias letivos, essas são alternativas para que os estudantes mantenham o aprendizado durante a quarentena.


*Estagiário sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
Diana Raeder/Esp. CB/D.A Press - Pátio com várias cadeiras vazias
Marista/Divulgação - Professora com blusa branca em frente a tubos de teste de laboratório
Marista/Divulgação - Professora de química e alunos utilizando jalecos brancos enquanto estão em experimento
Arquivo pessoal - Aluna de cabelos longos e pretos estudante em seu computador sentada em uma mesa.
Arquivo Pessoal - Professor com blusa verde em escritório de trabalho em casa pronto para aula
Marista Champagnat/Divulgação - Professora de educação física com universo do colégio sorrindo para a câmera
Marista Champagnat/Divulgação - Aluna assistindo a aula de educação física em frente ao computador.