Correio Braziliense
postado em 04/08/2020 20:21
A paranaense Isabella Hijazi, de 20 anos, estava sozinha na sala do seu apartamento, a 3km do porto do Beirute, capital do Líbano, quando viu pela janela a explosão que atingiu a cidade na tarde desta terça-feira (4/8). A explosão, que abalou edifícios inteiros e quebrou vidros, foi sentida em várias partes da capital e até em países vizinhos, como o Chipre.
Segundo uma autoridade de segurança libanesa, a fatalidade, que deixou ao menos 75 mortos e 2.750 feridos, pode estar ligada a "materiais explosivos" confiscados e armazenados em um armazém "por anos". Ao Correio, o cônsul honorário do Líbano em Goiás, Hanna Mtanios, definiu o momento como de "muitas incertezas". Imagens registradas por moradores de Beirute, e cedidas ao Correio, mostram o rastro de destruição após as duas explosões
Isabella contou que estava assistindo tevê quando o chão começou a tremer. "Eu fiquei assustadíssima. E daí, uns três segundos depois que o chão começou a tremer, veio um vento muito forte. As janelas todas abriram e as minhas cortinas voaram e rasgaram. Chegou a empurrar o sofá de tão forte que foi." A estudante de psicologia é moradora de Beirute há três anos e conta que nunca viu nada parecido acontecer na região.
"No momento em que ocorreu a explosão, eu fiquei muito assustada, porque aqui a gente vive com medo de ser atacado por Israel. Então, eu fiquei muito assustada mesmo. Primeiro, eu achei que era um terremoto e depois eu pensei: "Pode ser um ataque", afirmou a jovem, devido ao histórico de ataques politicamente motivados no país.
Mesmo passados mais de sete horas do acidente, a estudante diz que o sentimento de medo ainda paira pela capital. "Teve muita morte. Cada hora aumenta o número de gente que foi achada morta. A gente vê aqui na televisão ao vivo tudo o que está acontecendo e só tem gente machucada, com o ouvido sangrando, gente perdida por todo lado", conta. "A situação está bem feia. E os hospitais, principalmente os que estavam próximos do lugar, estão totalmente acabados. Não tem como usar eles de maneira alguma."
Relato de um libanês
O libanês José Carlos, de 40 anos, que atua como guia turístico em Beirute há sete anos, descreveu ao Correio um cenário catastrófico na capital, após a imensa cortina de fumaça se dissipar. Segundo o morador, por volta das 18h — 12h no horário de Brasília —, ele sentiu o prédio em que estava tremer. "Houve uma enorme explosão. Eu senti no meu peito enquanto a casa tremia por toda a parte. De repente, logo após a primeira, houve uma segunda explosão", disse.
O guia, contudo, não tinha percebido do que se tratava a explosão, nem onde ela teria acontecido. Ele imaginara que fosse a queda de um avião, porque "foi muito perto do prédio" em que ele estava. "A explosão, que pareceu com Hiroshima, de tão forte que era, foi sentida até no Chipre, no sul, no norte do Líbano. Todos me mandando mensagem querendo saber se estou bem, se minha família está bem, porque foi muito, muito forte", afirmou.
"Muitas pessoas perderam a vida e muitas pessoas estão feridas. Ainda não sabemos o número exato, mas também tem muitos edifícios, lojas, carros e janelas que foram destruídos pela explosão", completou. José Carlos é filho de uma brasileira e morou muitos anos no Brasil.
Nota Itamaraty
O Ministério das Relações Exteriores divulgou nota oficial. Segundo o comunicado, "não há, até o momento, notícia de cidadãos brasileiros mortos ou gravemente feridos" no incidente.
Na nota, o Itamaraty também informou que está pronto para prestar as assistências necessárias e declarou que se solidariza "com o povo e o governo do Líbano pelas vítimas fatais e pelos feridos atingidos pelas graves explosões".
Grupo Hezbollah
[SAIBAMAIS]A possibilidade da participação do grupo foi levantada em razão de uma outra explosão, registrada em 14 de fevereiro de 2005, quando uma caminhonete carregada de explosivos atingiu o comboio do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, matando-o com outras 21 pessoas e ferindo mais de 200.
Assim como nesta terça, a explosão em 2005 causou chamas de vários metros de altura, quebrando as janelas dos prédios em um raio de meio quilômetro.
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