Politica

Michel Temer: de 'vice decorativo' a ex-presidente da República preso

Alvo de vários inquéritos da Polícia Federal, Temer perdeu o foro privilegiado ao deixar o Palácio do Planalto

Simone Kafruni
postado em 21/03/2019 12:10
Michel Temer é alvo de cinco inquéritos no STF e já foi denunciado duas vezes pela PGR
O ex-presidente Michel Temer teve mandado de prisão expedido nesta quinta-feira (21/3) na 61; etapa da Operação Lava-Jato, chamada Radioatividade, por envolver suspeita de corrupção na Eletronuclear. Alvo de vários inquéritos da Polícia Federal, inclusive o do Decreto dos Portos, que teria favorecido empresas portuárias, Temer perdeu o foro privilegiado ao deixar o Palácio do Planalto.

Por duas vezes vice-presidente nas gestões de Dilma Rousseff, Michel Temer assumiu a presidência após o impeachment da petista em 2016. Desde 1985, é o terceiro vice-presidente membro do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) que chegou à Presidência da República sem ser eleito diretamente para o cargo.

Antes, Temer foi presidente da Câmara dos Deputados, deputado federal, secretário da Segurança Pública e procurador-geral do estado de São Paulo. Em 1995, Temer foi escolhido para liderar o MDB na Câmara. Contando com o apoio do governo Fernando Henrique Cardoso, foi eleito presidente da Câmara dos Deputados duas vezes (1997 a 2001). Em 2001, foi eleito presidente nacional do partido com quase 60% dos votos.

No segundo mandado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi novamente eleito para a presidência da Câmara (2009 a 2010). Na disputa presidencial de 2010, conseguiu ser escolhido para candidato a vice de Dilma Rousseff. Com a vitória de ambos, foi empossado vice-presidente da República em janeiro de 2011. No período da pré-campanha, quando questionado como seria sua atuação, afirmou: ;Serei vice nos limites da Constituição. Quando ocupo um cargo, cumpro a tarefa constitucional. Serei extremamente discreto, como convém a um vice.;

No entanto, não se satisfez com a discrição e foi considerado por si próprio e pelo partido como um ;vice decorativo;, como escreveu em uma carta enviada à então presidente Dilma. No segundo, ganhou mais poder ao comandar a articulação política. Após desentendimentos públicos com a presidente, Temer articulou o impeachment, que ocorreu oficialmente em 31 de agosto de 2016. Com o afastamento de Dilma antes disso, Temer assumiu a presidência em maio daquele ano.

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Em abril de 2016, houve um vazamento de áudio no qual Temer já se comportava como novo presidente. Em 2017, tornou-se o primeiro presidente da história do Brasil a ser denunciado ao Supremo Tribunal Federal no exercício do mandado, por suspeita de corrupção passiva. O emedebista foi considerado o presidente mais impopular da história do país. Em 2017, bateu o recorde histórico de rejeição e, já em 2018, no ano final do seu governo, uma pesquisa Datafolha mostrou a mais alta taxa de reprovação da história do instituto, que faz apurações desde a redemocratização do país, em 1985: 82% de rejeição.

Denúncias


Temer é alvo de cinco inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) e já foi denunciado duas vezes pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Ambas as denúncias foram interrompidas pela Câmara dos Deputados e só voltaram a avançar porque Temer perdeu o foro. O caso mais notório foi a delação premiada de Joesley Batista, executivo do frigorífico JBS. Segundo as investigações, Temer teria recebido propina, por meio de Rocha Loures, e tentado barrar as investigações da Operação Lava-Jato por meio de uma suposta compra de silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.

Outra acusação é o envolvimento de Temer com irregularidades no Porto de Santos, que resultou na abertura da Operação Skala e na quebra do sigilo bancário do presidente. O ex-presidente teria recebido propinas de empresas do setor portuário, compensando-as com um decreto que autorizou a renovação das suas concessões por 70 anos. Hoje, foi preso por suspeita de corrupção na Eletronuclear.

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