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De tchutchuca a rosa e azul: como os ministros repercutiram na web em 2019

Levantamento do Google feito a pedido do Correio mostra que Moro, Guedes e Damares foram os ministros mais buscados pelos internautas ao longo do ano, muitas vezes devido a polêmicas em que se envolveram

Deborah Fortuna, Rebeca Garcia
postado em 19/12/2019 06:00
[FOTO1]Como não poderia ser diferente para um presidente eleito após uma campanha baseada principalmente nas redes sociais, o primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro foi repleto de anúncios, debates e polêmicas no meio virtual. E a atenção dos internautas não se voltou apenas para o chefe do Executivo. Em vários momentos, ministros também se tornaram o centro das atenções.

Feito a pedido do Correio, levantamento do Google aponta quais foram os ministros que mais geraram interesse dos internautas de janeiro a novembro de 2019. Segundo a empresa, que considerou oito nomes selecionados previamente pela reportagem (leia Coleta de dados, abaixo), Sergio Moro (Justiça) foi o integrante do primeiro escalão mais buscado no site, seguido de Paulo Guedes (Economia).

Os dois podem ser considerados os ministros sobre os quais os brasileiros mais leram na internet. Além da dupla, outros três nomes se destacam, embora com um volume de buscas bem mais baixo: Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Abraham Weintraub (Educação) e Ricardo Sales (Meio Ambiente).

Moro, Guedes e Damares: picos de audiência na internet têm relação com polêmicas e acusações

Sustentação e confronto

Para o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o fato de Moro e Guedes aparecerem na frente é reflexo da importância de ambos para a gestão de Jair Bolsonaro.

"São ministros que dão sustentação ao atual governo. Guedes, por conta das questões administrativas do papel do Estado, da pauta liberal e da previdência. E Moro veio como um representante forte da luta contra a corrupção e especialmente contra o PT e a figura do ex-presidente Lula", analisa.

Quanto a Damares, Weintraub e Sales, Prando avalia que o interesse sobre eles resulta do fato de eles representarem a ala ideológica do governo. "O governo adota como estratégia a constante confrontação. Bolsonaro, para se manter em evidência, confronta e combate o inimigo, externo ou interno, real ou imaginário", afirma o especialista.

"Os três parecem que coordenam suas pastas a partir do estilo das redes sociais, que são os memes e a lacração. Bolsonaro se sente fortalecido e dá mais poder para esses três ministros", acrescenta.

Vaza-Jato e Tchutchuca

E o combustível da internet parecem ser mesmo a polêmica e o escândalo. É o que mostra a análise sobre os períodos em que o nome de cada ministro foi mais buscado.

O gráfico do volume de buscas sobre Sergio Moro, por exemplo, mostra um pico entre 9 e 15 de julho, período que coincide com o início da divulgação das mensagens vazadas pelo site The Intercept. O episódio gerou muito mais buscas que o pacote anticrime, principal medida de Moro no primeiro ano de governo.

Segundo o cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice, o nome do Moro fica em evidência por um conjunto de fatores. "Durante o julgamento do Lula, o próprio petista manteve Moro em evidência. Depois, veio o Intercept. Mas também há a questão do combate à corrupção. É uma combinação de fatores que fazem com que ele fique em evidência", observa.

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A combinação de polêmica e aumento de buscas no Google também é observada no gráfico de Paulo Guedes. O ministro viveu um auge de evidência na internet ao protagonizar uma discussão com o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), durante audiência sobre a reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, em abril.

Na ocasião, o petista disse que o ministro é ;tigrão; com aposentados, mas ;tchutchuca; quando mexe com os mais privilegiados do país. Em resposta, o ministro disse que ;tchutchuca é a mãe, é a avó;. Resultado: o termo tchutchuca foi o mais relacionado ao nome de Guedes este ano.

Outra pesquisa que também está relacionada com o ministro da Economia é o nome do presidente francês, Emmanuel Macron, devido ao fato de Guedes ter dito que a esposa do mandatário europeu, Brigitte Macron, ser "feia mesmo".

Percentual correspondente ao total de buscas pelos oito ministros entre 1º de janeiro e 29 de novembro

Azul e rosa

Terceira ministra mais buscada ao longo do ano, Damares Alves conta com várias palavras que costumam vir associadas ao seu nome no Google, como twitter, formação, biografia e currículo. A polêmica, porém, fala mais alto no gráfico da responsável pela pasta dos Direitos Humanos, que teve um pico de interesse entre 27 de janeiro e 2 de fevereiro.

Na época, logo no início do governo, Damares falou uma das mais emblemáticas frases do atual governo, ao dizer que ali começava uma era em que "menino veste azul e menina veste rosa".

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Mensagens aos apoiadores

Para Cristiano Noronha, da Arko Advice, a maioria dos políticos busca fugir de polêmicas, mas, para alguns integrantes do atual governo, essa forma de discussão pública é uma forma de se comunicar com o eleitor mais fiel. "Creio que, ao fazerem isso, falam muito mais com os próprios apoiadores de Bolsonaro. Especialmente via Twitter;, afirma.

Na opinião do cientista político, esse perfil bolsonarista, apesar de gerar reações da oposição, inclusive com pedidos de saída, não traz muitas consequências negativas para o governo. "Essas polêmicas são sempre vistas, para eles, como grupo de não apoiadores. Quem vai pedir a cabeça de ministro, na visão deles, são pessoas naturalmente contra o governo."

Coleta de dados

Para pré-selecionar os oito ministros, o Correio fez uma pesquisa no Google Trends com os 22 nomes que formam o primeiro escalão do governo. Foram definidos os que receberam maior volume de buscas ao longo de 2019.

A ferramenta Trends, utilizada no estudo do Google, mostra a pontuação de cada ministro em uma escala relativa de 0 a 100. Em que 100 significa o pico de buscas de cada ministro.

Exemplo: Sergio Moro pode ter recebido 1 milhão de pesquisas no pico de 100. Enquanto Paulo Guedes pode ter recebido 5 mil. Mesmo assim ambos atingem o ponto máximo da escala em determinado período.

O Google não fornece números absolutos ao público, apenas a escala. Ou seja, não é possível saber quantas buscas foram feitas pelo nome de cada ministro, apenas o percentual de interesse dos internautas em cada um deles.

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