Conheça famílias que lutam para comprar o 'remédio mais caro do mundo'

Medicamento Zolgensma, que custa o equivalente a R$ 11 milhões, teve o registro aprovado pela Anvisa nesta segunda-feira (17/8)

Bruna Yamaguti*
postado em 17/08/2020 18:15 / atualizado em 17/08/2020 18:27
Arthur precisa tomara a medicação antes de novembro, quando completa dois anos -  (crédito: Reprodução/Instagram)
Arthur precisa tomara a medicação antes de novembro, quando completa dois anos - (crédito: Reprodução/Instagram)

Conhecido como o remédio mais caro do mundo, o medicamento Zolgensma, utilizado para tratamento de atrofia muscular espinhal (AME) e cuja dose custa mais de US$ 2 milhões (equivalente a cerca de R$ 11 milhões), teve o registro aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta segunda-feira (17/8). A notícia pode ser um alento para diversas famílias que buscam levantar recursos para comprar a medicação.

Uma delas é a do pequeno Arthur Belo que, com apenas um ano e nove meses, já é um grande guerreiro. Todos os dias, ele luta contra a doença degenerativa que dificulta seus movimentos, sua fala e até mesmo a sua respiração. A AME é uma enfermidade genética rara, que tem o Zolgensma como tratamento mais eficiente. O medicamento, porém, pode ser aplicado somente em crianças com até dois anos de idade. A apenas três meses de completar o seu segundo ano de vida, Arthur corre contra o tempo, e a família se desdobra para conseguir levantar a quantia.

Através de vaquinhas virtuais e doações de conhecidos, cerca de 10% do total necessário já foi arrecadado. No entanto, Arthur fará aniversário em 8 de novembro e a proximidade da data faz com que a mãe, Alessandra, 28 anos, busque incessantemente pela medicação que pode salvar a vida do filho. “É uma situação muito difícil. Tudo o que a gente mais queria no mundo era conseguir esse remédio e vê-lo andar, brincar, sair da ventilação mecânica”, relata a dona de casa, que mora com a família em Grajaú (SP).

“É uma doença muito traiçoeira. Uma hora a criança está bem e, num piscar de olhos, não está mais. Vivemos apreensivos, com medo do que pode acontecer”, acrescenta.

Diagnóstico

“Ele era muito molinho, não tinha tônus muscular nenhum e sempre engasgava muito”, lembra Alessandra, que recebeu o diagnóstico do filho quando ele tinha apenas três meses. O caso de Arthur é do tipo 1, o mais grave da doença. “Os médicos falavam que era normal, que cada criança tinha o seu tempo para se fortalecer. Quando percebi que tinha algo errado, o levei no neurologista e ele falou que a expectativa de vida para o meu filho era de dois anos de idade.”

Pouco antes de completar cinco meses, Arthur precisou ser internado após uma parada cardiorrespiratória e só pôde voltar para casa três meses depois, já dependente dos aparelhos para comer e respirar. Desde então, a rotina da família nunca mais foi a mesma.

Os pais e a irmã do bebê já se acostumaram com a presença de médicos, enfermeiros e fonoaudiólogos na casa, uma vez que Arthur é amparado pelo serviço de Home Care, ou seja, assistência médica domiciliar, uma continuidade do tratamento hospitalar feito na residência do paciente.

“Nós moramos muito longe de tudo. Se ele tem uma intercorrência, por exemplo, demoraria muito tempo para a remoção chegar. Se não tivéssemos ajuda, talvez o Arthur não estaria mais conosco”, explica Alessandra. “É como se a gente vivesse com uma mini UTI dentro de casa.”

A cada quatro meses, o bebê toma uma dose do único remédio disponível no Brasil para tratar a doença, o Spinraza. Apesar de ajudar a controlar a evolução do quadro, os efeitos do tratamento são limitados se comparados ao Zolgensma.

Corrente do bem

Alessandra criou um perfil no Instagram para o filho no ano passado. Hoje, com mais de 60 mil seguidores, ela conta com o apoio de pessoas que desejam a melhora de Arthur como se ele fosse membro da família. “A gente recebe muita força das pessoas que o amam incondicionalmente, como nós. Essas pessoas acabam ‘adotando’ a gente como família, e todos os dias recebemos mensagens de fé e apoio”, diz. “A gente não se sente abandonado em momento algum”.

Além de todo o carinho que recebe, a família já conseguiu arrecadar cerca de R$ 2 milhões através de campanhas virtuais. Mas o valor ainda não é suficiente para pagar a medicação que Arthur precisa receber dentro de apenas três meses.

“Esse remédio faz com que a doença pare de avançar. O Arthur não vai mais perder o que ele já tem, a musculatura não vai mais atrofiar. Vou fazer o possível e o impossível para conseguir dar qualidade de vida para o meu filho. Para que ele consiga viver como uma criança normal. É a nossa esperança.”

Outros casos

No último dia 7 de agosto, pouco antes de completar seus dois anos de idade, a pequena Marina Moraes de Souza Roda conseguiu receber o remédio de quase R$ 11 milhões. A mãe, Talita Roda, arrecadou o valor através de doações e campanhas virtuais, como Alessandra.

“Assinamos os últimos termos e autorizações e fizemos a última consulta antes do Zolgensma. Eu nem sei como expressar o tamanho da nossa felicidade nessa foto, o quanto esperamos por esse momento, essa semana. Sinto que a missão que foi dada está prestes a ser cumprida. Meu coração está em festa”, escreveu a mãe no Instagram @cureamarina, pouco tempo antes da aplicação da medicação.

No DF, a pequena Marina Macedo, de um ano e oito meses, foi diagnosticada com AME logo nos seus primeiros dias de vida. A família abriu uma liminar na Justiça para que o Ministério da Saúde arque com os gastos do tratamento, mas a demora no processo causa preocupação, uma vez que faltam apenas três meses para que a criança complete o seu segundo ano de vida, idade limite para a aplicação do remédio Zolgensma.

Já Kyara Lis, também de Brasília, tem um ano de idade e é outra na busca pelo ‘remédio mais caro do mundo’. O diagnóstico veio aos 10 meses de vida de Kyara e para adquirir a medicação de apenas uma dose, a família da menina pede ajuda pelas redes sociais, na página do Instagram @cureakyara. Os pais, aliás, celebraram a aprovação do registro pela Anvisa. “Agora, pode ser que fique mais fácil comprar essa medicação no Brasil”, disse a mãe, a advogada Kayra Lis, 39 anos.

A doença

“A atrofia muscular espinhal (AME) caracteriza-se pela atrofia muscular secundária à degeneração de neurônios motores localizados no corno anterior da medula espinhal, afetando progressivamente a musculatura e comprometendo movimentação, respiração e alimentação. É uma doença genética causada pela alteração do gene SMN1, que codifica a proteína responsável pela sobrevivência do neurônio motor”, explica a doutora Janaína Monteiro Chaves, neurologista pediatra do Hospital da Criança de Brasília (HCB).

Segundo o Ministério da Saúde, a AME varia do tipo 0 (antes do nascimento) ao 4 (segunda ou terceira década de vida), dependendo do grau de comprometimento dos músculos e da idade em que surgem os primeiros sintomas. O tipo 1 é o mais frequente e a forma mais grave da doença.

O Zolgensma, desenvolvido nos Estados Unidos, é considerado o tratamento mais revolucionário para a AME: ele busca reparar diretamente os genes. 

Como ajudar

Arthur Ferreira Belo

Vaquinha virtual: http://vaka.me/641285

Depósitos em contas bancárias:

Itaú: Agência 8111 Poupança 13027-7
Bradesco: Agência 000084-1 Poupança 1004727-7
Santander: Agência 0001 Poupança 600524961
Caixa: Agência 4051 Poupança 107514-5 (operação 13)
Banco do Brasil: Agência 1194-0 Poupança 33.375-1 (variação 51)

Kyara Lis

https://lkt.name/cureakyara

Marina Macedo

https://www.peticao.online/campanha_nacional_para_o_tratamento_gratuito_da_deficiecia_neurologic_atrofia_muscular_espinhal_ame

*Estagiária sob supervisão de Fernando Jordão

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