Após ser indiciado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro por corrupção de menores, o youtuber Felipe Neto se defendeu da acusação em uma live realizada em seu canal do YouTube, onde tem mais de 40 milhões de inscritos. Assessorado por um de seus advogados, Felipe chamou o procedimento de "escandaloso" e questionou: "Onde está o crime que cometi?"
O indiciamento (apontamento de um crime) foi feito na quinta-feira (5/11) pela Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) do Rio. "As investigações iniciaram após expediente do Ministério da Justiça. Ele foi indiciado por divulgar material impróprio para crianças e adolescentes em seu canal do YouTube e por não limitar a classificação etária dos vídeos com conteúdo e linguajar inapropriado para menores", informou a delegacia em nota.
Na live, realizada no sábado (7/11), Felipe disse que a acusação é falsa por dois motivos. Primeiro porque é um dos poucos youtubers do mundo a colocar classificação indicativa para maiores de 12 anos em seus vídeos. "Antes (nos vídeos mais antigos) eu não colocava porque o YouTube não deixava e porque o YouTube todo é para maiores de 13 anos. Isso fica claro nos termos de uso", argumentou.
O outro ponto questionado por Felipe é o crime que lhe foi atribuído: corrupção de menores. Segundo o artigo 244B do Estatuo da Criança e do Adolescente (ECA), trata-se de "corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la".
"Onde está o crime que eu cometi? Você pode alegar várias coisas que você discorda. 'Não, porque você falou palavrão pra criança...' Mas o delegado me indiciou dizendo que eu incentivaria, de alguma forma, a prática de crimes por menores de idade. Eu não lembro de ter ensinado algum de vocês a assaltar banco. Nunca incentivei ninguém a cometer crime algum nessa vida. Então, a alegação é absurda. Não tinha nenhum crime para ele colocar quando ele me indiciou. Ele precisou fazer uma manobra mental para conseguir colocar naquele artigo do ECA", protestou.
Perseguição à oposição
O youtuber disse estar convencido de que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro promovem uma campanha que visa destruí-lo. "Eles tentaram de tudo para me destruir, mas não conseguiram. Como não conseguiram através das fake news, como não conseguiram através do ódio, me atacando, ele decidiram tomar outra estratégia. Eles decidiram ir com representações no Ministério Público para tentar abrir processos criminais contra mim. Existem delegados, procuradores que gostam do governo e são defensores do governo. Eles abrem inúmeras representações na esperança de que uma delas caia na mão de alguém que ferrenhamente faz parte desse sistema mais radicalizado. Não estou dizendo que é o caso do delegado que abriu (o indiciamento), mas essa é a esperança deles. Porque, se cai na mão de um cara radical, ele pode querer levar para frente", argumentou.
Para Felipe, uma das evidências desse fato foi a "comemoração" feita pela ministra da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves, por seu indiciamento. Pelo Twitter, Damares escreveu, após comentar a iniciativa da polícia: "Neste país temos defensores da infância!"
Explicado: primeiro o MP aceita as denúncias. Agora, a delegacia de crimes cibernéticos instaura inquérito por corrupção de menores.
— Damares Alves (@DamaresAlves) November 7, 2020
Segundo o artigo 224-B do Código Penal, a pena é de até 4 anos de reclusão.
Neste país temos defensores da infância!https://t.co/pzyx3df7J5
"A ministra Damares, dos direitos humanos, deveria estar do meu lado, porque estou sendo ideologicamente perseguido. Mas ela comemorou a polícia fazer o indiciamento. Mas tirando essas pessoas, que são as radicais, para quem os outros são inimigos e precisam ser destruídos, todo ser humano racional que teve acesso a esse indiciamento está revoltado. É escandaloso um delegado da Polícia Civil ter feito isso comigo. É um escândalo mundial", disse, referindo-se ao fato de o indiciamento ter repercutido na imprensa internacional.
Por fim, Felipe disse que a estratégia usada contra ele é digna das mais bárbaras ditaduras: "É o uso da máquina pública para perseguir e silenciar a oposição. Conseguem entender o nível da gravidade disso? Tenho arma para lutar, não vou me calar. Tenho assessoria jurídica, recursos financeiros e vocês que me assistem agora. Mas quantas pessoas têm isso? Pouquíssimas. Então o uso do estado para perseguir e silenciar opositores é digno das mais bárbaras ditaduras", afirmou.
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