Combate ao racismo

Movimento de combate ao racismo debate técnicas de abordagem dos seguranças

Em reunião com representantes dos setores para implantação de treinamentos aos profissionais de segurança do país, líder do Movimento AR, José Vicente, levantou necessidade de mudança

Edis Henrique Peres*
postado em 26/11/2020 16:43 / atualizado em 26/11/2020 16:47
José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares e líder do Movimento AR -  (crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil)
José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares e líder do Movimento AR - (crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil)

O líder do Movimento AR, de luta contra o racismo, reitor José Vicente, da Universidade Zumbi dos Palmares, convocou uma reunião emergencial com representantes de reitorias, federações e associações para falar sobre mudanças nas técnicas de abordagem nacionais e a implantação de treinamentos efetivos com os profissionais de segurança no combate ao racismo. A reunião foi motivada pela morte de João Alberto Silveira Freitas, negro de 40 anos que foi espancado na noite da última quinta-feira (19) e morto por seguranças terceirizados em loja do Carrefour de Porto Alegre.

A reunião extraordinária aconteceu na manhã dessa quarta-feira (25), na Universidade Zumbi dos Palmares, com o objetivo de tirar do papel as mudanças das técnicas de abordagem dos profissionais de segurança. Para o reitor José Vicente, o encontro trará resultados positivos.

“A reunião foi muito importante, primeiro, porque todas as representações se fizeram presentes, as organizações, universidades e Procuradoria. E todos eles reconheceram o racismo em uma dimensão extremamente sensível, além de concordaram em constituir um núcleo de trabalho emergencial para já encaminhar algumas questões de resolução e contenção desse problema”, conta José Vicente.

Ele revela que a expectativa é que em 30 dias parte das medidas já esteja em execução. “Já para as (medidas) de maior complexidade e profundidade, esperamos que em 6 meses tenhamos uma condução mais apropriada. O que percebemos, inicialmente, é que é preciso mudar radicalmente o currículo e a formação da segurança privada, para que haja um combate ao racismo, uma preocupação com a tolerância e o respeito aos direitos humanos”, pontua.

O reitor conta que a reunião foi importante até para se entender a dimensão dos serviços de vigilância. “Os serviços de segurança de transporte são diferentes de uma segurança ou zeladoria de condomínio, por exemplo. E todos esses setores precisam de mudanças dentro da sua realidade. Outro fator importante é a formalização dos contratos com esses profissionais. Há muitos que trabalham sem uma formalização, o que torna difícil o monitoramento da categoria”, explica.

José Vicente também critica a falta de preparo dos funcionários do próprio Carrefour. “Enquanto se esperava que esses funcionários fizessem alguma coisa, eles, na verdade, não reagiram ou impediram as agressões. Então, quando existe essa falha corporativa é preciso se analisar o que está acontecendo porque algo está errado”.

Sociedade

O reitor ressalta que é preciso compreender que o racismo produz malefícios para todos. “O racismo não é prejudicial apenas para o negro, ele fere a sociedade. Temos agora uma mulher viúva, a categoria dos vigilantes sendo encarada com desconfiança, os funcionários da empresa prejudicados pelo ocorrido. Ou seja, do menor dano, até o mais grave, que é a vida dos negros”, finaliza.

Segundo o Atlas da Violência 2020, para cada indivíduo não negro morto em 2018, foram mortos 2,7 negros. Já de acordo com o 14° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, das 4.971 crianças e adolescentes brasileiros mortos em 2019, 75% era negros.


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