Após manifestar a intenção de ampliar o intervalo entre as duas doses da Coronavac, de 28 para 43 dias, o governo de São Paulo mudou o discurso, e diz, agora, que questionou o Ministério da Saúde apenas se poderia aplicar todas as doses que estão no estado no momento, para imunizar mais pessoas, com a garantia de que a segunda dose chegaria no prazo.
“O que foi pleiteado, o questionamento, é se nós poderíamos usar essas doses guardadas para ampliar a imunização de forma mais célere, e que o ministério (da Saúde) desse uma garantia de que aquele prazo da segunda dose (até 28 dias), nós teríamos mais vacinas. Isso não foi colocado pelo ministério, e por questão de segurança e respeito, mantivemos essas doses guardadas”, afirmou o secretário de Saúde do estado, Jean Gorinchteyn.
Porém, na última quarta-feira (27), o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que não haveria “problema algum” em ampliar o intervalo em mais 15 dias. “A segunda recomendação é que o prazo de 28 dias pode ser estendido sem problema algum até por mais 15 dias. No estudo, aconteceram alguns casos que tiveram essa vacinação, e não houve nenhum problema do ponto de vista da resposta imunológica”, disse.
Para tal mudança, seria preciso aval do Ministério da Saúde, com uma alteração no Plano Nacional de Imunização (PNI). Na ocasião, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que o governo enviaria ao ministério e ao coordenador do PNI um pedido para que fosse alterado o intervalo entre as doses. O Correio questionou o ministério, na última quinta-feira, sobre a possibilidade de mudança, e a pasta afirmou que “não há, até o momento, evidências científicas de que a ampliação desse intervalo irá oferecer a proteção necessária à população”.
Ainda nesta sexta-feira, a coordenadora de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de SP, Regiane de Paula, afirmou que todos os profissionais que receberam a primeira dose em 17 de janeiro têm garantida a segunda dose em 14 de fevereiro, totalizando um intervalo de 28 dias. "Cumpriremos de forma clara os 28 dias para aplicação da segunda dose de todo o grupo que compõe a fase um”, afirmou.
O secretário Jean Gorinchteyn afirmou que a pasta “teve um cuidado muito grande para que todos aqueles que recebessem a primeira dose tivessem garantido o direito da segunda”. “Através do controle, do armazenamento da segunda dose, que passa a ser distribuída a partir dessa semana, garantindo que cheguem às municipalidades, tivemos todo o zelo para que quem tomou a primeira dose receba a segunda”, disse.
Nesta sexta-feira, o diretor do Butantan não citou a ampliação do intervalo, mas disse não concordar com a posição do ministério de reservar 50% das doses. “Acho que isso não é condizente com a gravidade da pandemia, não acho eticamente sustentável. Acho que há aí uma análise não factual. É uma análise burocrática, que não tem levado em consideração a gravidade do momento”, pontuou.
De acordo com ele, há municípios que estão utilizando integralmente as doses — contradizendo o secretário, que afirmou que as segundas doses estão guardadas e sendo distribuídas nessa semana. “Se existem doses disponíveis, porque não utilizar, e na hora que chegar o momento certo, da segunda dose, obviamente que haverá a segunda dose. O que não faz muito sentido nesse momento é reservar na prateleira 3 milhões de doses que foram liberadas. Acho que não é uma medida acertada”, afirmou.
As falas de Covas, de que não haveria problema algum em aumentar o intervalo entre as duas doses, contrariam orientações do próprio Butantan. Em texto divulgado no site no último dia 22, a instituição diz que o estudo para testar a eficácia da Coronavac, produzida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, apontou que “a melhor resposta imune acontece no maior intervalo de tempo entre a aplicação das duas doses — entre 21 e 28 dias”. O instituto ainda diz que no estudo, “a maioria das vacinas foi aplicada no intervalo de 0 a 14 dias devido à situação emergencial da população envolvida”.
Além disso, a Anvisa orienta que a bula da vacina seja sempre seguida. Na última quinta-feira, a agência voltou a ressaltar que os estudos mostram a eficácia apenas se os intervalos previstos na bula forem seguidos.
“A bula aprovada para as vacinas em uso emergencial indica a administração de duas doses. A aprovação da Anvisa está baseada nos dados dos estudos apresentados. Ou seja, os estudos só mostram a eficácia apontada se esses intervalos forem seguidos, pois é o que está demonstrado nos dados de pesquisa apresentados até o momento. A Anvisa recomenda que o intervalo aprovado seja seguido”, afirmou a agência em nota ao Correio.
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