Distanciamento na pandemia

Dia dos avós: netos ensinam a não perder contato devido a bloqueios com tecnologia

A dificuldade dos idosos em usar a internet existe, mas os netos estão aí para desmistificar a tecnologia e garantir a comunicação em tempos de pandemia

Mariana Araújo* Yasmin Ibrahim*
postado em 26/07/2021 16:53
 (crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)
(crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)

Que falta faz um abraço aconchegante, aquele cheirinho doce e uns conselhos que só poderiam vir dos avós, não é mesmo? Ficar longe dessas pessoas que nos dão tanto carinho e amor tem ficado cada vez mais complicado durante esse período pandêmico.

Apesar de ser comemorado há muitos anos, foi apenas em 2021 que o papa Francisco instaurou o dia mundial dos avós, em homenagem aos avós de Jesus, Santa Ana e São Joaquim. Neste ano, o Vaticano colocou como mensagem pelo dia dos avós o trecho: “Eu estou contigo todos os dias” (cf. Mt 28,20).

Por conta das cirurgias que o pontífice passou, ele não pôde presidir a missa em homenagem aos avós e aos idosos, marcada para domingo (25/7), tarefa que foi realizada pelo presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, dom Rino Fisichella, na Basílica de São Pedro. O Papa enviou sua homilia para que fosse lida por dom Rino.

Como a revolução tecnológica passou diferente para cada geração, é normal que muitos avós não saibam mexer em smartphones e computadores, o que dificulta o contato com os netos. A capixaba Lívia Andrade, 28 anos, mora com a família em Brasília há pouco mais de quatro anos, mas seus avós maternos ainda moram no Espírito Santo.

Dona Luíza e Seu Dorgival vivem em Guarapari (ES), mas a distância não faz do amor entre os avós e a neta menor. Como eles já passam dos 80 anos, ficou complicado para que a neta os ensinasse a mexer com smartphones, então eles continuam se comunicando pelo modo mais convencional: pelas ligações telefônicas.

“Eu ligo, eles ligam, e conversamos por muito tempo. Mesmo sem a pandemia é difícil nos encontrar com frequência por conta da distância entre os estados, mas nunca deixamos de ser próximos”, contou Lívia.

Além disso, ela disse que buscou outras maneiras de se fazer presente no dia-a-dia dos avós. “Consegui telefones e endereços de padarias e mercados locais próximo a eles, então, sempre que possível, tento enviar alguma coisa. Além disso, o formato delivery tem ajudado bastante, pois posso comprar as coisas para eles por aplicativo”.

A publicitária, Brenda Gonçalves, 24 anos, mora com sua avó em Santa Maria (DF), que também não gosta de muita tecnologia. Joaquina Gonçalves, 72 anos, se recusa a receber um telefone com internet pois prefere ligar. “Ela tem muita dificuldade, e não quer ter que ficar pedindo toda hora para ensiná-la, ela não gosta de depender dos outros.” explica, Brenda.

A aposentada tem o costume de falar com os familiares mais distantes, todos os domingos, mas apenas por ligação. Isso porque a idosa aceitou com mais facilidade o uso dos celulares mais simples, que substituíram os telefones fixos e orelhões.

Brenda conta que atualmente, ela tem feito ligações por vídeo e colocado a avó para usar o recurso, mas ela ainda prefere as ligações comuns. “No começo, minha vó não gostava que colocássemos ela nas chamadas de vídeo, hoje ela já está mais habituada, mas ainda prefere ligação.” afirma.


A internet como auxílio a saúde mental

Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em março deste ano, apontou um crescimento de 29% dos usuários da internet com mais de 60 anos. A comparação é entre os anos de 2018 e 2021.

A pesquisa também revela a motivação desses novos internautas. Entre as mais comuns estão a procura por informações e notícias, manter o contato com outras pessoas e procurar por produtos e serviços. Em decorrência da pandemia, outro ponto perceptível são os impactos emocionais, principalmente pelo distanciamento das pessoas, o que influenciou significativamente no uso da internet por idosos.

O psicólogo clínico Igor Barros contou que a pandemia pegou os idosos de surpresa e que as mudanças para o isolamento social mexeram com a melhor idade tanto de forma física quanto mental “O carinho, afeto, é muito importante, pois a tecnologia não conseguiu suprir a necessidade do olho no olho, tocar, escutar no pé da orelha os cochichos e declarações dos netos. É neste momento de troca, de toque, que as pessoas produzem endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina, hormônios essenciais para manter a felicidade, prazer entre outros bons sentimentos”, explicou.

Além disso, Barros contou que muitos vão para a terapia sem perspectiva do que fazer durante todo esse tempo de isolamento e, de certo modo, com a vida. Por isso é tão importante continuar dando atenção àqueles que tanto cuidaram de nós. “Esta pandemia veio para mostrar o quanto somos muito frágeis emocionalmente e despreparados para cuidar de nossos sentimentos e pensamentos. Todos precisamos de um pouco de carinho e vamos praticar mais este cuidado com quem cuidou de nós quase a vida toda. Parabéns aos vovôs!”

 

*Estagiárias sob supervisão de Lorena Pacheco 

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