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Sintomas de doenças pulmonares graves se manifestam muito cedo

No Brasil, 58 milhões de pessoas convivem com algum tipo de doença pulmonar. No mundo, um sexto de todas as mortes decorre de enfermidades dos pulmões

Luana Patriolino
postado em 07/10/2021 06:00
Rafael Stelmach, professor da USP e presidente da Fundação ProAR -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Rafael Stelmach, professor da USP e presidente da Fundação ProAR - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O Brasil enfrenta um grande desafio para cuidar de pacientes com doenças pulmonares graves, sobretudo, a fibrose cística. Na avaliação do médico Rafael Stelmach, professor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Fundação ProAR, o assunto entrou em destaque por conta da pandemia da covid-19, mas ainda faltam debates sobre outras enfermidades e tratamentos efetivos.

Stelmach afirma que as doenças pulmonares não são tão conhecidas pela população. “Isso ficou muito mais claro com a questão da covid. Eu disse, no ano passado, que, finalmente, as pessoas estão entendendo que temos pulmões e não somente coração. As pessoas morriam de doenças respiratórias, mas o laudo era de doenças cardiopatas”, ressalta. Mas isso está mudando. “Realmente, as doenças crônicas, principalmente as mais graves, começam a se manifestar cedo, como não tão impactantes e não tão graves. Mas, com o passar do tempo e a falta de tratamento adequado, o quadro se complica”, alerta.

O professor, que tem uma carreira consolidada na saúde e também um trabalho importante ligado à gestão, defende a importância do engajamento da sociedade sobre tema. “O médico recebe os pacientes e os atende, mas a interação com o Brasil não é tão comum. Eu tive a oportunidade de implementar o primeiro protocolo de doenças pulmonares crônicas em São Paulo”, destaca. Desde então, os problemas respiratórios graves ganharam maior visibilidade e atenção.

Mortalidade

Outra preocupação de Stelmach é com o aumento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Popularmente chamada de enfisema pulmonar ou bronquite crônica, é uma enfermidade comum com inflamação e redução do fluxo aéreo pulmonar provocando sintomas persistentes. A causa principal é histórico de tabagismo, ou ser fumante atual. A DPOC é um dos principais problemas de saúde pública entre pessoas de 40 anos ou mais, estando entre as principais causas de mortalidade e morbidade no mundo.

“A fibrose cística, a asma grave e a DPOC são doenças que têm impacto importante na capacidade pulmonar, mas a maior parte dos pacientes não é muito grave. Mas existe uma parcela muito importante que é grave. É nisso que estamos focando agora em função da dificuldade de tratamentos”, ressalta o médico. Essas patologias, destaca o especialista, podem destruir os pulmões devido à demora para os diagnósticos, porque não fazem barulho.

No Brasil, segundo o estudo do Projeto Latino-Americano de Investigação em Obstrução Pulmonar, um importante estudo epidemiológico, 9% das pessoas com idade média de 40 anos têm DPOC. Isso representa quase 8 milhões de brasileiros, pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos últimos 10 anos, DPOC foi a quinta maior causa de internação no Sistema Único de Saúde (SUS) de pacientes com mais de 40 anos, com cerca de 200 mil hospitalizações e gasto anual aproximado de R$ 72 milhões, conforme o Ministério da Saúde.

Stelmach alerta para a falta de tratamentos específicos para as doenças. “Todo mundo que viveu e está vivendo a covid-19 sabe o que acontece quando se tem o ‘não tratamento’. Falta de ar, tosse, senão a morte. Não é possível viver sem os pulmões trabalhando adequadamente”, diz. Ele entende que, diante das doenças respiratórias graves, é preciso apostar cada vez mais no SUS, que atenda o grosso da população.

Transparência

A Fundação ProAR reúne profissionais da saúde, pacientes e entusiastas que têm como objetivo expandir o acesso ao diagnóstico e ao tratamento das doenças respiratórias crônicas como fibrose cística, asma grave, DPOC, câncer de pulmão e tuberculose. À frente desse projeto, Rafael Stelmach ressalta a importância da intermediação da entidade nas relações entre especialistas, indústrias, organizações e sociedade civil.

“O objetivo é colocar em prática as técnicas e as necessidades dos pacientes e trabalharmos juntos”, afirma. “Não é somente de professores e profissionais de saúde, mas também pessoas, pacientes ou não, que queiram participar com a gente nessa tarefa. Por isso, a nossa aproximação com a Frente Parlamentar (que está sendo criada pelo Congresso), assim como a associação dos pacientes”, diz o médico.

No Brasil, 58 milhões de pessoas convivem com algum tipo de doença pulmonar. No mundo, um sexto de todas as mortes decorre de enfermidades dos pulmões. Portanto, quanto mais a sociedade estiver ciente da gravidade das doenças respiratórias, mas ela cobrará dos governos acesso a tratamento adequado. E isso passa pela transparência e pela boa informação. “Não podemos esquecer que as doenças começam a se manifestar cedo”, afirma Stelmach. 

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