CRISE

Presidente da Anvisa diz que carta para Bolsonaro representa coletividade da agência

Barra Torres entra em defesa do corpo técnico após falas de Bolsonaro sobre a vacinação para crianças

Fernanda Strickland
postado em 11/01/2022 22:33
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

Em entrevista gravada para a edição desta quarta-feira (12/1) do programa Foco, da jornalista Andréia Sadi, na GloboNews, o contra-almirante Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), comentou a respeito da carta que endereçou ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

Segundo Torres, apesar da carta ter sido assinada por ele, é uma fala de todo corpo técnico da agência. Ele também diz que escreveu na carta que caso Bolsonaro saiba de qualquer tipo de corrupção dentro da agência, como insinuado, não prevarique e denuncie. Ou se retrate.

“Na nota, eu cito, logo no primeiro parágrafo, de onde eu venho, o tempo que eu passei lá, cito a minha família, a minha origem, a minha atividade técnica dentro da medicina, cito a minha fé cristã. E embaixo eu coloco ali qual é o motivo daquela correspondência, o que nos impactou e que gerou aquela correspondência”, conta Barra Torres.

O diretor-presidente da Anvisa explicou ainda, o porque assinou na carta, além do cargo de diretor-presidente da Anvisa, a atuação como médico e a origem militar. “Poderia ser eu de outra área qualquer. Poderia ser eu até não ser médico e não ter o passado militar, mas o objetivo da assinatura foi metódico. E como ouvi alguns ruídos, eu faço questão de deixar bem claro. Se alguém ficou com dúvida, então eu esclareço a dúvida: a colocação de ‘Marinha do Brasil’ foi pura e tão somente pelo método da assinatura”, assegurou.

Confira carta de Barra Torres a Bolsonaro:

“Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta “Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?”, o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:

Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.

Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.

Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.

Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.

Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.

Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.

Antonio Barra Torres
Diretor Presidente – Anvisa
Contra-Almirante RM1 Médico
Marinha do Brasil”.

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