COVID-19

Fiocruz: resistência à vacinação infantil pode atrapalhar volta às aulas

Segundo instituto, difusão de notícias falsas tem provocado resistência das famílias sobre a eficácia e a segurança do imunizante pediátrico

Gabriela Bernardes*
postado em 16/02/2022 18:22 / atualizado em 16/02/2022 18:22
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

Em nota técnica divulgada nesta quarta-feira (16/2), o Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) chamou atenção para a resistência dos pais em relação à vacinação de crianças contra a covid-19. Segundo o instituto, este processo resulta em lentidão na cobertura vacinal de primeira dose das crianças, em contexto preocupante, de retorno das atividades escolares.

“Mesmo com evidências científicas favoráveis à vacinação contra covid-19 entre crianças no Brasil, a difusão de notícias falsas tem provocado resistência das famílias sobre a eficácia e segurança da imunização para a faixa etária entre 5 e 11 anos”, diz o texto.

O documento apresenta um panorama atual da vacinação contra o novo coronavírus entre as crianças e aponta a grande heterogeneidade no nível subnacional, reforçando a necessidade de articulação de todas as esferas de gestão para a expansão da cobertura vacinal no país. Os pesquisadores da Fiocruz avaliam que, em um cenário em que apenas este grupo não está imunizado, ele se torna particularmente vulnerável à infecção e à disseminação do vírus, inclusive entre outros grupos etários.

Os especialistas citam que o crescente movimento antivacina possui contorno diferente daquele observado em outros países. “Trata-se aqui de um receio seletivo para a vacina contra a covid-19. Mais do que nunca, cabe o devido esclarecimento à sociedade civil, com linguagem simples e acessível sobre a importância, efetividade e segurança das vacinas, envolvendo a responsabilidade de todos os níveis de gestão da saúde no país”, pontuam.

Nesse sentido, a volta às aulas é necessária, mas com a devida proteção às crianças. O documento destaca que a urgência, nesse momento, é por acelerar a distribuição de vacinas para todas as unidades da Federação e o fortalecimento de uma rede colaborativa que faça os esclarecimentos necessários junto à população.

Discrepância entre os estados

Os dados apresentados apontam que a heterogeneidade entre estados e capitais é notável: todas as Federações da região norte do país encontram-se abaixo da média nacional. Entre as unidades federativas, apenas sete possuem cobertura de primeira dose maior do que a média nacional: Rio Grande do Norte, Sergipe, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal. O pior desempenho está no Amapá, com apenas 5,3% da população na faixa etária entre 5 e 11 anos vacinada.

A nota técnica mostra que a cobertura vacinal de primeira dose é diretamente proporcional e maior nos estados onde a expectativa de vida ao nascer e o IDH são também maiores. Ao contrário disso, a cobertura vacinal de primeira dose é menor onde há maior desigualdade de renda, pobreza e internações por condições sensíveis à atenção primária. Além disso, a cobertura vacinal de primeira dose possui relação inversa com a proporção de crianças na faixa etária elegível. Nos locais em que a proporção de crianças de 5 a 11 anos é maior, há menor cobertura vacinal de primeira dose para este grupo.

“A cobertura vacinal de primeira dose possui forte correlação inversa com a proporção de crianças elegíveis (-0,73). Este parece ser um efeito relacionado ao ritmo de expansão da vacinação, já que nos estados com maior número de crianças elegíveis avançou-se menos”, explicam os pesquisadores.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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