CB.Poder

"Brasil tem uma grande questão racial a resolver", diz desembargador

Para William Douglas, desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, as injustiças e o preconceito racial geram oportunidades desiguais para os brasileiros

Gabriela Bernardes*
postado em 09/03/2022 16:49 / atualizado em 09/03/2022 17:27
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

A cor de pele interfere nos mais diversos âmbitos da vida de um brasileiro. A fome esteve presente em 10,7% das residências habitadas por pessoas pretas e pardas, nas famílias brancas, o número cai para 7,5%, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Já no mercado de trabalho, segundo a Infojobs, 75% dos profissionais negros sentem dificuldades de colocação por causa de sua raça. Para William Douglas, desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, o Brasil ainda tem muito o que transformar na questão racial.

“A fotografia do Brasil é composta por 55% de negros, que é o grupo de conta com os pretos e os pardos, e 45% de brancos. Entre os mais pobres, 75% são negros. Isso já mostra que a gente tem um problema racial a resolver”, afirmou o desembargador, que foi o convidado desta quarta-feira (9/3) no programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília.

Segundo Douglas, as injustiças e o preconceito racial geram oportunidades desiguais para os brasileiros, e prejudicam o desenvolvimento do país. Para o professor de direito, a questão racial deve ser discutida e enfrentada com urgência.

O desembargador faz parte de diversos projetos que buscam a igualdade racial e social. Além de embaixador da Missão Vida, projeto que auxilia pessoas em situação de rua, Douglas é professor voluntário no Coletivo Justiça Negra Luiz Gama e coordenador de Empreendedorismo do Projeto Cristolândia, da Junta de Missões Nacionais, da Convenção Batista Brasileira.

O jurista ainda é membro da Educafro, projeto voltado à linha do movimento negro, que tem como principal objetivo, inserir e garantir a permanência de negros e pessoas da camada popular dentro das universidades públicas.

Para ele, apesar da discussão da eficiência de cotas raciais e de sua necessidade, é evidente que esse tipo de política social trouxe avanços para a população negra no Brasil. “O mais importante a dizer é: as universidades públicas, hoje, são os lugares onde negros estão em percentual mais parecido do que o resto da população. A gente deve comemorar esse avanço Seja cota racial, seja cota social, o que precisamos é dar dinheiro para possibilitar que esse cidadão estude. Não adianta você simplesmente colocar uma pessoa dentro da faculdade”, disse.

“Estamos evoluindo, mas ainda tem mais o que fazer. E o que eu acho extremamente importante é: não é uma questão de direita e esquerda, branco e preto. É uma questão nacional, tem que ser uma política de Estado, e não de governo. E todos têm que entender que esse é um problema de todos. Se conseguirmos isso, a gente vai achar um caminhão de solução e chegar a um denominador comum”, pontuou o desembargador.

Autor de mais de 60 livros, William Douglas lança, em breve, a obra “Liberdade, Liberdade!”. Segundo ele, o título aborda a importância das liberdades de expressão e religiosa no desenvolvimento da sociedade. “Liberdade de expressão e liberdade religiosa são temas que — independentemente de posição política, de gênero, ou de raça — as pessoas precisam se preocupar. Só assim nós teremos um país onde a Constituição, o artigo 5º, e as Declarações dos Direitos Humanos serão respeitados", disse.

Concurso público

O desembargador tem mais de 10 obras escritas para auxiliar estudantes que visam passar em um concurso público. Na entrevista, o desembargador analisou que, a longo prazo, esse tipo de exame ainda será extremamente necessário para manter o bom funcionamento das instituições. “O concurso público continua sendo um bom caminho. A Constituição prevê o concurso e nós precisamos proteger esse princípio, porque o servidor público, quando entra por concurso, não precisa dar satisfação ao governante da ocasião. Assim, ele vai atender ao interesse público. Agora, quando ele está em um cargo de comissão ou quando um governante pode mandá-lo embora, ele tem medo. Se nós queremos um país melhor, nós temos que valorizar o concurso público”, afirmou.

“A gente [servidores públicos] precisa ser tão eficiente quanto no serviço privado, ou até melhor. A diferença é que o nosso lucro não vem em dinheiro, ele vem em serviços prestados à sociedade”, comentou Douglas.

Confira a entrevista na íntegra:

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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