Violência

PCC matou ladrões que balearam criança com ‘coquetel da morte’ em SP

O menino Brayan, de 5 anos, foi assassinado durante um assalto à casa em que ele morava com os pais, dois bolivianos costureiros

Correio Braziliense
postado em 06/04/2022 12:25
O Gatorade é um coquetel da ‘morte’ criado pelo PCC para cometer assassinatos sem deixar pistas de crime. A bebida é composta por cocaína, viagra, creolina e água -  (crédito: Pixabay)
O Gatorade é um coquetel da ‘morte’ criado pelo PCC para cometer assassinatos sem deixar pistas de crime. A bebida é composta por cocaína, viagra, creolina e água - (crédito: Pixabay)

Em junho de 2013 o bairro de Vila Bela, zona leste de São Paulo, sofreu um momento de crueldade que repercutiu nacionalmente: o assassinato do menino Brayan, de 5 anos, durante um assalto à casa em que ele morava com os pais, dois bolivianos costureiros. A criança foi baleada à queima-roupa na cabeça por chorar durante a ação dos ladrões.

Quase 10 anos depois, os advogados de dois dos cinco assaltantes vieram à mídia revelar que os homens foram assassinados pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) dentro do presídio em que estavam, em um gesto de vingança contra o crime brutal.

Depois de torturá-los e espancá-los, integrantes da facção criminosa presentes no Centro de Detenção Provisória (CPD), em São Paulo, obrigaram os assaltantes a beber o Gatorade, um coquetel da "morte" criado pela entidade para cometer assassinatos sem deixar pistas de crime. A bebida é composta por cocaína, viagra, creolina e água. As informações são do jornalista Josmar Jozino, da Uol.

O assalto ocorreu em 28 de junho de 2013, quando os cinco ladrões com armas de fogo e facas invadiram um sobrado humilde em que moravam, além de Brayan e os pais, outros seis bolivianos. Os costureiros entregaram os pertences de valor aos assaltantes: R$ 4,5 mil, guardados com afinco pela família. Um dos criminosos, Diego Rocha Freitas Campos, de 20 anos, achou o valor muito baixo e exigiu mais.

A mãe do garoto, Verónica, chegou a se ajoelhar, com o filho no colo, e jurar que não tinha mais nada. Irritado, Diego ameaçava matar todos. Brayan, assustado, começou a chorar e até resgatou algumas moedas do cofrinho que tinha para dar à quadrilha, enquanto pedia para eles não machucarem ninguém.

Diego, agitado e insatisfeito, ficou mais violento com o choro do garoto. Poucos momentos depois, ele atirou à queima-roupa na cabeça de Brayan. O assassinato ganhou repercussão nacional, enquanto policiais civis e militares cercavam o bairro à procura da quadrilha. Uma onda de militares invadiu o território dominado pelo PCC e atrapalhou a venda de maconha e cocaína no local, o que atrapalhou os lucros da facção criminosa.

Em poucos dias, o PCC emitiu um comunicado que decretava a morte dos assassinos do garoto. No anúncio transmitido nas ruas e nos presídios, eles falavam sobre se vingar à altura pelo crime. Enquanto isso, a Polícia Civil identificou os cinco acusados, mas prendeu apenas Paulo Ricardo Martins, de 19 anos.

Com a caçada iniciada pelo PCC, outro assaltante, Felipe dos Santos Lima, 18, se entregou aos policiais, na presença do advogado David Ferreira Lima, por ter medo de morrer pelas mãos dos integrantes da facção.

Segurança prejudicada: cadeia não deixou os acusados à salvo da facção criminosa

Os dois assaltantes foram transferidos para o Centro de Detenção Provisória (CPD) de Santo André, em São Paulo, em 27 de agosto de 2013. No entanto, apesar da polícia saber sobre o comunicado do PCC, os agentes penitenciários alojaram os criminosos na cela 46 do Pavilhão 4, que era dominado pela facção.

Em um banho de sol, os dois foram torturados e agredidos com socos e pontapés. Felipe chegou a ficar com o rosto desfigurado. Após a violência, os homens foram obrigados a tomar o coquetel da morte, chamado Gatorade, uma mistura de viagra, cocaína, água e creolina. Em apenas 30 minutos, os homens estavam mortos.

Os dois chegaram a ser levados, em cadeiras de roda, para a enfermaria do presídio, mas já era tarde demais. O laudo pericial mostrou que os criminosos morreram por overdose de cocaína, o que isentou os integrantes do PCC de serem punidos. Além disso, nenhum funcionário do centro de detenção foi responsabilizado criminalmente pelas mortes.

O advogado de Felipe, David Ferreira, contou ao jornalista Josmar Jozino, que sugeriu ao cliente que ele se entregasse à polícia por acreditar que ele estaria mais seguro na prisão, do que fora dela. Para o defensor, o Estado não garantiu a integridade física do homem.

David e o advogado do outro criminoso assassinado, Paulo Martins, entraram com ação de danos morais e materiais na Justiça, que entendeu que era responsabilidade do Estado manter os criminosos em segurança.

Em 2016, a Justiça determinou uma indenização de R$ 26,4 mil para a família de Felipe por danos morais. Já em 2017 foi a vez dos pais de Paulo receberem R$ 26,4 mil pelo assassinato do filho.

Fim da caçada: o assassino de Brayan foi condenado a ser assassinado pelo próprio tio

O responsável pela morte de Brayan, Diego Rocha, escapou da busca policial, mas o “tribunal do crime” do PCC logo o encontrou. Os integrantes da facção descobriram que o homem estava sendo escondido pelo tio, que também tem antecedentes criminais.

O tio de Diego foi levado a uma espécie de julgamento da facção e, pela infração de esconder o parente, foi condenado a matar o próprio sobrinho, caso contrário seria assassinado. O homem acatou a ordem e matou Diego com vários tiros. O corpo do criminoso foi encontrado em 7 de julho de 2013, em Jaçanã, na Zona Norte de São Paulo.

No mesmo dia, Wesley Soares Pedrosa, de 19 anos, que também fazia parte do grupo que assaltou a casa dos pais de Brayan, foi assassinado pelo PCC, com um tiro na cabeça. O corpo dele foi encontrado três dias depois.

Os pais de Brayan, Verónica e Edilberto Yanarico, voltaram para a terra natal, em Tacamara, na Bolívia, após o assassinato. O corpo do garoto foi enterrado na cidade dos pais.

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