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Em carta, filha pede a chefe da mãe que a dê folga para evento de escola

A exigência foi uma brincadeira do chefe da mãe com a menina de 8 anos. Mas ela levou a condição a sério e enviou o texto "formalmente"

Jéssica Andrade
postado em 05/05/2022 20:55 / atualizado em 05/05/2022 21:45
A pequena Olívia, de 8 anos, enviou um
A pequena Olívia, de 8 anos, enviou um "despacho" para o chefe da mãe dela, Patrícia, solicitando que a matriarca pudesse participar da celebração de dia das mães na escola - (crédito: Patrícia e a filha Olívia - Arquivo Pessoal)

Quem tem filhos sabe que nem sempre é possível participar dos eventos escolares por causa do trabalho. No entanto, um advogado de Goiânia mostrou que essa realidade pode ser diferente. Ele liberou uma funcionária para a apresentação do dia das mães na escola da filha sob uma condição: a menina tinha que enviar uma carta formal solicitando a liberação.

A exigência de Nayron Divino Toledo Malheiro, advogado e diretor jurídico do Procon Goiânia, claro, foi uma brincadeira com a pequena Olívia, de 8 anos. Mas a menina levou a condição a sério e enviou o texto “formalmente” ao chefe da mãe, Patrícia Finotti.

Com a mesma “formalidade”, o advogado respondeu a carta por meio de um “despacho”, com número, carimbo e tudo, informando à garota que a solicitação seria aceita sob outras condições: uma visita e um abraço! Nayron compartilhou a brincadeira nas redes sociais e logo viralizou.

O post foi compartilhado por portais de outros países e até pelo humorista Whindersson Nunes.

Na legenda do post, o advogado, de 38 anos, explica que a assessora já tinha pedido autorização para comparecer ao evento de Dia das Mães da escola. "Falei que só autorizaria se existisse pedido formal de sua pequena, e hoje pela manhã recebo está linda cartinha! Diante disso tive que responder a cartinha de modo formal autorizando desde que se cumpra um requisito: uma visita e um abraço!", escreveu o profissional.

Patrícia trabalha no setor administrativo e cuida dos despachos e pareceres jurídicos do local. Dias antes da apresentação, que aconteceu na última quarta-feira (4/5), Patrícia comentou com o chefe que a filha já vinha cobrado há uma semana se ela havia pedido ao chefe a liberação para ir à apresentação. "Ela falou: mãe, tem que pedir para o Dr Nayron", comenta o advogado.

"Como vi que ela estava falando toda formal, brinquei que teria que ser um pedido formal", conta o profissional. No dia seguinte, a menina cumpriu com o requisito. "Achei muito bonito, principalmente no envelope que estava escrito: "para o chefe da Patrícia". Tinha aquela dificuldade também de como se referir: se é tio, doutor, ou Nayron. Foi muito bonitinho. Me derreti naquele momento", lembra o chefe.

"Fiz isso porque é um tipo de serviço que ela sabe que a mãe dela faz. Até mesmo para interagir, mostrar a importância do trabalho da mãe. E ela também se sentir importante, porque recebeu um documento oficial", declara Nayron.

Em entrevista ao Correio, o diretor jurídico disse que ficou sensibilizado com os relatos que recebeu na publicação, de pessoas que disseram sofrer por não ter a mesma oportunidade de participar da vida escolar dos filhos. Segundo ele, alguns lembraram a falta que os pais faziam nos eventos do colégio.

“Era tão impensável eu negar o pedido que me surpreendi com a quantidade de pessoas que disseram que os chefes jamais permitiriam o mesmo”, destacou o advogado, ao comentar que não teve a intenção de viralizar, apenas de compartilhar a “fofurice”, com os amigos e alunos, já que também é professor.

Para ele, especialmente em um cenário de pandemia, é preciso ter empatia. "Uma hora que você permite que seu funcionário compartilhe momentos únicos com os filhos faz toda a diferença. Até mesmo na motivação do dia a dia", defende ele.

A mãe da pequena Olivia afirmou que achou interessante ela se preocupar, dentro do conhecimento dela, em escrever uma carta formal, mas ao mesmo tempo, levando a sensibilidade da própria da criança. "Ela é muito amável e gosta muito de escrever. Como nós (pais) trabalhamos com a escrita, ela caprichou na formalidade", comenta. 

"Eu e meu marido temos empresa e funcionários e entendemos que o colaborador é um se humano que precisa ser valorizado para se identificar com o ambiente de trabalho. Isso é bom para todos, tanto empresa quanto colaborador. E a criança vê isso e leva esse respeito para a vida adulta também", acrescenta Patrícia. 

Sobre a do chefe, ela disse que se sentiu importante por ele dar atenção para a demanda da Olívia. "Fiquei lisonjeada e me senti valorizada como ser humano e mãe", afirma.

Segunda a matriarca a apresentação foi um sucesso. "Faziam dois anos que não havia esse encontro e todos ansiavam", revela, ao ressaltar que o motivo dessa comoção são os resquícios da pandemia e o isolamento social. "Estamos todos carentes de afeto, respeito e empatia. A gente precisa disso, é o que move o mundo e faz dele um lugar melhor. 

A família revelou que, embora a criança esteja curtindo a repercussão, eles estão fazendo o possível para preservá-la dos possíveis efeitos nocivo da fama nas redes sociais. Segundo Patrícia, o que a filha mais gostou na história não foi o fato da carta ter viralizado, mas da mãe ter conseguido comparecer à apresentação.

Confira a carta da Olívia e o "despacho" de Nayron na íntegra: 

 

  • Em resposta a carta de Olívia, Nayron enviou um despacho informando as condições para a liberaçãoda mãe do trabalho. Despacho de Nayron Torres - material cedido ao Correio
  • A menina de 8 anos escreveu a carta de próprio punho, respeitando a norma culta e a estrutura de um ofício, dentro de seu conhecimento. Carta da Olívia - material cedido ao Correio

 

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