DESAPARECIMENTO

"Governo do Brasil, onde estão Dom e Bruno?", questiona esposa de repórter

"Cada segundo conta", pontuou Alessandra Sampaio. Ela afirma que reza para que seja um problema mecânico, mas que entende o "cenário vivido" pela Amazônia

Talita de Souza
Cecília Sóter
postado em 06/06/2022 22:25 / atualizado em 06/06/2022 22:29
"A noite agora se aproxima e Dom está em algum lugar da floresta esperando por ajuda. Como atravessar essa noite sabendo que Dom está desaparecido?", lamenta a mulher - (crédito: Reprodução/Redes sociais)

Após 39 horas da última vez que foram vistos, o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista Dom Phillips permanecem desaparecidos no Amazonas, entre a comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte. Sem notícias, a esposa do correspondente do The Guardian, Alessandra Sampaio, escreveu uma carta em que implora pelo apoio do governo federal.

“Quero implorar às autoridades brasileiras que busquem meu marido, Dom Phillips, e seu parceiro de expedição, Bruno Pereira, com urgência”, escreveu a mulher em uma carta compartilhada pelos jornalistas Roberto Kaz, da revista Piauí, e Eliane Brum.

“Autoridades brasileiras, nossas famílias estão desesperadas. Por favor, respondam à urgência do momento com ações urgentes. Governo do Brasil, onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira?”, questiona Alessandra.

Ela escreveu a carta na tarde desta segunda-feira (6/6). “No momento em que faço este apelo, eles já estão desaparecidos há mais de 30 horas no Vale do Javari, uma das regiões mais conflagradas da Amazônia”, contextualiza.

Alessandra alerta para a dificuldade que a noite traz para as buscas, ainda mais se os dois estiverem em situação de impossibilidade de se defender. “Na floresta, cada segundo conta, cada segundo pode ser vida ou morte. Sabemos que, depois que anoitece, se torna muito difícil se mover, quase impossível encontrar pessoas desaparecidas”, pontua.

A mulher escreve que reza para que o marido e o colega de trabalho, Bruno, estejam bem e impedidos de seguir “por algum motivo mecânico” e que tudo isso “vire apenas mais uma nova história numa vida repleta delas”.

No entanto, ela afirma que não pode deixar de pensar que o trabalho do marido traz riscos, ainda mais pelo “momento vivido pela Amazônia”, riscos esses “que Dom sempre denunciou como jornalista”.

“A noite agora se aproxima e Dom está em algum lugar da floresta esperando por ajuda. Como atravessar essa noite sabendo que Dom está desaparecido?”, lamenta a mulher.

Alessandra também conta que o marido escolheu morar no Brasil por amar a cultura e a vegetação do país. “Quero dizer a vocês que Dom Phillips, meu marido, ama o Brasil e ama a Amazônia. Ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui. Quinze anos atrás, Dom deixou seu país, a Inglaterra, para viver no Brasil”, expõe Alessandra.

Bruno e Dom sofriam ameaças, diz entidade que denunciou desaparecimento

O caso ganhou repercussão nacional na tarde desta segunda-feira (6/6) quando a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e o Observatório de Direitos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi) publicaram uma nota oficial sobre o desaparecimento.

Eles desapareceram neste domingo (5/6) por volta das 6h, no Vale do Javari, na Amazônia, quando faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte, distante 1.135km de Manaus.

Segundo a lideranças da Univaja, a viagem tinha o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena localizada próxima ao chamado Lago do Jaburu (próxima da Base de Vigilância da Funai no rio Ituí), para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas.

Dom Phillips e Bruno viajavam em uma embarcação nova, com motor de 40HP e 70l de gasolina, o suficiente para a viagem, e sete tambores vazios de combustível. Eles chegaram ao local de destino (Lago do Jaburu) em 3 de junho de 2022, às 19h25 e retornaram no dia 5, logo cedo para a cidade de Atalaia do Norte.

Antes de chegar ao destino final, no entanto, pararam na comunidade São Rafael, em uma visita previamente agendada, para que o indigenista fizesse uma reunião com o líder comunitário conhecido como "Churrasco". O encontro tinha o objetivo de consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território, bastante afetado pelas intensas invasões

Eles chegaram ao local por volta das 6h, onde conversaram com a mulher do líder comunitário, porque Churrasco não estava no local. Depois, partiram rumo a Atalaia do Norte, uma viagem que dura cerca de duas horas, mas nunca chegaram ao destino final.

"Às 16h (do domingo), outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi localizado. Vale ressaltar que o indigenista Bruno Pereira é uma pessoa experiente e que conhece bem a região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos", afirma o advogado da Univaja, Eliésio Marubo.

"Enfatizamos que, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, essa semana a equipe recebeu ameaças em campo, além de outras que já vinham sendo feitas à equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal e ao Ministério Público Federal em Tabatinga", afirmou Beto Marubo, membro da coordenação da Univaja, entidade composta por indígenas Marubo, Mayoruna (Matsés), Matis, Kanamary, Kulina-Pano, Korubo e Tsohom-Djapá.

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