Desaparecimento na Amazônia

Representante da Univaja critica postura "soberba" da PF durante coletiva

Em um movimento para fazer justiça, a Univaja agradece à Equipe de Vigilância da Univaja (EVU), aos policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga (AM) e à imprensa nacional e internacional. A associação considera o caso um crime político e prometem novas providências durante a semana

Tainá Andrade
postado em 16/06/2022 00:36
 (crédito: João LAET / AFP)
(crédito: João LAET / AFP)

Após a informação de que a PF encontrou os corpos que podem ser do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Philips, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) divulgou, em nota, que o assassinato constitui um crime político. O assessor jurídico da Univaja, Eliésio Morubo, criticou a postura “soberba” da Polícia Federal (PF) ao se colocar como a única executora do trabalho — nos agradecimentos, o superintendente Alexandre Fontes não mencionou os indígenas e ribeirinhos.

"A PF foi soberba, assumiram para si como se tivessem fazendo todo o trabalho e não foi", disse Eliésio durante live no perfil da Univaja no Instagram. Segundo ele, aforma da PF de fazer justiça era agradecer a quem foi imprescindível para dar um encaminhamento à localização dos dois desaparecidos. Foi mencionada a Equipe de Vigilância da Univaja (EVU) e os policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga (AM) que, segundo Morubo, foram “verdadeiros parceiros de busca” ao atuarem desde o momento do aviso de desaparecimento e colaboraram com a proteção dos indígenas.

 

Representante jurídico da Univaja, Eliésio Morubo, promete novas providências da associação ao longo da semana
Representante jurídico da Univaja, Eliésio Morubo, promete novas providências da associação ao longo da semana (foto: Reprodução / Instagram Univaja)

“O comandante disponibilizou três policiais para nos acompanhar e fazer as buscas na região, os dias que se seguiram foram acompanhados por eles. Foram servidores públicos de fé, honraram a farda, sentimos a presença do Estado por esses policiais que ficaram em atuação junto com os indígenas e trouxeram, de fato, a resposta que a sociedade precisava e que o mundo precisava”, disse.

De acordo com a Univaja, foi um trabalho dos indígenas o mapeamento do perímetro para ser vasculhado pelas autoridades. “Fomos nós, indígenas, através da EVU, que encontramos a área que, posteriormente, passou a ser alvo das investigações por parte de outras instâncias, como a Polícia Federal, o Exército, a Marinha, o Corpo de Bombeiros etc. Foi a equipe de vigilância da UNIVAJA que entrou na floresta em busca de Pereira e Phillips para dar uma satisfação aos seus familiares”, informou em nota. 

“Ambos eram defensores dos Direitos Humanos e morreram desempenhando atividades em benefício de nós, povos indígenas do Vale do Javari, pelo nosso direito ao bem-viver, pelo nosso direito ao território e aos recursos naturais que são nosso alimento e garantia de vida, não apenas da nossa vida, mas também da vida dos nossos parentes isolados”, diz outro trecho da nota. 

A Uivaja também fez um agradecimento direcionado à imprensa nacional e internacional que, segundo Eliésio, contaram a história do Vale do Javari. “Com certeza não será o mesmo depois do trágico desfecho. Foi nossa parceira, nos ajudando a levar para o mundo inteiro ouvir a nossa voz e conhecer o que está acontecendo em nossa região”, destacou.

O representante prometeu, ainda, que no decorrer da semana e na próxima haverá novidades sobre o caso. Tanto a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), quanto a Univaja estão levando as denúncias a organismos internacionais, como o Tribunal Penal Internacional (TPI).

“Manifestamos nossa preocupação com nossas vidas, a vida das pessoas ameaçadas (pois não era somente o Bruno Pereira), componentes do movimento indígena, quando as forças armadas e a imprensa se deslocarem de Atalaia do Norte. O que acontecerá conosco? Continuaremos vivendo sob ameaças? Precisamos aprofundar e ampliar a investigação. Precisamos de fiscalização territorial efetiva no interior da Terra Indígena Vale do Javari”, apelou. Precisamos que as Bases de Proteção Etnoambiental (BAPEs) da FUNAI sejam fortalecidas”, apelou.

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