POVOS ORIGINÁRIOS

Saiba quem é Rosane Kaingang, ativista homenageada pelo Google nesta sexta

A homenagem marca os 30 anos do início do ativismo de Rosane: há 30 anos, em 3 de junho de 1992, ela participou da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sediada no Rio de Janeiro

Quem utilizar o buscador do Google nesta sexta-feira (3/6) vai se deparar com uma homenagem da empresa a uma das principais ativistas indígenas brasileiras: Rosane Mattos Kaingang. A defensora dos direitos dos povos originários do Brasil estampa o Doodle do dia, ilustração feita diariamente pela empresa para comemorar personalidades ou datas comemorativas de todo o mundo.

"Kaingang é lembrada por sua dedicação e amor à comunidade indígena — uma verdadeira guerreira que nunca se calou diante da injustiça e da adversidade”, escreveu o Google na página em que explica a história da ativista.

A homenagem marca o início do ativismo de Rosane: há 30 anos, em 3 de junho de 1992, ela participou da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sediada no Rio de Janeiro, e chamou a atenção de autoridades do mundo para os direitos dos povos indígenas, principalmente, na época, para aqueles que residem no sul do país, onde o povo Kaingang habita.

De lá até 2016, ano em que a ativista faleceu, aos 54 anos, em Brasília, Rosane foi incansável em não só exigir as garantias de terra, educação e saúde aos indígenas, mas também em criar e consolidar estruturas que permitiriam a organização dos povos originários para a conquista de direitos.

Um exemplo disso é a criação do Conselho Nacional de Mulheres Indígenas do Brasil (Conami), na qual foi uma das fundadoras e a criação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), em 2009.

Ela também foi uma das responsáveis pela ampliação da atuação da Funai, órgão no qual ingressou em 2001 e ocupou o cargo de coordenadora-geral de desenvolvimento comunitário entre 2005 e 2007. Nessa posição, ela também criou uma estrutura para apoiar projetos de mulheres indígenas e incentivar a organização política delas.

Rosane trabalhou, também, na Articulação dos Povos Indígenas do Sul (Arpinsul) e, de acordo com Instituto Socioambiental (ISA), ela participou de dezenas de reuniões, seminários, audiências e mobilizações das delegações indígenas que vinham à Brasília de todos os cantos do Brasil, em especial ao Acampamento Terra Livre.

ISA/Reprodução - Rosane Kaingang começou a lutar pelos direitos dos povos originários em 1992, em uma conferência da ONU no Rio de Janeiro

Em 2016, ano de sua morte, ela atuou em uma missão do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) que investigou as condições de vida e violações aos direitos dos povos indígenas no sul do Brasil.

Sete meses antes de falecer, em março, Rosane chorou durante uma audiência pública na Câmara com a relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, ao contar sobre a morte do menino Kaigang Vítor Pinto, de 2 anos, degolado em Imbituda (SC), em dezembro de 2015.

“O que dói mais é a impunidade”, disse Rosane na ocasião, em um registro feito pelo ISA. No momento, ela pediu para a ONU intervir contra a violência direcionada aos povos indígenas, no que ela classificou como um ato de “racismo violento”. “O Brasil precisa ser punido, a corte internacional precisa tomar uma decisão imediatamente”, cobrou.

Na época, Rosane já estava debilitada pela luta contra um câncer, batalha que travou por três anos até falecer no Hospital Universitário de Brasília (HUB), em 16 de outubro de 2016.

"Rosane Kaingang foi um exemplo de luta, de persistência, de dedicação, de amor à causa indígena. E com essa mesma coragem e força ela enfrentou um maldito câncer que a levou para junto de seus ancestrais", comentou Sônia Guajajara, da coordenação da Apib, na época.

Kokoj, nome indígena de Rosane, foi nomeada assim pelo avô, durante uma homenagem à bisavó da ativista, que morreu com 120 anos. O nome significa beija-flor.

Em uma entrevista à revista Insurgência, em 2015, Rosane comentou o que a fazia lutar pela população indígena brasileira. “Cada povo tem sua forma de olhar, sua cosmovisão, sua forma de ver e viver, sua forma do uso da terra, sua forma de pintura, a cultura tradicional, então nós somos diferentes, somos povos diferentes uns dos outros. Mas o que nos une é a luta pela terra, pelo território, isso nos une fortemente, e a luta pela preservação dos direitos”, pontuou na época.

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