TRAGÉDIA

Com um mês da morte de Bruno e Dom, entidades pressionam por investigação

Entidades querem ações práticas do governo federal para quadro de violência crescente na região e desproteção de agentes que combatem

Tainá Andrade
postado em 05/07/2022 21:27 / atualizado em 05/07/2022 21:27
Manifestantes se reuniram na Lapa, no Rio, em 26 de junho de 2022, para protestar contra o assassinato de Bruno Araújo e Dom Phillips -  (crédito:  LUCIOLA VILLELA)
Manifestantes se reuniram na Lapa, no Rio, em 26 de junho de 2022, para protestar contra o assassinato de Bruno Araújo e Dom Phillips - (crédito: LUCIOLA VILLELA)

Um mês após a morte do indigenista Bruno Araújo e do jornalista britânico Dom Philips, entidades de proteção ao meio ambiente e preservação da região do Vale do Javari — um dos locais mais violentos da Amazônia Legal por estar localizada em uma tríplice fronteira com presença do narcotráfico — tornaram público um vídeo com o áudio de Bruno, no qual ele explica a situação de conflito constante que enfrentava no trabalho.

“Tem muita coisa acontecendo lá, o garimpo está violento, no entrono da terra indígena, muito próximo dos isolados do Jandiatuba. A equipe de vigilância da Univaja, a EVU, fez bons trabalhos, mas é isso, a tentativa de perseguir e intimidar, não sou só eu que estou tomando essas [providências]”, disse o indigenista a Survival International, dias antes de realizar a última viagem na região.

A entidade compartilhou a mídia para chamar a atenção de que o caso vai além do assassinato: “Embora os supostos assassinos de Bruno e Dom estejam sob custódia, é preciso investigar e punir os executores e os possíveis mandantes do crime”, defendem.

A União do Vale do Javari (Univaja) divulgou uma homenagem aos dois profissionais que foram assassinados defendendo a região. “Fica registrado conosco, nossos laços de amizade, a parceria construída aos longos dos anos em que o Bruno pôde estar conosco. Deixando seu legado de profissionalismo, dedicação, lealdade aos preceitos institucionais e o amor a causa dos povos indígenas. Legado este que fica em cada um de nós para continuarmos a luta”, disseram. “A ausência, a partida do Bruno é um espaço vazio que sempre carregaremos conosco nas realizações dos nossos planos e dos sonhos de proteger os direitos dos nossos povos”, continuaram.

Ainda na carta, lembraram algumas práticas indígenas realizadas pelo indigenista com frequência no convívio com os povos do vale. “Que os espíritos da natureza narradas pelos cânticos do Marinawá, os jenipapos benzidos pelos curandeiros Marubo que você sempre participava”, lembraram. “Que você esteja um bom lugar”, desejaram.

Relembre o caso

O indigenista sofria ameaças de pescadores ilegais na região do Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, onde trabalhava com os indígenas capacitando-os para realizar a vigilância do território. Junto com os membros da Univaja, articulavam para recolher recursos e manter as atividades com mais tecnologia para aprimorar o trabalho.

No dia 05 de junho, o indigenista saiu de barco da comunidade ribeirinha São Rafael, rumo a Atalaia do Norte para levar Dom até a equipe de indígenas. O jornalista tinha como objetivo entrevistá-los para o seu livro sobre a proteção da Amazônia. No trajeto, que deveria durar 2h, eles desapareceram. Foram 11 dias de buscas e dois suspeitos presos, Amarildo Oliveira, o Pelado, e seu irmão, Oseney de Oliveira, conhecido como Dos Santos.

Após a confissão, feita por Amarildo dos Santos, no 11º dia, a Polícia Federal foi levada até os corpos dos desaparecidos. Após perícia, foi constatado que os cadáveres eram dos dois desaparecidos. A partir disso, iniciou uma investigação para saber se os dois assassinos tiveram mandante e mais pessoas envolvidas no crime. Até o momento, nenhuma informação consistente foi encontrada.

A Univaja continua cobrando medidas práticas do governo federal e tem contribuído para os trabalhos das Comissões Externas do Senado e da Câmara dos Deputados – que perderam força diante dos temas que tomaram conta da pauta, como a PEC das Bondades e a CPI do MEC.

“Mesmo diante da comoção mundial e determinações judiciais que o caso despertou, o governo brasileiro não tomou nenhuma ação efetiva para a proteção destas pessoas e ações de fiscalização na Terra Indígena Vale do Javari. Indígenas e servidores continuam sem segurança e as bases de proteção etnoambiental da Funai continuam sem reforço, atuando de forma precária e limitada. Nenhum plano de ação de caráter emergencial com atuação articulada entre os órgãos de segurança que atuam na região foi sequer elaborado”, evidenciaram em um resumo do período entre o dia 27 de junho a 1º de julho.

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