Arma de Fogo

Polícia tenta chegar ao nome de pessoa que entregou arma de fogo a adolescente

Polícia quer encontrar a pessoa responsável por facilitar o acesso da arma de fogo ao adolescente que atirou em três colegas de sala, dentro da escola, por vingança

Tainá Andrade
postado em 06/10/2022 20:37
 (crédito: Reprodução Rede Sociais)
(crédito: Reprodução Rede Sociais)

A Polícia Civil do Ceará continua com as investigações para descobrir o responsável por ter facilitado o acesso a arma de fogo utilizada em um atentado cometido por um aluno de 15 anos. Na quarta-feira (5/10), o jovem entrou na escola Escola Estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes, no Bairro Sumaré, em Sobral (CE), e atirou em três colegas de sala. 

A pistola 3.80, apreendida com o jovem, tem o certificado de registro de colecionador, atirador desportivo e caçador (CAC). Os agentes do Núcleo de Homicídios e Proteção à Pessoa (NHPP), da Polícia Civil de Sobral, ouviram oito pessoas, entre elas o pai do adolescente, que não teve a identidade exposta. 

Os policiais seguirão com as oitivas até concluírem o caso. Um mandado de busca e apreensão foi cumprido na casa do atirador, onde computador e outros materiais foram recolhidos.

O secretário de segurança do Ceará, Sandro Caron, informa que os depoimentos estão sendo colhidos para a polícia entender se foi feita uma compra ilegal de arma.

“Se alguém favoreceu que um adolescente cometesse um crime esta pessoa também cometeu o crime. Essa é a nossa prioridade para entender o que levou a esta tragédia”, disse Caron.

Procedimentos

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) confirmou que o adolescente está preso por ato infracional análogo ao crime de tentativa de homicídio. O jovem premeditou o crime e sua motivação foi se vingar das pessoas que cometiam bullying com ele.

Betina Barros, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, informa que o menor de idade terá que aguardar o processo de apuração do ato infracional e, enquanto isso, poderá permanecer preso.

“Após o momento de investigação, que é como um processo criminal padrão, existe uma sentença, sendo condenado recebe uma medida socioeducativa, que nesse caso pode ser a de continuar em prisão. A cada seis meses a decisão é reavaliada por uma equipe técnica e um juiz. A reavaliação da conduta do adolescente dura três, com audiências sendo realizadas de seis em seis meses. Esse é o procedimento padrão”, detalha.

Cultura armamentista

Esse é o terceiro caso de atentado que acontece em escolas no Nordeste, em um intervalo de duas semanas. Especialistas consideram que essa é uma consequência da cultura armamentista incentivada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Esse falar do governo chega nas crianças e adolescentes, que podem passar a achar que isso é uma forma de resolução de conflitos. Não vejo nenhum tipo de resposta do governo com relação a prevenir, medidas protetivas e liberação dos CACs. Não tem nada, só o discurso do ‘armem-se’”, analisa Isabel Figueiredo, membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Ela avalia, ainda, que o relaxamento da lei a respeito do certificado de registro do porte de armas e declarações de membros do poder público sobre o uso de armamentos são atitudes que influenciam diretamente o raciocínio de crianças e adolescentes.

Também nesse sentido, especialistas envolvidos na educação consideram que se tornou maior a importância ao combate do bullying e da violência nas escolas.

“Estamos em um momento em que esses alunos ficaram quase dois anos sem atividade escolar presencial, em situações de muito estresse, pouca convivência, problemas de saúde mental podem ter aflorado. Questões de discriminação podem ser um gatilho, já sabemos que é uma situação sensível pras escolas”, ressalta Betina Barros, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“Enxergo como um momento de aprendizado, historicamente isso [atentados com arma de fogo] não era um problema que atingia o país, está passando por um momento que faz com que aconteça com mais”, continua.

A presidente da Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente da OAB-AM, Thandra Sena, recorda o artigo 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente, que aborda a dignidade dos jovens enquanto pessoa humana, para lembrar da importância dos gestores de instituições de ensino em zelar por essa dignidade.

“Inclusive é até interessante que as escolas façam campanhas educativas contrárias à violência, porque, na verdade, a cultura da violência é que não pode ser disseminada. Pelo contrário, acho que nós temos que apregoar sim, acima de tudo, os valores da dignidade da pessoa humana”, lembra.

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