Censo 2022

Com a participação de Tebet, Censo 2022 avança nas favelas de São Paulo

Tebet pede que moradores das áreas mais pobres "abram as portas" aos recenseadores do IBGE. Recusas têm origem em desinformação e fake news

Tainá Andrade
postado em 26/03/2023 03:55
 (crédito: Divulgação/Angélica Alves)
(crédito: Divulgação/Angélica Alves)

A ministra do Planejamento e Orçamento (MPO), Simone Tebet, participou, ontem, em São Paulo, de um esforço concentrado para tentar finalizar o Censo de 2020, iniciado em 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). A meta é atingir o máximo de cobertura em mais de 5 mil favelas em 500 cidades brasileiras.

São Paulo é o estado que lidera o ranking de recusas de resposta ao Censo, chegando a mais de 17%, dentro do que o IBGE denomina de Aglomerados Subnormais, que são favelas, comunidades, grotas e conglomerados. Entre os motivos para a resistência está o medo dos moradores de serem desligados dos benefícios sociais do governo, como o Bolsa Família.

Tebet visitou a maior favela de São Paulo, Heliópolis — a segunda maior da América Latina e, na ocasião, foi feito o lançamento do Favela no Mapa, programa que uniu a pasta, a Central Única das Favelas (Cufa), o Data Favela e o IBGE.

Conforme dados do Data Favela, um dos motivos da recusa é a desinformação, consequência da disseminação de fake news constantemente bombardeadas nas redes sociais dos moradores desses redutos. Por isso, a ida de uma ministra até Higienópolis busca evidenciar institucionalmente que o Censo tem como objetivo ter um mapeamento mais atualizado da população e, assim, ajudar na elaboração das políticas públicas que visam melhorar a qualidade de vida dos brasileiros.

"A importância das pessoas abrirem as portas de suas casas para o IBGE é abrir as portas para uma vida melhor. Aqui precisa de escola ou de creche, precisa de posto de saúde ou precisa de tudo, de saneamento básico ou de água encanada? Esse recurso só pode ser feito quando o IBGE entrar em cada casa para perguntar para cada família como ela vive. A partir daí, nós entramos com políticas públicas baseadas em dados, em evidências, em um país que desacreditou, por quatro anos, nessa questão", explicou Tebet.

Outro problema detectado nas pesquisas era em relação aos horários das idas dos profissionais até os domicílios dos moradores, que confrontavam com as longas jornadas de trabalho dos moradores. O presidente do Data Favela, Renato Meirelles, detalha que serão feitos "corujões", nos quais os recenseadores farão a visita pela parte da noite. O projeto tem como objetivo apoiar os profissionais, já que há uma relação de confiança entre a comunidade e os líderes. Somente em Higienópolis são mais de 100 guias.

"Os dados são sigilosos e não existe chance de acontecer um desligamento, os guias explicam isso aos moradores e mostramos a importância dos profissionais na hora do encontro. Vimos o desafio por esse conhecimento [da favela], com o horário de conseguir chegar na favela e nas pessoas, e o medo da população de responder aos recenseadores. A favela é estigmatizada por quem não mora lá, o que aumenta o medo da sociedade em não entrar nesse território. Dessa forma, conseguimos orientar os recenseadores", disse Meirelles.

O esforço concentrado Favela no Mapa foi lançado na Bahia, em Goiás, no Pará, no Rio de Janeiro e em Santa Catarina. No estado fluminense, também ocorreu uma ação no Complexo da Penha, na Zona Norte da capital, local em que vivem mais de 6,3 milhões de pessoas. "É um processo de reconstrução de uma lógica social, que precisa ser feito para executar um trabalho de justiça social. Vivemos uma desconstrução e descontinuidade de tecnologias sociais que aconteciam há muitos anos no país inteiro. De repente, isso foi questionado de maneira que fez as pessoas saírem desse processo. Então, o nosso trabalho de agora tem sido reformular essa lógica, sobretudo nos territórios que são muito atingidos por informações erradas e fake news", ressaltou a presidente da Cufa, Kalyne Lima.

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grafico (foto: editoria de arte)

Negacionismo

Tebet atribuiu os problemas enfrentados em São Paulo não à população de favela, mas às pessoas de bairros nobres paulistanos. Segundo ela, esses cidadãos tiveram suas "mentes sequestradas" pelo negacionismo. "Ouso dizer que os dois dias de trabalho aqui, de acordo com o nosso presidente do IBGE (Cimar Azeredo, que acompanhou a ministra na favela), nós vamos cobrir todo Heliópolis e nós podemos ficar o mês inteiro batendo na porta de bairros nobres de São Paulo, como Jardins e Itaim Bibi e nós não vamos conseguir fechar os 100% ou 95%", disparou.

O Censo de 2020 sofreu atraso por causa da pandemia de covid-19 e, depois, pela falta de recursos no Orçamento de 2021. Só foi iniciado no ano passado. Em janeiro, o instituto informou que ao menos 1,9 milhão de brasileiros disse "não" aos agentes. Os resultados do Censo estavam previstos para serem entregues em outubro de 2022, mas foram adiados ao menos três vezes. Agora, o governo federal trabalha para encerrar as apurações no final de abril e anunciar os dados preliminares em 2 de maio. Por isso, tem feito ações pontuais junto a populações que estão com maiores lacunas na cobertura.

A média nacional de recusas está em 8,47%. Distrito Federal, Amapá, Paraíba, Minas Gerais, Roraima, Sergipe, Rio Grande do Norte e Amazonas têm os índices mais baixos de recusas de respostas nas favelas. São Paulo, Tocantins e Mato Grosso são os estados mais problemáticos.

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