diplomacia

Ampliação do BRICS opõe a China ao Brasil e à Índia

Itamaraty enxerga na pretensão do governo de Pequim uma forma de reduzir a influência dos brasileiros. Mas a possibilidade de incorporar novos membros foi tratada na cúpula de ministros das Relações Exteriores, que terminou nesta sexta-feira, na África do Sul. Dezenove países manifestaram interesse em participar do bloco

Victor Correia
postado em 03/06/2023 03:55
 (crédito: Rodger Bosch/ AFP)
(crédito: Rodger Bosch/ AFP)

A reunião de chanceleres do BRICS terminou, nesta sexta-feira, com um projeto para o futuro próximo: a possibilidade de ampliação do bloco, composto, atualmente, por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — que foi sede do evento, na Cidade do Cabo. A expansão é um objetivo sobretudo da China, mas enfrenta resistência sobretudo de Brasil e Índia.

Isso porque o Ministério das Relações Exteriores (MRE) avalia que a inclusão de novos participantes pode diminuir a influência dos dois países, fortalecendo o governo de Pequim. As conversas, porém, indicam que a ampliação deve acontecer, e os membros discutem formas para fazer isso sem prejudicar os fundadores.

Na quinta-feira, os representantes diplomáticos debateram os critérios a serem utilizados para a expansão do BRICS, como procedimentos e princípios. A ideia é que esse escopo esteja pronto antes da cúpula entre os chefes de Estado.

Dezenove nações — incluindo Argentina, Arábia Saudita, Irã, Egito e Indonésia — apresentaram pedidos formais de ingresso. Chamados de Amigos do BRICS, querem reforçar o grupo para que se torne alternativa à hegemonia dos Estados Unidos e da União Europeia.

"Talvez esse grande sucesso do BRICS tenha atraído a atenção de outros países em 15 anos. Ainda estamos trabalhando na questão da expansão", avaliou o chanceler Mauro Vieira, ao ser questionado, em coletiva, sobre a possibilidade de novas adesões.

Sul Global

A cúpula começou na quinta-feira e Vieira ressaltou a vontade do governo brasileiro de fortalecer o diálogo com nações do chamado Sul Global — conjunto de países em desenvolvimento —, posição compartilhada pelas demais nações do BRICS. "Estamos retomando a dimensão Sul-Sul de nossa política externa", frisou o chanceler.

Mas não é somente o grupo de nações que pode ser ampliado. Segundo Vieira, o Brasil pretende aumentar o número de membros do New Development Bank (NBD), também conhecido como Banco dos BRICS, presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff. Novas participações representam aumento no poder de investimento da instituição. Além dos cinco integrantes dos BRICS, o NBD inclui Bangladesh, Emirados Árabes Unidos (admitidos em 2021) e Egito, incluído neste ano. O Uruguai está em processo de adesão.

"Nossa força está em quanto mais países do Sul Global nós pudermos atrair. O Banco dos BRICS não é uma plataforma de financiamento, é uma plataforma de cooperação e de construção do multilateralismo", afirmou Dilma. Entre as novas adesões a prioridade é para a Argentina — que, dessa forma, teria acesso ao crédito prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


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