Meio ambiente

Desmatamento na Amazônia cai 66% em julho frente a 2022, diz Inpe

De janeiro a julho, a queda foi de 42,5% sobre 2022. Cerrado tem aumento de 21,7% em relação ao mesmo período

Henrique Fregonasse*
postado em 03/08/2023 20:49 / atualizado em 03/08/2023 20:49
Floresta amazônica ao longo do curso do rio Manicoré, em Manicoré, sul do estado do Amazonas. Na foto, uma pequena área desmatada no Ramal da Democracia, que liga a BR-319 à margem esquerda do rio Madeira, a 17 km do centro de Manicoré. -  (crédito:  © Christian Braga / Greenpeace)
Floresta amazônica ao longo do curso do rio Manicoré, em Manicoré, sul do estado do Amazonas. Na foto, uma pequena área desmatada no Ramal da Democracia, que liga a BR-319 à margem esquerda do rio Madeira, a 17 km do centro de Manicoré. - (crédito: © Christian Braga / Greenpeace)

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou, na tarde desta quinta-feira (3/8), os dados do DETER coletados sobre o desmatamento na Amazônia e no Cerrado em julho. Em relação ao mesmo período de 2022, os meses de janeiro a julho de 2023 apresentaram diminuição de 42,5% no desmatamento do bioma amazônico, enquanto o Cerrado registrou aumento acumulado de 21,7%.

No comparativo mês a mês, o desmatamento na Amazônia registrou queda de 66% em julho, frente ao mesmo mês de 2022. Durante a apresentação dos resultados de junho, o secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, explicou que os meses de junho, julho e agosto, normalmente, mostram aumento nos índices de desmatamento, por equivalerem ao período de seca, em que os trabalhos de extração se intensificam. Ele destacou que, por esse motivo, quedas significativas nesse período ressaltam o sucesso da atuação do MMA no combate ao desmatamento.

O professor adjunto do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB) José Sobreiro Filho atribuiu a diminuição na Amazônia à atuação do governo federal, que, segundo ele, buscou enfrentar os problemas e restabelecer políticas públicas que tinham sido extintas ou drenadas na gestão anterior. Para ele, o governo anterior apresentava uma postura política-ideológica que favorecia membros da elite agrária que almejavam flexibilizações ambientais visando, por exemplo, a produção de commodities com valores mais competitivos no mercado.

“Temos uma elite nacional que é proprietária de terras e que lutava por flexibilização ambiental, essa que permite que o Brasil, por exemplo, produza commodities e, por não pagar certos investimentos ambientais, colocam um produto muito mais barato para concorrer com outros produtos que precisam pagar determinados pré-requisitos ambientais. Muito além disso, ainda vai ter uma outra fatia, que é aquela totalmente desinteressada no cumprimento de legislações ambientais e agrárias. Esse grupo é o que mais degrada e o que tenta se articular para permitir, por exemplo, a regularização de terras que foram obtidas, sobretudo, com o desmatamento”, explicou o professor.

Em contrapartida, os dados de julho do Cerrado mostraram aumento de 26% no desmatamento em comparação a julho de 2022. Para José Sobreiro Filho, isso retrata a diferença de tratamento dado a cada bioma pelo governo federal. Segundo o professor, a Amazônia representa, para o Brasil, uma “propaganda” muito rica que garante grande representatividade frente à comunidade internacional, o que não se repete para o Cerrado.

“Enquanto há uma política que consegue comover o mundo pra Amazônia, uma vez que as pessoas se compadecem muito mais pela Amazônia que por qualquer outro bioma, o Cerrado não vive a mesma realidade. Ele tem sido historicamente interpretado, pelos governos do PT, como a área que será sacrificada para que a gente possa preservar a Amazônia e não levar essa expansão da fronteira agrícola para lá”, argumentou o professor.

*Estagiário sob supervisão de Thays Martins

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