SEGURANÇA PÚBLICA

Sete crianças morreram vítimas de bala perdida no Rio em 2023

Rio de Janeiro contabiliza 16 crianças atingidas neste ano no fogo cruzado entre polícia e bandidos, das quais sete morreram. Caso mais recente ocorreu no sábado

Rafaela Gonçalves
postado em 14/08/2023 03:55
Eloáh levou um tiro durante confronto na comunidade do Dendê -  (crédito: Reprodução/ Redes sociais )
Eloáh levou um tiro durante confronto na comunidade do Dendê - (crédito: Reprodução/ Redes sociais )

Baleada enquanto brincava em casa, Eloáh Passos, de 5 anos, é a 16º criança atingida por bala perdida na região metropolitana do Rio de Janeiro este ano. De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, sete morreram. A menina foi ferida no peito, na manhã de sábado, em meio a um conflito policial na comunidade do Dendê, localizada na parte central da Ilha do Governador. Ela chegou a ser levada para o Hospital Municipal Evandro Freire (HMEF), mas já chegou sem vida.

O tiro aconteceu durante uma manifestação de populares por conta da morte do adolescente Wendel Eduardo, de 17 anos, horas antes. Ele teria trocado tiros com a Polícia Militar, de acordo com a própria corporação. Em nota, a Polícia Militar (PM) informou que "não havia operação policial no interior da comunidade" no momento em que Eloah foi baleada.

"Tiraram um pedaço da minha vida que foi minha filha", disse o pai da criança, Gilgres Santos. O tio de Wendel, Marlon Almeida, contestou a versão da polícia e contou que o sobrinho foi alvejado no momento em que erguia as mãos após avistar os policiais.

A versão da Polícia Militar é de que, durante patrulhamento, dois homens em uma motocicleta chamaram a atenção das equipes na Rua Paranapuã, e que o garupa portava uma pistola na cintura. Policiais envolvidos na ação relataram que após tentativa de abordagem, o jovem fez disparos de arma de fogo contra os policiais, momento em que houve revide.

Ainda de acordo com a PM, minutos depois, enquanto reforçavam o patrulhamento no entorno do Dendê, policiais foram alvos de tiros disparados do interior da comunidade. Na sequência, manifestantes fecharam as ruas próximas e começaram a atirar pedras contra os carros e as equipes policiais. Com isso, a PM afirmou que o Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (Recom) foi acionado para dar apoio ao policiamento e o Corpo de Bombeiros, para conter as chamas.

"Enquanto as equipes trabalhavam para liberar o trânsito na região, o comando do 17° BPM foi informado sobre uma criança baleada no interior da comunidade do Dendê, sendo socorrida por familiares. Segundo informações colhidas por testemunhas, a vítima teria sido atingida no interior de sua residência. Ressaltamos que não havia operação policial no interior da comunidade", informou a secretaria.

A Secretaria Estadual da Polícia Militar do Rio de Janeiro afastou o tenente-coronel Fábio Batista Cardoso, comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar (BPM) da Ilha do Governador, após moradores acusarem a polícia pelas mortes. Segundo a PM, foi instaurado procedimento apuratório "para averiguar a conjuntura das ações e a corregedoria da corporação acompanha os trâmites do caso. As imagens das câmeras corporais dos policiais serão disponibilizadas para auxiliar nas investigações".

Brutalidade

Um mapa feito pelo Instituto Fogo Cruzado, plataforma que produz dados sobre a violência armada, revelou que 601 crianças e adolescentes de até 17 anos foram baleados nos últimos sete anos na Grande Rio. Do total de baleados, 286 foram atingidos em ações policiais — o que representa 47,5%. As demais 315 crianças e adolescentes foram atingidas em outras circunstâncias, como disputas entre grupos armados, execuções, homicídios, tentativas de homicídio, brigas, vítimas de disparos acidentais e ataques a civis.

Em nota conjunta, o Instituto e o jornal Voz das Comunidades pedem uma ação das autoridades, nas esferas municipal, estadual e federal, para impedir que a violência armada continue matando crianças.

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