Tragédia no Sul

Base Aérea vira polo logístico das doações aos gaúchos

Donativos de Brasília são triados antes de seguir para o Rio Grande do Sul, onde aviões da FAB começaram a lançar mantimentos de paraquedas

Nos galpões da Base Aérea de Brasília, o trabalho dos militares é frenético para organizar os donativos que seguirão para o Rio Grande do Sul -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
Nos galpões da Base Aérea de Brasília, o trabalho dos militares é frenético para organizar os donativos que seguirão para o Rio Grande do Sul - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Galpões abarrotados de engradados de água, roupas, cestas básicas, cobertores, ração animal,produtos de higiene e limpeza,entre outros mantimentos, são o reflexo da solidariedade dos brasileiros. As bases da Força Aérea em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo receberam, até ontem, 1,1 tonelada de doações aos gaúchos que enfrentam a maior tragédia ambiental da história do Rio Grande do Sul.

“Eu participei de várias operações, comandei o resgate de Wuhan, na China, e outro na Turquia, mas isso aqui não tem nada parecido. Se você for nos mantimentos, vai encontrar saco de arroz de Goiás, macarrão de São Paulo, erva-mate que era do Sul,veio para cá e vai voltar para lá.Tem material de todos os lados do Brasil. É uma ação linda”, conta o comandante da Aeronáutica,tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno, que é gaúcho.

 

 

A Operação Taquari 2 foi ativada pelo Ministério da Defesa em conjunto com governo do Rio Grande do Sul, Defesa Civil, Marinha e Exército. A ação encampa os resgates de atingidos pelas chuvas e a logística de recebimento e transporte dos donativos.

O capitão Breno Rodrigues,oficial de comunicação da Base Aérea de Brasília, explica que,inicialmente, uma estrutura foi separada para coletar os mantimentos que chegavam de voluntários. No entanto, foi necessário abrir outros dois locais para armazenamento, diante da quantidade de material doado.

“É uma emoção muito grande.Ano passado, quando teve as enchentes, o meu pai doou dinheiro,roupa e tudo que ele pôde. Ele não está aqui mais, faleceu em fevereiro. Essa mobilização que eu fiz com a minha mãe e amigos é algo muito importante porque me lembra o que ele me ensinou. Me comove muito porque é meu estado,meu povo, minha família”, conta,emocionado, João Pedro Feltrin,18 anos, que tem pai e mãe gaúchos. Ele e os amigos arrecadaram 38 cestas básicas, 500kg de feijão da fazenda de um parente e 538 litros de água. João, que tem família em Canoas e em Porto Alegre,lamenta que um dos primos perdeu tudo na enchente.

Tudo que é doado passa, primeiro, por uma triagem, antes de seguir para os galpões de armazenagem. Lá, as doações são setorizadas e empilhadas em pallets de alumínio, antes de seguir para as aeronaves cargueiras. Centenas de militares trabalham das 6h às 23h para separar e carregar todos os itens.De acordo com o capitão, o destino das doações é definido pelo comando que está na área das enchentes.Neste momento, a maior quantidade de doação em Brasília é de água mineral, que recebe tratamento prioritário de embarque.

O Correio acompanhou o carregamento de 1,5 tonelada de cestas básicas e medicamentos, como insulina e medidores de glicose,em um dos aviões da FAB. A Base Aérea funciona como uma espécie de “funil”, segundo o comandante Damasceno. “Nós vamos alimentando o funil e, lá na ponta, no Sul,o ministério, junto com a Defesa Civil, vai definindo a necessidade de suprimentos.”

Operação de guerra

Marcelo Damasceno informou ao Correio que começou, ontem,uma operação de “ressuprimento aéreo” — lançamento de mantimentos por paraquedas — nas áreas que estão isoladas, primeiramente na região metropolitana da capital. Foram lançados colchonetes, comida, água e medicamentos.

“É uma operação muito bonita de se ver. Dá uma sensação boa de receber esperança vindo do céu. O mesmo céu que mandou chuva está mandando água de outra forma,agora. Nós fazemos na Amazônia,nas comunidades indígenas, fazemos na Antártica, como apoio à Marinha. Do ano passado para cá,fizemos 944 lançamentos na Amazônia. Essa, agora (no Rio Grande do Sul), é a maior operação de ressuprimento aéreo da história da humanidade depois da Segunda Guerra Mundial”, declarou.

Há a previsão de iniciar o envio terrestre a partir de amanhã,quando uma frota de caminhões deixará Brasília com carregamento para o Sul. O comandante Damasceno aproveitou para reforçar a necessidade de mais doações“até a última ponte ser reconstruída, até a última casa ser refeita”.

“A gente sempre se une muito na alegria, mas, na tristeza, na desgraça,criamos uma união que não perdura apenas dois dias depois que a gente ganha uma Copa do Mundo, essa vai ficar para sempre”, finaliza.

 

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postado em 10/05/2024 03:55
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