Porto Alegre e Capão da Canoa (RS) — A volta das chuvas intensas na região metropolitana da capital gaúcha, que começou na madrugada de ontem, ameaça recolocar na estaca zero todo o esforço de reconstrução que vinha sendo feito aos poucos, nos últimos dias, e piorar a tragédia no Rio Grande do Sul. O sistema de drenagem de Porto Alegre colapsou e foram necessárias poucas horas de uma grande precipitação pluviométrica para que a cidade voltasse ao estado de caos.
Com a drenagem em colapso, a água que brotava dos bueiros interrompeu diversas vias da cidade e até mesmo em bairros que não sofreram com a cheia das últimas semanas — como Cavalhada e Restinga — foram inundados. Blindados do Exército e barcos das forças de segurança resgataram moradores ilhados mesmo em regiões altas de Porto Alegre. Em uma escola de educação infantil, pelo menos 10 crianças foram retiradas pelas equipes de socorristas.
Entre a população, o otimismo percebido nos últimos dias — por conta do recuo das águas e a queda no índice do Lago Guaíba — deu vez às expressões de preocupação e medo. A velocidade do alagamento de Porto Alegre assustou ainda mais os moradores porque deu-se rapidamente, dificultando até mesmo medidas de evacuação.
Em apenas 12 horas, a capital gaúcha recebeu um volume de 100 mm de chuva, mais que toda a média esperada para o mês. O entregador Marcelo Santos, que vinha tentando retomar o trabalho, não teve como prosseguir fazendo entregas em domicílio. "Chove muito mais forte do que da última vez. A água está subindo mais rápido e fazendo ondas nas ruas. É quase impossível conduzir a motocicleta", afirmou ao Correio.
O Hospital Mãe de Deus — unidade privada de saúde e referência do estado, localizada no bairro Menino Deus — viu mais uma vez o andar térreo ficar alagado. Funcionários testemunharam que água misturada ao esgoto subiu pelos ralos, enquanto trabalhavam para recuperar as instalações e, novamente, voltar a operar após duas semanas fechado pela inundação.
As chuvas também comprometem o corredor humanitário da capital, construído com pedras e aterro para elevar a via que estava alagada e permitir a passagem de veículos de abastecimento e emergência. A força das águas escavou grandes buracos na estrutura, levando os veículos a trafegar ainda mais lentamente — e aumentando o congestionamento na região.
"Surpresa"
A sensação de insegurança na cidade aumentou com o registro de ventos fortes, raios e faltas esporádicas no fornecimento de energia elétrica. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Maurício Loss, afirmou que a quantidade de chuva foi "além do que os modelos previam" e que tinha sido uma "surpresa".
Porém, alertas da Defesa Civil estadual e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicavam para volumes de até 200mm nos próximos dias. Em entrevista coletiva, no meio da tarde de ontem, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), desmentiu o que dissera o diretor-geral do Dmae e garantiu que sua equipe estava informada sobre o volume das chuvas. Ele culpou a intensa precipitação pluviométrica pela volta do caos à capital.
"Temos uma rede (de drenagem) sobrecarregada por água e, agora, com a capacidade reduzida, pois há um grande acúmulo de areia, de lodo na rede. Então, diminui ainda mais a eficiência. Fora essa catástrofe que estamos vivendo, só esse volume em um curto período nos traria problemas. Temos o somatório do Guaíba extremamente alto", justificou o diretor-geral do Dmae, na coletiva, ao lado do prefeito.
A capital gaúcha tem 23 centrais de bombeamento pluvial que garantem a drenagem da cidade. Mas, ontem, apenas 10 estavam operacionais e, mesmo assim, com a capacidade reduzida pelo assoreamento da rede e por motores queimados pela inundação.
Apesar da emergência, o prefeito pediu para que cada morador avalie o risco de permanecer na sua residência. O nível do Guaíba voltou a subir, chegando no fim da noite de ontem a 3,9m — já acima da cota de inundação, que é de 3m. Com a previsão de subida no nível em até 0,50cm, as comportas do lago foram fechadas.
Colaborou Pedro José, estagiário sob a supervisão de Fabio GrecchiSaiba Mais
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