Tragédia no Sul

Resgate do cavalo Caramelo vira resiliência simbólica da tragédia no RS

Em Canoas, o delicado resgate do cavalo Caramelo mobilizou equipes de socorro em clima de comoção nacional, com transmissão pela TV e postagens em tempo real nas redes sociais. O animal virou exemplo de luta pela sobrevivência

O resgate do cavalo Caramelo, ilhado em cima de um telhado, em Canoas,na região metropolitana de Porto Alegre, comoveu o país.O animal foi encontrado imóvel,cercado pelas águas da enchente e exposto ao sol e à chuva. O salvamento foi feito por uma equipe de bombeiros e veterinários,apoiada pelo Exército. Cinco botes foram usados na operação.

Caramelo foi sedado e transportado em segurança a uma das embarcações. Por ser de grande porte e pesando cerca de meia tonelada, uma reação brusca do animal poderia colocar em risco os salvadores. O peso impediu o resgate por helicóptero. Muito debilitado, o cavalo foi levado a um haras, onde recebeu cuidados de veterinários. Ele é um dos 5.254 animais resgatados das áreas inundadas até ontem. O número de animais mortos, porém, é impossível de precisar. Imagens de dezenas de carcaças em fazendas onde as águas já baixaram são assustadoras.

 

 

Com a repercussão das imagens do sofrimento de Caramelo, flagrado pelo helicóptero da TV Globo, o governo federal se mobilizou para o resgate. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que foi dormir “inquieto”com a situação do animal. “Fiquei imaginando: se aquele cavalo pensasse, o que ele estava pensando, sozinho, em cima de um telhado? Eu não sei como aquela telha não quebrou”, disse o presidente após saber que o resgate foi bem-sucedido. Nas redes sociais, a primeira-dama Janja da Silva também comemorou.“Estamos desde a manhã mobilizando todo mundo para retirar aquele cavalo de cima do telhado. Conseguimos salvar mais uma vida”, disse ela.

O salvamento de Caramelo foi apenas um das centenas que ocorreram durante o dia de ontem. As chuvas deram uma trégua em boa parte do estado, e as equipes de resgate aproveitaram para agilizar as operações. A região do Guaíba tinha sido atingida por um temporal na quarta-feira, oque paralisou temporariamente as ações. Segundo o último levantamento da Defesa Civil gaúcha, até a noite de ontem foram registradas 107 mortes e 134 pessoas estão desaparecidas. Nos abrigos, 68,5 mil moradores aguardam o recuo das águas para poderem voltar as suas casas. Em todo o estado, 327,1 mil pessoas estão desalojadas.

A trégua da chuva foi bem-vinda. É que mais tempestades devem atingir a região central do estado, incluindo a Grande Porto Alegre, de hoje até segunda-feira.

Lagoa dos Patos

A queda no nível do Guaíba,que ficou abaixo dos cinco metros, ontem, contrasta com a elevação do volume de água da Lagoa dos Patos, um metro acima do nível normal. Em Pelotas,no sul do estado, as autoridades trabalham para evacuar 100 mil pessoas que moram em zonas de risco. Na vizinha Rio Grande,1,5 mil moradores tiveram que deixar suas casas. Mesmo como perigo iminente da enchente,que avança sobre bairros e comunidades rurais dos dois municípios, as autoridades enfrentam a reação de muitas famílias ,que relutam em sair de casa com medo dos saques que afligem as cidades inundadas.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as chuvas previstas para o fim de semana podem retardar ou mesmo reverter a tendência de queda no nível do Guaíba, o que deve agravar ainda mais a situação em Pelotas e Rio Grande. A previsão é que os alagamentos continuem avançando de forma gradual.

 

 

 

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