Saúde

Padilha critica "arroubos tarifários" dos EUA e defende produção nacional de medicamentos

Ministro da Saúde vê instabilidade global como chance para o Brasil reduzir dependência externa e ampliar capacidade industrial

"O Brasil vai sair mais forte diante de todas as dificuldades e também mais forte a partir desse futuro de organização global na área da saúde", disse Padilha durante participação em evento da Esfera Brasil e da EMS - (crédito: Fotográfo/Agência Brasil)

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, criticou nesta quarta-feira (6/8) a postura do governo dos Estados Unidos em relação à saúde global e defendeu o fortalecimento da produção nacional de medicamentos e tecnologias médicas. A declaração foi feita durante o Fórum Saúde 2025, realizado pela Esfera Brasil e pela EMS, evento que reuniu em Brasília autoridades dos Três Poderes, empresários e especialistas da área.

Segundo Padilha, o recente tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump, que afeta diretamente o Brasil e entra em vigor hoje, representa mais uma entre várias ações unilaterais que geram insegurança global e ameaçam o equilíbrio das cadeias produtivas da saúde. “Temos que enfrentar mais uma dessas inseguranças geradas por esse anúncio de tarifas”, comentou.

Ele lembrou que medidas semelhantes já haviam sido anunciadas antes da Assembleia Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), quando Trump declarou que os medicamentos nos EUA eram caros e que a solução seria “aumentar as tarifas sobre outros países”.

Para Padilha, o tarifaço deve ser visto como uma oportunidade estratégica para o Brasil. “O Brasil não pode perder essa oportunidade. […] Nenhum país do mundo quer passar de novo o que nós passamos na pandemia, de ficar da noite para o dia absolutamente sem acesso a insumos básicos da saúde. […] O Brasil tem que aproveitar isso como oportunidade — sem ufanismo, mas com estratégia — para cada vez mais aumentar a sua capacidade de produzir aqui no Brasil: tecnologia, insumos, medicamentos, conhecimento para a área da saúde”, enfatizou.

O ministro destacou ainda que a atual reorganização das cadeias globais de insumos e medicamentos impõe ao país o desafio de se tornar menos dependente de um único fornecedor ou região, em especial após os gargalos vividos durante a pandemia da covid-19. “Ninguém quer ficar mais dependente de um país só ou de uma região só depois de tudo que aconteceu na pandemia. A gente tem que aproveitar ao máximo essa oportunidade”, reforçou ele, lembrando a falta de máscaras e que apenas a China fornecia a proteção.

Investimentos

Padilha também criticou a recente decisão do governo norte-americano de suspender o financiamento a pesquisas com o RNA mensageiro. “Hoje, o meu correspondente, ministro da Saúde dos Estados Unidos, fez uma declaração pública… baixou uma ordem executiva de definitivamente cortar qualquer investimento para as plataformas de RNA mensageiro. Isso já gera insegurança para quem quer investir naquele país”, afirmou. Segundo ele, Trump chegou a “rasgar contrato com empresa americana desenvolvedora de uma das vacinas de RNA mensageiro”, o que amplia o ambiente de instabilidade no setor.

Em resposta a esse cenário, Padilha disse que o governo brasileiro está mobilizado para acelerar registros e investimentos em inovação farmacêutica no país. “A Anvisa vai lançar nos próximos dias um chamamento para que indústrias que queiram fazer registros desses peptídeos GLP e GLP-1 tenham um fluxo prioritário absoluto”, anunciou. Ele também informou que o Ministério da Saúde está disposto a investir recursos para apoiar o INPI, a fim de agilizar o reconhecimento da propriedade intelectual e estimular a inovação.

Ao final do discurso, o ministro frisou que a estratégia do governo é transformar o ambiente de instabilidade internacional em uma alavanca de crescimento. “O Brasil vai sair mais forte diante de todas as dificuldades e também mais forte a partir desse futuro de organização global na área da saúde”, declarou.

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postado em 06/08/2025 12:18 / atualizado em 06/08/2025 12:19
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