
A pouco menos de um mês da Conferência do Clima da ONU, a COP30, que será realizada em Belém (PA), de 11 a 21 de novembro, o reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Gilmar Pereira da Silva, destacou o papel da ciência amazônica na construção de soluções sustentáveis para o planeta nesta quarta-feira (16/10), em entrevista CB.Poder — programa do Correio em parceria com a TV Brasília.
Aos jornalistas Marcos Paulo Lima e Sibele Negromonte, o reitor afirmou que a universidade tem se preparado para ser um dos pilares da conferência. “A Universidade Federal do Pará tem trabalhado para colocar a ciência a serviço da sociedade”, destacou.
Segundo ele, a instituição iniciou em 2024 uma série de ações de extensão, pesquisa e diálogo com comunidades locais, povos indígenas, quilombolas e movimentos sociais para ampliar a participação popular na agenda climática. “Nosso esforço é garantir que o conhecimento produzido na Amazônia esteja conectado à vida das pessoas”, frisou Gilmar.
Assista ao programa na íntegra:
A UFPA, segunda maior universidade federal do país e a terceira entre as públicas, reúne 53 mil alunos distribuídos em 12 campo. O reitor lembrou que o campus mais distante, em Altamira, fica a quase mil quilômetros da capital, e o mais isolado, no arquipélago do Marajó, exige uma noite de viagem de barco. “Essa geografia mostra a dimensão do desafio que é levar ensino, pesquisa e extensão a todo o estado”, observou.
Entre as iniciativas recentes, Gilmar Pereira destacou os eventos preparatórios para a COP, realizados em Belém e Manaus, que reuniram representantes das universidades da Amazônia Legal e resultaram em uma carta entregue ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência. “Reunimos reitores, cientistas e lideranças sociais para definir prioridades. Sem a presença da ciência, uma COP no Brasil não estaria completa”, disse.
A universidade também coordena estudos sobre biodiversidade, bioeconomia e mudanças climáticas, por meio de núcleos como o Naea (Núcleo de Altos Estudos da Amazônia) e o Numa (Núcleo de Meio Ambiente). “A UFPA é uma universidade ribeirinha, está na beira do rio Guamá, e isso nos conecta diretamente com a realidade da Amazônia. Temos pesquisas sobre a cadeia do açaí, dos óleos vegetais e das águas, que são fundamentais para entender os impactos do clima na região”, afirmou o reitor.
Uma das experiências que serão apresentadas durante a conferência é o projeto do barco científico Brasil-França, parceria entre a UFPA, a Universidade do Amazonas, a Capes e a Embaixada da França. A embarcação sairá de Manaus e chegará a Belém durante a COP, com pesquisadores de diferentes países que farão paradas em comunidades ribeirinhas para apresentar estudos e trocar experiências. “Esse barco simboliza a integração entre ciência e sociedade. Ele vai levar conhecimento e, ao mesmo tempo, aprender com as comunidades”, explicou Gilmar.
O reitor também destacou a importância de ampliar o diálogo entre os biomas brasileiros, especialmente entre o Cerrado e a Amazônia. “Os biomas se interdependem. O Cerrado é o berço das águas e influencia diretamente o equilíbrio climático da Amazônia. Estamos trabalhando com universidades de Goiás e de Brasília para fortalecer essa abordagem integrada”, ressaltou.
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Ao abordar os desafios da região, Gilmar mencionou que a universidade mantém cooperação com instituições de Santarém e Marabá para estudar e combater problemas como grilagem, garimpo e desmatamento. “As ilegalidades continuam, ainda que mais sofisticadas. O papel da universidade é produzir dados, formar profissionais e propor soluções sustentáveis para essas questões.”
Legado da COP30
Para além do evento, o reitor da UFPA ressaltou que o legado da COP30 deve ser científico e social. “As obras são importantes, mas o verdadeiro legado é o conhecimento”, afirmou. Ele destacou a restauração do Convento dos Mercedários, do século XVII, que abriga o curso de Restauro, parte da Escola de Música e um museu da universidade. O prédio, restaurado com apoio do BNDES e da Vale, será usado como Casa do BNDES durante a conferência e permanecerá como espaço cultural. “É uma obra de mais de R$ 40 milhões, que representa o encontro entre patrimônio, educação e futuro”, explicou.
Ao final, deixou um convite aos visitantes: “Belém está pronta para receber o mundo. Quem for à COP vai conhecer uma universidade ribeirinha, aberta à sociedade e comprometida com a ciência amazônica. As obras passam, mas o conhecimento permanece. Esse é o nosso compromisso”.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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