A sensação de ansiedade aguda pode ser avassaladora, uma onda de reações físicas e mentais que parece incontrolável. É crucial e inegociável afirmar desde o início: os transtornos de ansiedade são condições de saúde sérias que exigem diagnóstico e tratamento profissional. As técnicas de respiração são uma ferramenta de “primeiros socorros” para gerenciar os sintomas no momento, e não um substituto para o tratamento da causa raiz.
Dito isso, a ciência tem demonstrado que a respiração consciente é a ferramenta mais rápida e direta que possuímos para intervir na resposta de estresse do corpo. Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, o mecanismo pelo qual a respiração profunda pode atuar como um “freio de emergência” fisiológico, ajudando a restaurar a calma em poucos minutos.
Qual a “batalha” interna que acontece durante uma crise de ansiedade?

Durante uma crise de ansiedade, o sistema nervoso simpático — a resposta de “luta ou fuga” — é ativado de forma intensa. O corpo é inundado por hormônios do estresse como a adrenalina, o que causa os sintomas físicos conhecidos: o coração dispara, a respiração fica curta e rápida, e os músculos se tensionam.
Ao mesmo tempo, o sistema nervoso parassimpático — a resposta de “descanso e digestão” — fica suprimido. Para controlar a ansiedade, o objetivo é, essencialmente, “desligar” o sistema de alerta e “ligar” o sistema de calma. É exatamente isso que a respiração profunda faz.
Como a respiração lenta e profunda ativa o “modo de segurança” do corpo?
A respiração lenta e profunda, especialmente com foco na expiração, estimula diretamente o nervo vago. Este é o principal nervo do sistema parassimpático, conectando o cérebro a diversos órgãos, incluindo o coração e os pulmões.
Quando você respira de forma controlada, o nervo vago envia um sinal ao cérebro de que a ameaça percebida passou e que é seguro relaxar. Conforme detalhado em pesquisas sobre a mente e o corpo, o cérebro responde a esse sinal diminuindo a frequência cardíaca, reduzindo a pressão arterial e aliviando a tensão muscular. É a forma mais direta de usar uma ação física para mudar um estado mental.
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Qual a técnica mais eficaz para obter um alívio rápido?

A técnica mais eficaz para um alívio rápido foca em tornar a expiração mais longa do que a inspiração, pois é a expiração que está mais fortemente ligada à ativação do sistema parassimpático.
Passo 1: Encontre uma posição estável
Sente-se em uma cadeira com a coluna ereta e os pés apoiados no chão, ou fique em pé. Relaxe os ombros.
Passo 2: Inspire suavemente pelo nariz (contando até 4)
Inspire de forma lenta e calma pelo nariz, contando mentalmente: um… dois… três… quatro.
Passo 3: Expire longamente pela boca (contando até 6 ou 8)
Expire ainda mais lentamente pela boca, como se estivesse soprando suavemente através de um canudo. Tente fazer a expiração durar mais que a inspiração, contando mentalmente até seis ou oito.
Passo 4: Repita o ciclo por 1 a 2 minutos
Continue este ciclo, focando toda a sua atenção na contagem e na sensação do ar saindo de forma prolongada. Apenas alguns ciclos já são suficientes para começar a sentir o efeito calmante.
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Por que a expiração é mais importante que a inspiração para acalmar?
Existe um fenômeno natural no corpo chamado arritmia sinusal respiratória. Ao inspirar, a frequência cardíaca acelera ligeiramente. Ao expirar, ela desacelera. Isso é um sinal de um sistema nervoso saudável e flexível.
Ao prolongar deliberadamente a expiração, você está “hackeando” esse sistema. Você passa mais tempo na fase de desaceleração do ciclo respiratório, o que envia um sinal ainda mais forte ao coração e ao cérebro para diminuir o ritmo e relaxar.
A respiração pode substituir um tratamento completo para a ansiedade?
A resposta é um enfático e inequívoco NÃO. Conforme alerta a American Psychological Association (APA), a respiração é uma habilidade de enfrentamento (coping skill), uma ferramenta para gerenciar os sintomas agudos. Ela não trata as causas subjacentes da ansiedade, que podem envolver padrões de pensamento, traumas ou desequilíbrios neuroquímicos.
Se você sofre de ansiedade de forma frequente, se ela interfere em sua vida diária ou se você tem ataques de pânico, a busca por ajuda profissional é indispensável. A consulta com um médico, psicólogo ou psiquiatra é o caminho mais seguro e eficaz para receber um diagnóstico correto e um plano de tratamento baseado em evidências, que pode incluir terapia e, se necessário, medicação.










