Na busca por uma melhor noite de descanso, muitas vezes nos concentramos na quantidade de horas dormidas, mas a ciência do sono mostra que a qualidade e o momento em que dormimos são igualmente, se não mais, importantes. É crucial afirmar desde o início: dificuldades crônicas para dormir ou a sensação de acordar cansado mesmo após uma noite longa são sinais que exigem uma avaliação médica profissional.
O hábito de dormir mais cedo, alinhando-se com os ritmos naturais do corpo, é uma das estratégias mais poderosas para otimizar a fase mais restauradora do sono: o sono profundo. Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, porque as primeiras horas da noite são tão valiosas e como um horário de deitar mais precoce pode impactar diretamente a sua recuperação física e mental.
O que é o sono profundo e por que ele é tão vital para a saúde?

O sono não é um estado uniforme. Ele é organizado em ciclos, e a fase mais crucial para a recuperação física é o sono de ondas lentas, popularmente conhecido como sono profundo. Durante esta fase, a atividade cerebral diminui drasticamente, a respiração e a frequência cardíaca atingem seus níveis mais baixos, e os músculos ficam completamente relaxados.
É neste período que o corpo executa suas principais tarefas de “manutenção”. Conforme aponta a Sleep Foundation, uma organização de referência em saúde do sono, é durante o sono profundo que ocorrem a reparação e o crescimento dos tecidos, o fortalecimento do sistema imunológico, a consolidação de memórias e a “limpeza” de resíduos metabólicos do cérebro. Acordar sentindo-se fisicamente revigorado depende diretamente da quantidade de sono profundo que obtemos.
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Como o nosso relógio biológico (ritmo circadiano) “programa” o sono profundo?
O nosso corpo opera com base em um ritmo circadiano, um relógio interno de aproximadamente 24 horas que regula a liberação de hormônios e prepara o corpo para dormir e despertar. À medida que o dia termina e a exposição à luz diminui, nosso corpo começa a produzir melatonina e a temperatura corporal central começa a cair, sinalizando que o período ideal de sono está se aproximando.
A arquitetura do nosso sono é programada por este ritmo. O cérebro prioriza o sono profundo na primeira metade da noite. A maior parte do sono de ondas lentas que teremos em 24 horas ocorre nos primeiros 2 a 3 ciclos de sono, geralmente antes das 2h da manhã para a maioria das pessoas. À medida que a noite avança, o cérebro passa a priorizar o sono REM, importante para a consolidação emocional e o aprendizado.
Por que as primeiras horas de sono são as mais “valiosas”?
Ir para a cama mais cedo significa alinhar-se com a janela de oportunidade biológica em que o corpo está naturalmente programado para entrar em sono profundo de forma mais eficiente. Desperdiçar essas primeiras horas pode comprometer a recuperação, mesmo que a quantidade total de sono seja a mesma.
Pico da liberação do hormônio do crescimento (GH)
A maior parte da liberação diária do hormônio do crescimento, essencial para a reparação de células e tecidos, ocorre durante o sono profundo na primeira parte da noite.
“Limpeza” de resíduos cerebrais (sistema glinfático)
É durante o sono de ondas lentas que o sistema glinfático do cérebro está mais ativo, removendo toxinas e subprodutos metabólicos, como a beta-amiloide, associada à doença de Alzheimer.
Consolidação de memórias declarativas
O sono profundo é fundamental para consolidar o que aprendemos durante o dia, transferindo memórias de curto prazo para o armazenamento de longo prazo.
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Dormir tarde, mesmo que por muitas horas, compensa o sono profundo perdido?
Não. Este é um dos maiores mitos sobre o sono. Tentar “compensar” o sono no fim de semana dormindo até mais tarde pode ajudar a aliviar a sonolência geral, mas não recupera a arquitetura ideal do sono. O ritmo circadiano continua seu ciclo. Pela manhã, os níveis de cortisol começam a subir para nos preparar para o despertar, e a propensão para o sono profundo já diminuiu drasticamente.
Ao dormir tarde, você essencialmente “perde a janela” para o sono mais restaurador. Você pode até dormir por 8 ou 9 horas, mas a proporção de sono leve será muito maior, e a de sono profundo, menor. O resultado é acordar sentindo-se mentalmente cansado e fisicamente menos recuperado.
Qual a melhor estratégia para alinhar seu horário de dormir com a biologia?
A chave é a consistência. Tente manter o mesmo horário de deitar e levantar todos os dias, inclusive nos fins de semana, para ancorar firmemente seu ritmo circadiano. Se o seu horário atual é muito tardio, ajuste-o gradualmente. Tente ir para a cama 15 minutos mais cedo a cada noite até atingir um horário que permita de 7 a 9 horas de sono, conforme recomendado pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
Se, mesmo com um horário de sono regular e adequado, você continua a ter dificuldades para dormir, acorda frequentemente ou não se sente descansado, isso pode indicar um distúrbio do sono subjacente. Nesses casos, a consulta com um médico ou especialista em sono é indispensável para um diagnóstico e tratamento corretos.










