A dieta cetogênica é frequentemente discutida no debate público, muitas vezes cercada de promessas de emagrecimento rápido e desinformação. A perspectiva de nutricionistas e especialistas em saúde busca oferecer uma visão equilibrada e baseada em ciência sobre essa estratégia alimentar. É fundamental afirmar desde o início: a dieta cetogênica é uma intervenção metabólica intensa, com indicações terapêuticas específicas e riscos significativos, e nunca deve ser iniciada sem a avaliação e o acompanhamento contínuo de um médico e de um nutricionista.
O objetivo deste guia é desmistificar o que realmente acontece no corpo durante a cetose e explicar por que a orientação profissional não é apenas uma recomendação, mas uma condição indispensável para a segurança do indivíduo, segundo o consenso de especialistas.
Do ponto de vista nutricional, como a cetose realmente funciona?

O entendimento de como os alimentos afetam o metabolismo é a base da nutrição. Em uma dieta convencional, o principal combustível do corpo é a glicose, proveniente dos carboidratos. A dieta cetogênica propõe uma mudança radical: uma restrição severíssima de carboidratos (geralmente abaixo de 50 gramas por dia), uma ingestão muito alta de gorduras (70-80% do total de calorias) e uma quantidade moderada e controlada de proteínas.
Fisiologicamente, essa manipulação de macronutrientes força o corpo a entrar em cetose. Sem glicose disponível, o fígado começa a quebrar a gordura para produzir corpos cetônicos, que passam a ser usados como energia pelo cérebro e outros tecidos. É uma adaptação metabólica notável, mas que impõe um estresse significativo ao organismo e exige um planejamento alimentar impecável para não causar danos.
Por que a rápida perda de peso inicial é um ponto de preocupação para nutricionistas?
A rápida perda de peso na primeira semana é um dos maiores atrativos da dieta, mas para os profissionais de nutrição, é um sinal de alerta. Essa perda não é, em sua maior parte, de gordura. Os carboidratos são armazenados nos músculos e fígado como glicogênio, e cada grama de glicogênio retém de 3 a 4 gramas de água.
Quando as reservas de glicogênio são esgotadas pela restrição de carboidratos, o corpo elimina essa água retida. O que se vê na balança é primariamente perda de água, não de gordura. A preocupação dos especialistas é que isso pode criar uma falsa sensação de sucesso e mascarar os desafios de sustentabilidade e os riscos nutricionais que a dieta apresenta a longo prazo.

Quais são as principais “bandeiras vermelhas” nutricionais desta dieta?
A natureza extremamente restritiva da dieta cetogênica levanta várias preocupações nutricionais sérias para os profissionais da área.
Baixíssima ingestão de fibras
Ao eliminar ou restringir severamente frutas, grãos integrais, leguminosas e muitos vegetais, a ingestão de fibras despenca. As fibras são essenciais para a saúde intestinal, para a prevenção da constipação e para alimentar um microbioma saudável.
Risco de deficiência de micronutrientes
Muitas vitaminas e minerais, como a vitamina C, vitaminas do complexo B, magnésio e potássio, são abundantes nos alimentos ricos em carboidratos que são restringidos nesta dieta. Sem um planejamento e suplementação cuidadosos, o risco de deficiências é muito alto.
Dificuldade de adesão a longo prazo
O objetivo da nutrição é promover hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis. A dieta cetogênica é socialmente isolante e muito difícil de manter a longo prazo, o que frequentemente leva ao “efeito sanfona” e a uma relação conturbada com a comida.
Impacto na saúde cardiovascular a longo prazo
A alta ingestão de gorduras, especialmente se proveniente de fontes ricas em gordura saturada, é uma grande preocupação para a saúde do coração. O impacto nos níveis de colesterol LDL a longo prazo ainda é objeto de debate e deve ser monitorado de perto.
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Para quem esta dieta é absolutamente contraindicada?
Do ponto de vista clínico e nutricional, existem grupos para os quais esta dieta é considerada perigosa e, portanto, contraindicada.
- Indivíduos com doença renal crônica ou histórico de cálculos renais.
- Pessoas com histórico de pancreatite.
- Gestantes e lactantes.
- Pessoas com histórico de transtornos alimentares.
- Indivíduos com certas condições metabólicas que afetam o metabolismo de gorduras.
Instituições de renome, como a Harvard T.H. Chan School of Public Health, destacam os riscos e a natureza restritiva da dieta, reforçando a necessidade de cautela.
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Qual o consenso entre os nutricionistas sobre a dieta cetogênica?
O consenso entre os profissionais de nutrição aponta que a dieta cetogênica tem seu lugar como uma intervenção terapêutica para condições específicas, como a epilepsia refratária, e sempre sob estrita supervisão clínica.
Para a população geral que busca emagrecimento, ela não é considerada superior a outras abordagens dietéticas mais equilibradas e sustentáveis no longo prazo. A melhor dieta é aquela que cria um déficit calórico de forma saudável, que pode ser mantida e que não exclui grupos alimentares essenciais. A recomendação unânime entre os especialistas é clara: não faça a dieta cetogênica por conta própria. A orientação de um médico para avaliar a saúde e de um nutricionista para planejar a dieta de forma segura não é uma opção, é uma necessidade.








