O crescimento acelerado do número de faculdades de medicina no Brasil nos últimos anos tem gerado um descompasso significativo entre a quantidade de graduados e as vagas disponíveis para Residência Médica. Essa situação tem levado muitos recém-formados a buscar alternativas para se especializar, como os cursos de pós-graduação médica. No entanto, a proliferação desses cursos tem gerado preocupações quanto à qualidade e à real função que desempenham no mercado.
De acordo com a Demografia Médica no Brasil 2025, elaborada em parceria entre o Ministério da Saúde, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e a Associação Médica Brasileira (AMB), o número de vagas em cursos de medicina mais que dobrou na última década. Em 2024, a rede privada concentrou a maior parte dessas vagas, enquanto o aumento de vagas em residências médicas foi tímido. Essa discrepância tem resultado em um número crescente de formados sem acesso a uma formação especializada reconhecida.
Qual é o impacto dos cursos de especialização médica?
Os cursos de especialização médica surgem como uma alternativa para aqueles que não conseguem ingressar em programas de Residência Médica. Apesar de oferecerem capacitação profissional, esses cursos não conferem o título de especialista, que é oficialmente reconhecido apenas através da Residência Médica credenciada pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) ou pela aprovação em exames realizados por sociedades de especialidade filiadas à AMB.
Em 2024, o Brasil já contava com 2,1 mil cursos de especialização médica, quase metade do número total de programas de residência. Muitos desses cursos são oferecidos à distância ou em formato semipresencial, e a maioria é paga, com custos que podem chegar a R$ 30 mil. Essa situação levanta preocupações sobre a fiscalização e a qualidade desses programas, uma vez que muitos recém-formados podem ser levados a acreditar que estão obtendo uma especialização oficial.
Quais são as críticas e sugestões para regulamentação?

Representantes de entidades médicas têm expressado preocupações sobre a falta de fiscalização e a nomenclatura utilizada por esses cursos, que pode induzir a uma interpretação equivocada de que conferem o título de especialista. A Associação Paulista de Medicina (APM) e outras entidades defendem uma atuação mais rígida do governo federal para regular esse mercado e evitar a formação inadequada de profissionais.
Uma sugestão é que as sociedades de especialidade vinculadas à AMB passem a avaliar as propostas dos cursos, analisando a grade curricular e emitindo pareceres sobre a qualidade da formação oferecida. Além disso, especialistas defendem que uma nova regulamentação deve envolver instituições públicas ou da sociedade civil da área médica, estabelecendo critérios mínimos de qualidade, como corpo docente, projeto pedagógico e infraestrutura.
Quais são as medidas recentes para ampliar vagas de residência?
Em resposta à insuficiência de médicos especialistas no Sistema Único de Saúde (SUS), o governo brasileiro anunciou a abertura de três mil novas vagas para residências médicas, com foco em regiões desassistidas, além de outras 500 vagas para capacitação de médicos especialistas. Essa medida faz parte dos esforços para acelerar os resultados do programa de redução de filas para atendimentos especializados no SUS, denominado Agora Tem Especialistas.
Embora essas iniciativas representem um avanço, o desafio de equilibrar a oferta de formação médica com a demanda por especialistas no Brasil continua a ser uma questão complexa. A busca por soluções que garantam a qualidade da formação e a adequação às necessidades do sistema de saúde é essencial para o futuro da medicina no país.
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Dra. Anna Luísa Barbosa Fernandes
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