Em um mundo onde a conveniência muitas vezes dita o que comemos, os alimentos ultraprocessados ocupam um espaço cada vez maior em nossa dieta. No entanto, um corpo crescente de pesquisas científicas tem revelado uma conexão preocupante entre o alto consumo desses produtos e um aumento no risco de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade e estresse. É crucial afirmar desde o início: a ansiedade e o estresse crônico são condições de saúde complexas e multifatoriais, influenciadas por genética, ambiente e psicologia. A dieta é um fator de influência, não a única causa.
Este artigo irá explorar, com base em evidências científicas, os mecanismos pelos quais uma dieta rica em alimentos ultraprocessados pode impactar negativamente o nosso bem-estar emocional, ressaltando que a abordagem para a saúde mental deve ser sempre holística e orientada por um profissional.
Como os ultraprocessados afetam o “eixo intestino-cérebro”?

A comunicação entre o intestino e o cérebro é uma via de mão dupla constante e complexa, conhecida como eixo intestino-cérebro. O nosso intestino é o lar de trilhões de microrganismos (o microbioma), que desempenham um papel vital na produção de neurotransmissores como a serotonina (frequentemente chamada de “hormônio da felicidade”).
Os alimentos ultraprocessados, tipicamente pobres em fibras e ricos em aditivos como emulsificantes, podem causar um desequilíbrio nesse ecossistema, uma condição chamada disbiose. Conforme aponta a Harvard T.H. Chan School of Public Health, um microbioma desequilibrado pode levar a uma comunicação disfuncional com o cérebro, o que estudos têm associado a um aumento da ansiedade e a uma resposta alterada ao estresse.
Qual o papel da inflamação sistêmica nesse processo?
Os alimentos ultraprocessados são inerentemente pró-inflamatórios devido ao seu alto teor de açúcares refinados, gorduras de baixa qualidade e aditivos. O consumo regular desses produtos pode levar a um estado de inflamação crônica de baixo grau em todo o corpo, inclusive no cérebro (neuroinflamação).
A ciência tem estabelecido uma forte ligação entre a inflamação e a saúde mental. A inflamação crônica pode interferir na produção e na sinalização de neurotransmissores, e pesquisas publicadas em periódicos como JAMA Psychiatry associaram consistentemente marcadores inflamatórios elevados a um maior risco de desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão.
A “montanha-russa do açúcar” pode agravar os sintomas de ansiedade?

Sim. Muitos alimentos ultraprocessados causam picos e quedas bruscas nos níveis de açúcar no sangue. Essa instabilidade glicêmica pode mimetizar ou agravar os sintomas físicos da ansiedade. A queda repentina de açúcar no sangue (hipoglicemia reativa) pode provocar sintomas como:
- Palpitações cardíacas
- Tremores
- Sudorese
- Irritabilidade
- Sensação de pânico iminente
Para uma pessoa que já sofre de ansiedade, esses sintomas físicos podem ser facilmente confundidos com o início de um ataque de pânico, criando um ciclo vicioso de desconforto físico e angústia mental.
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Quais são as características dos alimentos ultraprocessados que os tornam problemáticos?
O problema com os ultraprocessados não é apenas um ingrediente, mas a combinação de múltiplas características que os diferenciam dos alimentos in natura ou minimamente processados.
Pobres em nutrientes essenciais
Eles carecem de fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes que são cruciais para a saúde cerebral e para a produção de neurotransmissores. Uma dieta baseada neles pode levar a deficiências nutricionais que afetam o humor.
Ricos em aditivos químicos
Aditivos como emulsificantes, adoçantes artificiais e conservantes, embora considerados seguros em pequenas quantidades, podem ter um impacto negativo no microbioma intestinal quando consumidos em excesso e de forma crônica.
Excesso de açúcares e gorduras de baixa qualidade
Como já mencionado, essa combinação é uma potente promotora de inflamação e instabilidade glicêmica.
Hiperpalatáveis
São projetados em laboratório para serem irresistivelmente saborosos, o que pode “sequestrar” o sistema de recompensa do cérebro de forma semelhante a substâncias viciantes, dificultando o controle do consumo.
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Mudar a dieta é suficiente para tratar a ansiedade e o estresse crônico?
A resposta é um enfático e inequívoco NÃO. Embora a adoção de uma dieta baseada em alimentos integrais e a redução de ultraprocessados seja uma estratégia de apoio poderosa para o bem-estar geral, ela não é um tratamento para transtornos de ansiedade ou estresse crônico.
Essas são condições de saúde mental sérias que exigem uma abordagem profissional. Conforme alerta o National Institute of Mental Health (NIMH), o tratamento eficaz geralmente envolve psicoterapia, e em alguns casos, medicação. Se você está lutando contra a ansiedade ou o estresse, o passo mais importante é procurar a ajuda de um médico, psicólogo ou psiquiatra. Eles podem oferecer um diagnóstico correto e um plano de tratamento seguro, no qual a melhoria da dieta, orientada por um nutricionista, pode ser integrada como uma valiosa ferramenta de apoio.








