A cúrcuma, com seu composto ativo, a curcumina, é uma das substâncias naturais mais estudadas por seu potente efeito anti-inflamatório. No entanto, sua eficácia é limitada por um grande desafio: a baixa absorção pelo corpo. É crucial e inegociável afirmar desde o início: a inflamação crônica é um processo ligado a doenças sérias e exige diagnóstico e tratamento médico. Nenhuma especiaria pode substituir o cuidado profissional.
Dito isso, a ciência descobriu que a combinação da cúrcuma com um ingrediente simples e comum, a pimenta-do-reino, pode aumentar drasticamente a eficácia da curcumina. Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, a ciência por trás dessa dupla poderosa e os cuidados indispensáveis para seu uso.
Qual o mecanismo anti-inflamatório da curcumina, o ativo da cúrcuma?

A curcumina é o polifenol que dá à cúrcuma sua cor dourada e suas propriedades medicinais. Estudos em nível molecular demonstraram que ela é capaz de interagir com múltiplas vias inflamatórias no corpo. A sua ação mais notável é a capacidade de bloquear o NF-kB (fator nuclear kappa B), uma molécula que funciona como um “interruptor mestre”, ativando os genes que produzem as proteínas da inflamação. Ao “desligar” esse interruptor, a curcumina ajuda a reduzir a cascata inflamatória que está na raiz de muitas doenças crônicas, como a artrite.
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Por que a curcumina sozinha tem uma eficácia limitada no corpo?
O principal obstáculo para a eficácia da curcumina é sua baixa biodisponibilidade. Quando consumimos cúrcuma, a maior parte da curcumina é rapidamente metabolizada no fígado e na parede intestinal e, em seguida, eliminada do corpo. Isso significa que apenas uma fração muito pequena do composto consegue atingir a corrente sanguínea e exercer seus efeitos anti-inflamatórios de forma sistêmica. Sem uma ajuda, a maior parte do seu poder é simplesmente desperdiçada.
Como a piperina da pimenta-preta “desbloqueia” o poder da curcumina?
É aqui que a pimenta-preta entra como uma parceira indispensável. O composto ativo da pimenta-preta, a piperina, tem a notável capacidade de inibir certas enzimas no fígado e no intestino que são responsáveis por quebrar a molécula de curcumina.
Ao inibir esse processo metabólico, a piperina permite que a curcumina passe intacta para a corrente sanguínea em concentrações muito mais altas. Estudos, incluindo pesquisas de referência publicadas no periódico Planta Medica, demonstraram que a coadministração de piperina pode aumentar a biodisponibilidade da curcumina em até 2000%. Essa sinergia transforma a curcumina de um composto de baixa eficácia em uma substância com um potencial terapêutico muito maior.
O que as pesquisas dizem sobre a combinação?
Graças a essa maior biodisponibilidade, os estudos que utilizam a combinação de curcumina com piperina têm mostrado resultados promissores, principalmente no manejo da dor e da inflamação associadas à osteoartrite.
Alívio da dor na osteoartrite
Diversos ensaios clínicos demonstraram que a suplementação com extratos de curcumina potencializados com piperina pode reduzir a dor e a rigidez articular de forma significativa.
Redução de marcadores inflamatórios sistêmicos
A prática regular pode ajudar a diminuir os níveis de marcadores inflamatórios no sangue, como a proteína C-reativa.
Ação antioxidante potencializada
A combinação também melhora a capacidade do corpo de utilizar o poder antioxidante da curcumina para combater o estresse oxidativo.
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O uso desta combinação com fins terapêuticos é seguro para todos?
Não. O uso culinário da cúrcuma com pimenta-preta é seguro para a maioria das pessoas. No entanto, o uso de suplementos concentrados com fins terapêuticos exige extrema cautela e orientação profissional.
- Interações Medicamentosas: Este é o maior risco. Tanto a curcumina quanto a piperina podem interagir com vários medicamentos, especialmente anticoagulantes (como a varfarina), antiplaquetários (como a aspirina) e medicamentos para diabetes, podendo aumentar o risco de sangramento ou de hipoglicemia.
- Efeitos Colaterais: Em altas doses, a combinação pode causar desconforto gastrointestinal.
- Contraindicações: Pessoas com problemas na vesícula biliar, distúrbios de coagulação ou que irão passar por cirurgias devem evitar a suplementação.
Conforme alerta o National Center for Complementary and Integrative Health (NCCIH), a automedicação com suplementos para tratar a inflamação é uma prática arriscada. A consulta com um médico para um diagnóstico correto e a orientação de um nutricionista são indispensáveis para determinar se esta combinação é segura e apropriada para você.








