O interesse em práticas de jejum tem crescido, mas é fundamental compreender as complexas alterações fisiológicas que ocorrem no corpo na ausência de alimentos. Passar 24 horas sem comer desencadeia uma cascata de respostas metabólicas para garantir que o corpo continue a ter energia para suas funções vitais. Esta é uma descrição informativa e não deve, de forma alguma, ser interpretada como uma recomendação ou guia.
A prática de qualquer forma de jejum prolongado pode apresentar riscos significativos e não é segura para todas as pessoas. As informações a seguir servem apenas para fins educacionais, e a decisão de realizar um jejum deve ser tomada exclusivamente sob a orientação e supervisão direta de um médico qualificado, que pode avaliar sua condição de saúde individual.
Como o corpo utiliza suas reservas de energia nas primeiras horas?

Nas primeiras horas após a última refeição, o corpo utiliza a glicose presente na corrente sanguínea como sua principal fonte de energia. Essa glicose vem dos carboidratos que foram consumidos. Quando essa fonte imediata se esgota, o corpo aciona seu primeiro plano de reserva: o glicogênio.
O glicogênio é uma forma de glicose armazenada no fígado e nos músculos. O fígado libera seu glicogênio na corrente sanguínea para manter os níveis de açúcar no sangue estáveis e fornecer energia para todo o corpo, especialmente para o cérebro. Este processo, conhecido como glicogenólise, é a principal fonte de energia do corpo por aproximadamente 12 a 18 horas de jejum.
O que é a cetose e quando ela começa a ocorrer?
Após cerca de 18 a 24 horas, os estoques de glicogênio do fígado se esgotam quase completamente. Sem carboidratos para usar como combustível, o corpo é forçado a realizar uma importante mudança metabólica: ele começa a quebrar a gordura armazenada para obter energia. Este estado é conhecido como cetose.
Nesse processo, o fígado converte os ácidos graxos em moléculas de energia chamadas corpos cetônicos. Essas cetonas são então liberadas na corrente sanguínea e podem ser usadas como combustível pela maioria das células do corpo, incluindo as do cérebro. A transição para a cetose é um mecanismo de sobrevivência fundamental que permite ao corpo funcionar por períodos mais longos sem a ingestão de alimentos.
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O que é autofagia e qual sua relação com o jejum?
A autofagia, que significa “comer a si mesmo”, é um processo de limpeza e reciclagem celular. Durante a autofagia, as células desmontam componentes velhos, danificados ou disfuncionais — como proteínas malformadas e organelas gastas — e reciclam seus componentes básicos. É um mecanismo de manutenção vital para a saúde celular.
Pesquisas, incluindo trabalhos que renderam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2016, mostraram que o estresse adaptativo, como o jejum, pode induzir a autofagia. Embora seja um processo biológico fascinante, é importante não o interpretar de forma simplista como um “detox”, mas sim como uma resposta celular complexa à ausência de nutrientes.
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Quais são os potenciais riscos e efeitos colaterais de um jejum de 24 horas?

A privação de alimentos por 24 horas não é isenta de riscos e pode causar uma série de efeitos colaterais indesejáveis e, em alguns casos, perigosos. É crucial estar ciente desses potenciais problemas antes de sequer considerar tal prática.
Tontura e dores de cabeça
A queda nos níveis de açúcar no sangue (hipoglicemia) e a desidratação podem facilmente levar a tonturas, vertigens, dores de cabeça e dificuldade de concentração, comprometendo a capacidade de realizar tarefas diárias com segurança.
Risco de desidratação
Embora o jejum seja de comida, muitas pessoas esquecem de manter uma ingestão adequada de água. A desidratação pode ocorrer rapidamente, levando a um desequilíbrio de eletrólitos (como sódio e potássio), que é perigoso para a função cardíaca e muscular.
Alterações de humor e irritabilidade
A falta de energia e a queda do açúcar no sangue podem ter um impacto significativo no humor, causando irritabilidade, ansiedade e dificuldade para lidar com o estresse.
Perda de massa muscular
Se o jejum for muito prolongado ou se não houver um reabastecimento adequado de proteínas, o corpo pode começar a quebrar tecido muscular para obter energia, um processo chamado de catabolismo.
Por que a supervisão de um profissional de saúde é absolutamente indispensável?
É fundamental reforçar: jejuar por 24 horas é uma intervenção fisiológica intensa, não uma simples escolha de dieta. Para muitas pessoas, essa prática é contraindicada e pode ser extremamente perigosa. Indivíduos com diabetes, problemas renais, histórico de transtornos alimentares, mulheres grávidas ou lactantes e pessoas que tomam certos medicamentos jamais devem jejuar sem acompanhamento.
Apenas um médico pode realizar uma avaliação completa da sua saúde para determinar se o jejum é seguro para você. Além disso, um nutricionista pode fornecer orientações cruciais sobre como manter a hidratação e como reintroduzir os alimentos de forma segura após o período de jejum para evitar complicações digestivas. Tentar essa prática por conta própria é assumir um risco desnecessário e potencialmente grave para a sua saúde.








