O ciclo vicioso de noites mal dormidas que levam a dias de cansaço e falta de disposição é uma realidade para muitas pessoas. É crucial e inegociável afirmar desde o início: a fadiga persistente e a insônia são sintomas que exigem uma avaliação médica para descartar condições de saúde subjacentes. Nenhuma erva ou suplemento pode ou deve substituir um diagnóstico e tratamento profissional.
Dito isso, a ciência tem investigado uma classe de plantas conhecidas como adaptógenos, que atuam de forma a modular a resposta do corpo ao estresse. Entre elas, a ashwagandha (Withania somnifera), uma erva central na medicina ayurvédica, tem ganhado destaque por seu potencial de atuar nesse paradoxo: ajudar a acalmar para dormir e, ao mesmo tempo, a aumentar a resiliência para ter mais energia durante o dia.
O que é um “adaptógeno” e como ele atua no corpo?

Um adaptógeno não funciona como um estimulante (como a cafeína) ou um sedativo (como a camomila). Em vez de empurrar o corpo em uma única direção, acredita-se que ele ajude o organismo a se adaptar ao estresse, seja ele físico, químico ou biológico, promovendo o equilíbrio ou a homeostase.
O principal alvo dos adaptógenos é o eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA), o centro de comando da nossa resposta ao estresse. A teoria é que os adaptógenos ajudam a regular a atividade desse eixo, impedindo uma produção excessiva ou insuficiente dos hormônios do estresse, como o cortisol.
Como a ashwagandha pode influenciar a resposta ao estresse e o cortisol?

O principal mecanismo de ação da ashwagandha é atribuído aos seus compostos bioativos, os witanolídeos. A pesquisa científica, embora ainda em desenvolvimento, sugere fortemente que esses compostos podem ajudar a modular o já mencionado eixo HPA.
Estudos clínicos, como uma revisão sistemática publicada no Journal of Ethnopharmacology, encontraram que a suplementação com extrato de ashwagandha foi eficaz na redução dos níveis de cortisol, o principal hormônio do estresse. Em um estado de estresse crônico, os níveis de cortisol podem ficar persistentemente elevados, o que leva a uma sensação de “alerta” constante, ansiedade e dificuldade para relaxar. Ao ajudar a normalizar o cortisol, a ashwagandha pode tirar o corpo desse estado de emergência.
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Qual a conexão entre a redução do estresse e a melhora do sono e da energia?
A conexão é direta. O cortisol elevado à noite é um dos principais inimigos do sono. Ele suprime a produção de melatonina e mantém o cérebro em um estado de alerta, dificultando o adormecer e a permanência no sono profundo. Ao ajudar a diminuir o cortisol noturno, a ashwagandha pode facilitar a transição do corpo para o estado de relaxamento necessário para um sono reparador.
A melhora da energia durante o dia é uma consequência dessa dupla ação. Primeiramente, uma noite de sono de melhor qualidade é, por si só, a ferramenta mais poderosa para restaurar os níveis de energia. Em segundo lugar, ao modular a resposta ao estresse durante o dia, a ashwagandha pode aumentar a resiliência do corpo, fazendo com que os eventos estressantes do cotidiano tenham um impacto físico e mental menos desgastante.
Quais são os potenciais benefícios da ashwagandha em estudo?
A pesquisa sobre a ashwagandha é vasta e explora múltiplos benefícios potenciais para a saúde.
Redução do estresse e da ansiedade
Este é o benefício mais bem documentado em estudos clínicos em humanos.
Melhora da qualidade do sono
Especialmente em pessoas com insônia relacionada ao estresse.
Aumento da resistência física (energia)
Alguns estudos em atletas mostraram melhora na resistência e na força.
Potencial melhora da função cognitiva
Pesquisas preliminares sugerem benefícios para a memória e o foco.
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A suplementação com ashwagandha é segura e livre de riscos?
Não. “Natural” não significa inócuo, e a ashwagandha é uma erva potente com contraindicações e interações importantes. Conforme alerta o Memorial Sloan Kettering Cancer Center, uma fonte de referência baseada em evidências:
- Contraindicações: É contraindicada durante a gravidez, pois pode induzir aborto. Pessoas com doenças autoimunes (como artrite reumatoide ou lúpus) devem evitá-la, pois pode estimular o sistema imunológico. Também exige cautela extrema em pessoas com doenças da tireoide, pois pode aumentar os níveis de hormônios tireoidianos.
- Interações Medicamentosas: Pode interagir e potencializar o efeito de sedativos, medicamentos para a tireoide e imunossupressores.
A automedicação com um adaptógeno potente como a ashwagandha é uma prática de alto risco. A consulta com um médico é indispensável para avaliar sua condição de saúde e garantir que não há contraindicações. Com base nisso, um nutricionista ou médico pode orientar sobre o uso seguro, a dose correta e a qualidade do suplemento.








