A busca por soluções naturais para a saúde digestiva frequentemente leva à exploração de chás e infusões tradicionais. O chá feito com as folhas da amoreira (Morus alba) é um desses exemplos, popularmente associado a benefícios para o intestino. É crucial e inegociável afirmar desde o início: alterações intestinais persistentes, como diarreia crônica ou constipação, exigem um diagnóstico e tratamento médico. Nenhuma erva pode substituir o cuidado profissional.
A ciência tem investigado os compostos presentes nas folhas de amora, e embora existam mecanismos plausíveis para alguns efeitos, as evidências para a “regulação do intestino” no dia a dia ainda são limitadas. Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, o que se sabe sobre o chá de amora e a saúde digestiva.
Como os compostos da folha de amora poderiam atuar no intestino?
As folhas de amora contêm diversos compostos bioativos, com dois grupos principais sendo o foco das pesquisas relacionadas ao sistema digestivo e metabólico:
- Taninos: São compostos polifenólicos conhecidos por suas propriedades adstringentes. Na medicina tradicional, chás ricos em taninos, como o de folha de amora, são frequentemente utilizados para ajudar a controlar quadros leves e agudos de diarreia. A adstringência ajuda a “secar” o excesso de fluidos no intestino e a formar uma camada protetora na mucosa intestinal.
- DNJ (1-deoxinojirimicina): Este é um composto mais estudado pelo seu potencial impacto no metabolismo. O DNJ é um inibidor da alfa-glicosidase, uma enzima no intestino responsável por quebrar carboidratos complexos em açúcares simples para absorção. Ao inibir essa enzima, o DNJ pode reduzir a velocidade e a quantidade de açúcar absorvido após uma refeição rica em carboidratos.

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O que a ciência realmente diz sobre “regular o intestino”?
É aqui que a distinção é fundamental. A ação adstringente dos taninos pode ser útil em situações pontuais de diarreia leve. O efeito do DNJ na absorção de carboidratos é interessante do ponto de vista metabólico (e tem sido estudado no contexto do controle glicêmico).
No entanto, faltam ensaios clínicos robustos em humanos que comprovem que o consumo regular de chá de folha de amora “regula o intestino” no sentido de promover a saúde intestinal geral ou tratar a constipação no dia a dia. A maioria dos benefícios para a regularidade intestinal vem da ingestão adequada de fibras e líquidos.
Qual a orientação prática para a saúde intestinal?
A base para um intestino saudável e regular reside em hábitos de vida consistentes, e não no consumo de um chá específico. As estratégias mais eficazes, segundo o consenso de especialistas em gastroenterologia, são:
- Hidratação Adequada: A água é fundamental para a formação de fezes macias e para o bom funcionamento das fibras.
- Dieta Rica em Fibras: Consumir uma variedade de frutas, vegetais, leguminosas e grãos integrais é a melhor forma de garantir a ingestão de fibras solúveis e insolúveis, que são essenciais para a motilidade intestinal e para a saúde do microbioma.
- Atividade Física Regular: O movimento estimula o peristaltismo intestinal.
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Quais os cuidados e contraindicações no uso do chá de amora?
“Natural” não significa isento de riscos. O consumo regular de chá de amora exige cautela.
- Efeito Hipoglicemiante: Devido ao DNJ, que reduz a absorção de açúcar, o chá pode potencializar o efeito de medicamentos para diabetes, aumentando o risco de hipoglicemia (queda perigosa do açúcar no sangue). Diabéticos sob medicação só devem consumir com orientação médica.
- Gravidez e Amamentação: A segurança não foi estabelecida, e o consumo não é recomendado.
- Interações Medicamentosas: Além dos medicamentos para diabetes, são necessárias mais pesquisas sobre outras possíveis interações.
Se você sofre de problemas digestivos crônicos, a única abordagem segura é a consulta com um médico gastroenterologista para um diagnóstico correto. Com base nisso, um nutricionista pode orientar sobre as melhores estratégias alimentares para a sua condição.










