Os pensamentos acelerados, aquela sensação de que a mente está em um carrossel desgovernado do qual não conseguimos descer, são uma experiência comum e angustiante em um mundo cheio de estímulos e pressões. Esse ciclo pode ser um sintoma de estresse ou ansiedade, minando nossa energia e dificultando a concentração e o descanso.
Felizmente, existem estratégias práticas e eficazes que podem ajudar a “puxar o freio de mão” dessa atividade mental intensa. Este guia educativo oferece técnicas para acalmar a mente e retomar o controle. É fundamental entender que estas são ferramentas de apoio e não substituem, em hipótese alguma, a avaliação e o acompanhamento de um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra.
Como ‘puxar o freio de mão’ quando os pensamentos disparam?
Quando a mente está no futuro (planejando, se preocupando) ou no passado (ruminando), ela perde o contato com o presente. A forma mais rápida de quebrar o ciclo de pensamentos acelerados é através de técnicas de ancoragem (ou grounding), que forçam o cérebro a se conectar com o momento atual através dos cinco sentidos.

Uma das técnicas mais simples e eficazes é a “5-4-3-2-1”. Onde quer que você esteja, pare e identifique mentalmente:
- 5 coisas que você pode ver: Observe cinco objetos ao seu redor, notando cores, formas e detalhes.
- 4 coisas que você pode sentir: Sinta a textura da sua roupa, a superfície da cadeira, a temperatura do ar na sua pele, o peso dos seus pés no chão.
- 3 coisas que você pode ouvir: Preste atenção a três sons distintos, como o barulho do teclado, o canto de um pássaro ou o zumbido do ar-condicionado.
- 2 coisas que você pode cheirar: Identifique dois aromas no ambiente, como o cheiro do café ou de um perfume.
- 1 coisa que você pode saborear: Note o gosto que está na sua boca ou tome um gole de água e sinta o seu sabor.
É possível observar os pensamentos sem ser arrastado por eles?
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) nos ensina que não somos nossos pensamentos. Eles são apenas eventos mentais passageiros, como nuvens no céu ou carros passando na rua. A armadilha não é ter o pensamento, mas sim se fundir com ele, acreditando que ele é uma verdade absoluta e urgente.
A prática da desfusão cognitiva ajuda a criar uma distância saudável. Quando um pensamento ansioso surgir, em vez de lutar contra ele, tente dizer para si mesmo: “Estou tendo o pensamento de que algo ruim vai acontecer”. Essa pequena mudança de linguagem o coloca na posição de observador, e não de vítima do pensamento. Você pode até dar um nome para sua “mente tagarela” (ex: “Lá vem a Dona Preocupação de novo”) para tratar o fluxo de pensamentos com mais leveza e menos seriedade.
De que forma colocar os pensamentos no papel pode acalmar a mente?
A nossa mente tem uma capacidade limitada de processar informações. Quando está cheia de pensamentos circulares, não há espaço para mais nada. O ato de escrever, conhecido como brain dump (despejo cerebral), funciona como uma válvula de escape. Ele transfere o caos da sua cabeça para um meio externo e concreto, como um caderno.
Reserve de 5 a 10 minutos e escreva livremente tudo o que vier à mente, sem se preocupar com gramática, coerência ou caligrafia. Apenas esvazie o conteúdo mental. Muitas vezes, ao ver as preocupações no papel, elas parecem menores e mais gerenciáveis. Você também pode identificar padrões e preocupações recorrentes que talvez não percebesse antes.
Qual o papel do corpo e da rotina na velocidade da nossa mente?
A mente e o corpo estão intrinsecamente ligados. Um corpo estressado ou cansado é um terreno fértil para pensamentos acelerados. Cuidar das suas necessidades fisiológicas básicas é um passo fundamental para acalmar a mente.
Foque em três pilares: sono de qualidade, alimentação equilibrada e movimento. A privação de sono é um dos maiores gatilhos para a ansiedade. A atividade física regular, mesmo uma caminhada leve, ajuda a liberar o excesso de adrenalina e a produzir endorfinas. Além disso, observe seu consumo de estimulantes como a cafeína, que podem intensificar a sensação de agitação mental.
Como identificar os gatilhos que iniciam o ciclo de pensamentos?
Muitas vezes, o ciclo de pensamentos acelerados é disparado por situações, pessoas ou até mesmo horários específicos do dia (como a noite, ao deitar). Desenvolver a autoconsciência para identificar seus gatilhos pessoais é uma estratégia proativa para evitar que o ciclo comece.
Mantenha um pequeno diário por uma semana. Sempre que notar sua mente acelerando, anote o que estava fazendo, onde estava, com quem e o que estava sentindo. Com o tempo, você pode perceber um padrão, como “minha mente dispara sempre que leio notícias sobre finanças” ou “depois de conversar com determinada pessoa”. Ao conhecer seus gatilhos, você pode se preparar melhor para essas situações ou, se possível, evitá-las.
Essas estratégias substituem a ajuda de um terapeuta?
Não, de forma alguma. As técnicas apresentadas neste guia são ferramentas de primeiros socorros e de autogerenciamento extremamente úteis para lidar com episódios de pensamentos acelerados no dia a dia. Elas podem aumentar sua qualidade de vida e sua capacidade de lidar com o estresse.
Contudo, se os pensamentos acelerados são persistentes, incontroláveis e estão causando prejuízos significativos ao seu bem-estar, trabalho ou relacionamentos, isso pode ser um sintoma de um transtorno de ansiedade ou outra condição de saúde mental. Nesses casos, procurar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra é o passo mais importante e eficaz. A terapia oferece um espaço seguro para explorar as causas profundas desses pensamentos e desenvolver estratégias de enfrentamento personalizadas.








