Pandemia

Covid-19: mais brasilienses fizeram teste em 2021 do que em todo ano passado

Em 2021, o Lacen-DF elevou a média mensal de exames RT-PCR realizados para detectar a infecção por covid-19. Entre janeiro e março, foram realizadas 232 mil testagens, contra 166 mil em 2020. No entanto, para especialistas, números não indicam patamar ideal

Samara Schwingel
postado em 10/04/2021 06:00
Em águas Claras, filas para testagem para o exame do Coronavírus -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Em águas Claras, filas para testagem para o exame do Coronavírus - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Nos primeiros três meses de 2021, o Distrito Federal aumentou a média de testes para a covid-19, quando comparado com o ano anterior. Foram 166 mil durante os 10 meses de pandemia em 2020, e 232 mil entre janeiro e março deste ano, o que representa uma média de 16,6 mil e 21,95 mil testes por mês, respectivamente. Os dados são da Sala de Situação da Secretaria de Saúde e referentes aos testes RT-PCR recebidos pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF). Porém, para especialistas, os números não estão em um patamar ideal.

Apenas em março deste ano, foram 30,8 mil testes. O RT-PCR é o teste realizado pelo Lacen-DF para detectar a presença da infecção pelo vírus no organismo dos pacientes (veja Entenda os exames). De acordo com o coordenador de Atenção à Saúde Primária, da Secretaria de Saúde do DF, Fernando Damasceno, os testes são um apoio para a conduta terapêutica. “O que importa mais é como a pessoa está se sentindo. Nós não testamos assintomáticos, mas claro que, se a pessoa estiver se sentindo mal ela deve informar aos médicos”, explicou.

Fernando afirma que a secretaria busca integrar a testagem ao isolamento dos pacientes. “O ideal é a gente conseguir afastar o infectado. Estamos aumentando a nossa capacidade de testes, mas essa medida sozinha não é tão eficaz”, comenta. Ele diz que todos os casos detectados e inseridos no boletim epidemiológico divulgado diariamente pelo GDF são de pessoas testadas, e que, na verdade, mais moradores da capital devem ter tido contato com o vírus. “Temos a métrica que há pacientes com poucos sintomas ou assintomáticos”, completa.

O professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Sanchez explica que a testagem é importante para que os gestores saibam qual o real panorama do vírus no DF. “Com as informações corretas, o governo pode ajustar as medidas de flexibilização ou restrição ideais para se combater o avanço da covid-19”, afirma. Porém, o professor comenta que o aumento na média de testagens não indica que o DF esteja em um patamar ideal.

Ele explica que muitos casos de assintomáticos ou com sintomas leves não chegam a ser testados. “A testagem precisa ser ampliada, e a forma mais ideal de se fazer isso é por meio da busca ativa. Ou seja, os profissionais vão até a casa das pessoas, realizam os testes, identificam os casos cedo, rastreiam os contatos e, assim, quebram a cadeia de transmissão”, esclarece. Porém, Mauro ressalta que é preciso ter estoque de testes e mão de obra especializada.

Em dezembro do ano passado, a Secretaria de Saúde chegou a instaurar um inquérito epidemiológico de busca ativa de testes. O projeto tinha o objetivo de analisar a incidência dos casos de covid-19 no DF na época, e durou cerca de 18 dias. Ao todo, foram sorteadas 230 pessoas de cada uma das 34 Regiões Administrativas do DF para participar dos testes. Segundo a pasta, como a realidade da pandemia atualmente não é a mesma, uma vez que os casos apresentam aumento constante, e o índice de transmissão é diferente, ainda não há uma perspectiva de um novo inquérito do tipo a ser realizado.

Cepas

Mauro Sanchez também explica que a testagem, combinada a outras frentes de combate, pode evitar o aparecimento de novas cepas da covid-19. “Sem a real dimensão de como está o comportamento do vírus no DF, as autoridades podem tomar decisões precipitadas e, assim, acabarem prolongando a crise. E, quanto mais tempo de pandemia, mais o vírus se multiplica e sofre mutações e, com isso, ele pode escapar do sistema imunológico e até da efetividade das vacinas”, comenta.

Até o momento, de acordo com a Secretaria de Saúde, cinco variações do Sars-Cov 2 foram identificadas em amostras genéticas de moradores da capital federal. São elas: P1, encontrada inicialmente em Manaus; P2, identificada no Rio de Janeiro; B.1.1.28, uma das primeiras cepas a circular no DF; B.1.1.143, outra linhagem também já identificada em diversos estados; e a B.1.1.7, a cepa britânica da doença.

Reinfecções

Até o momento, a Secretaria de Saúde do DF encaminhou sete amostras ao Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, que se enquadram como possíveis reinfecções por covid-19 ocorridas no DF. No entanto, não houve nenhuma devolutiva pelo Instituto com qualquer caso positivo para reinfecção. Segundo a pasta, para ser considerado uma reinfecção, de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, é preciso que o paciente tenha dois resultados positivos de RT-PCR em tempo real para o vírus SARS-CoV-2, com intervalo igual ou superior a 90 dias entre os dois episódios.

A infectologista Ana Helena Germoglio acredita que há mais casos de reinfecção no DF, mas afirma que a logística necessária para formalizar a confirmação de reinfecção não é simples. “Não é nem uma dificuldade de ter casos. O que a gente precisaria é que os laboratórios tivessem armazenados o primeiro e o segundo RT-PCR e, depois, confirmassem se as infecções foram de uma mesma cepa”, diz.

Para a especialista, este cenário ideal de combate é difícil de ser alcançado. “Os laboratórios não costumam ter a capacidade de armazenar tantos testes. Além disso, o sequenciamento genético, método utilizado para identificar a variação do vírus, é bem complicado e não é todo laboratório que faz”, complementa. Por fim, Ana reforça que a testagem é importante para o combate ao vírus. “De qualquer forma, quanto mais a gente testar mais a gente identifica a infecção e mais rápido iniciamos o isolamento e o tratamento do paciente, diminuindo a transmissibilidade da doença”, finaliza.

 

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Polícia investiga fura-fila no Entorno

 (crédito: Divulgação/PCGO)
crédito: Divulgação/PCGO


Duas funcionárias da Secretaria Municipal de Saúde de Luziânia (GO) são alvos de uma operação da Polícia Civil de Goiás. Segundo investigações, elas teriam montado um esquema para facilitar que pessoas furassem a fila da vacinação contra a covid-19. Os investigadores acreditam que, pelo menos, 17 pessoas receberam doses dos imunizantes de forma irregular por meio do esquema. As servidoras foram exoneradas dos cargos.

Ontem, o Grupo Especial de Repressão a Crimes Patrimoniais (Gepatri) de Luziânia deflagrou a Operação Cura. Com autorização da Justiça, os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão nas residências de uma servidora da parte administrativa e de outra que trabalhava aplicando as doses. Foram apreendidos celulares e uma lista com nomes de pessoas.

Durante interrogatório, uma delas confessou e contou como funcionava o esquema. Em Luziânia, as pessoas podem se cadastrar para receber as doses remanescentes das vacinas, conhecidas como xepa. As funcionárias escolhiam pessoas a serem vacinadas com as doses que sobravam ao fim do expediente, não seguindo a lista de cadastro reserva e não cumprindo os requisitos para receberem as vacinas.

“Foram apreendidos objetos que vão nos ajudar a esclarecer os motivos pelos quais essas profissionais de saúde realizaram essas irregularidades. As investigações seguem para identificar possíveis outras pessoas envolvidas”, explicou o delegado Carlos Alfama. Havia duas formas de atuação. Uma, as doses eram aplicadas em pacientes fora do atual público-alvo, mas registradas no sistema da unidade de saúde. Outra, a vacina era irregularmente aplicada, mas não registrada no sistema.

Os nomes das investigadas não foram divulgados, assim como os de outros possíveis envolvidos. Caso sejam condenadas, elas poderão receber pena de mais de 13 anos de prisão, pelos crimes de peculato-desvio e de infração de medida sanitária preventiva majorada. Os indivíduos que foram vacinados irregularmente também podem responder pelo crime de associação criminosa, caso seja comprovado que sabiam que estavam sendo favorecidos indevidamente ao serem vacinados mesmo sem preencher os requisitos estabelecidos pela campanha de vacinação naquele momento.

A Secretaria Municipal de Saúde e a Prefeitura de Luziânia informam que estão prestando todo o apoio à Polícia Civil na investigação das duas profissionais de saúde envolvidas no esquema. Segundo nota da pasta, as mulheres não eram servidoras efetivas e foram descredenciadas do quadro de prestadores de serviços assim que o caso foi descoberto. A secretaria ainda “lamenta profundamente o ato praticado e toma todas as providências para que o suposto crime não volte a ocorrer”.

 

 

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